Sábado, 14 de janeiro de 2017
MARINA DIAS
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Parecia um ato falho. Após vinte minutos de
discurso nesta quinta-feira (12) em Brasília, o ex-presidente Luiz Inácio Lula
da Silva se chamou de "candidato" para, em seguida, corrigir-se e
voltar ao costumeiro condicional: "Se cuidem, porque se eu voltar para ser
candidato a presidente da República é para fazer mais do que fizemos".
Lula
elencava realizações de seu governo durante discurso no 33º Congresso Nacional
da CNTE (Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação) quando deixou os
óculos escaparem das mãos ao tentar alcançá-los para consultar alguns dados. E
brincou: "Esse país já fez tanta coisa que o candidato não consegue
segurar os óculos".
Entre
ataques ao governo do presidente Michel Temer e a defesa do que diz ser o
legado petista, o ex-presidente disse que é preciso "ter consciência"
de que o PT "está perdendo" e fez uma rápida análise sobre a crise
carcerária pela qual o país está passando. Para ele, o caos nos presídios do
Norte, que matou 99 pessoas em uma semana, é fruto do que foi
"plantado".
"A
gente está colhendo o que foi plantado há muito tempo. Vocês ficam revoltados
porque um jovem de 25 anos foi preso? Quem é o culpado pelo jovem preso? O que
deram de oportunidade quando ele tinha sete ou nove anos? Se eu não dou
educação, oportunidade para trabalhar, essa pessoa vai fazer o que na
vida?", questionou.
Segundo
Lula, a política carcerária no Brasil serve para "piorar a vida" do
preso. "O cara que roubou uma galinha, sai pior [da cadeia]", disse o
petista, citando dados divulgados pela presidente do STF (Supremo Tribunal
Federal), Cármen Lúcia, sobre o custo anual de um estudante da rede básica de
ensino ser "treze vezes menor" que o custo por ano com um
presidiário.
O
ex-presidente, mais uma vez, pediu eleições diretas ainda em 2017 e disse que o
presidente da República só terá credibilidade se for eleito pelo povo.
"Precisamos
ter consciência de que estamos perdendo e, para tentar recuperar esse país, é
preciso que tenha alguém com credibilidade. E só terá credibilidade alguém
eleito, não alguém que chegou ao poder pela porta dos fundos. Todo mundo pode
ser presidente, mas quer ser presidente vai disputar eleição", afirmou.
ESTRATÉGIA
A
presença de Lula no evento faz parte de uma estratégia do ex-presidente de
percorrer o país para tentar reconstruir sua própria imagem e a de seu partido,
o PT, muito desgastadas pelas acusações de corrupção.
Lula é
réu em cinco ações penais, três delas da Operação Lava Jato.
Nos
bastidores, dirigentes petistas pressionam para que Lula se lance candidato à
Presidência antes de uma possível condenação pela Justiça, que o tornaria
inelegível.
O
ex-presidente, por sua vez, ainda reluta em oficializar sua disposição para
concorrer ao Planalto, mas permitirá que isso seja feito, mesmo que
informalmente, por movimentos sociais e sindicais durante eventos pelo país.
O
presidente da CUT (Central Única dos Trabalhadores), por exemplo, iniciou seu
discurso no congresso de educação em Brasília pedindo eleições diretas ainda em
2017. Em seguida, brincou com o jingle que ficou famoso durante a campanhas
presidencial de Lula em 1989: "É Lula lá".
O
discurso oficial é o de que o petista pretende reconectar a legenda com sua
base histórica, alijada do poder principalmente durante o governo Dilma
Rousseff.
Na
quarta-feira (11), em Salvador, Lula defendeu a antecipação das eleições de
2018 para outubro deste ano e afirmou que o PT "não deve ter
vergonha" de dizer que quer um novo pleito para escolher o presidente da
República. Ele disse que "se necessário" voltaria a disputar o
Planalto.
PROTESTO
Logo
nos primeiros segundos de seu discurso, Lula foi alvo de protestos de um
pequeno grupo de representantes da CPS (Central Sindical e Popular), que
gritava "fora, todos", empunhando bandeiras e adesivos com os mesmos
dizeres. O ex-presidente, porém, não parou de falar.
Representante
da entidade, a professora Janaína Rodrigues classificou como
"antidemocrática" a postura da CNTE que, segundo ela, convidou para
discursar "um ex-presidente que não colaborou com a educação do
país".
No fim
de sua fala, Lula chamou a manifestação de "gesto democrático" e
disse que "se essas pessoas acompanhassem a história, iam saber os
equívocos que estão cometendo".
Folhapress