Segunda-feira, 11 de fevereiro de 2017
O hacker
que clonou o celular da primeira-dama Marcela Temer ameaçou revelar uma
conversa dela com o irmão sobre um marqueteiro do então vice-presidente Michel
Temer (PMDB). O caso de clonagem chegou a ser divulgado pelo jornal “Folha de
S.Paulo”, mas, na ocasião, foi mencionado que o hacker estava chantageando
Marcela para não divulgar fotos íntimas.
O hacker já foi julgado e
condenado em primeira instância a 5 anos, 10 meses e 25 dias de prisão em
regime fechado por estelionato e extorsão. Cabe recurso.
O Jornal Hoje, da TV Globo, também teve acesso ao processo
de investigação da Polícia Civil e da denúncia feita pelo Ministério Público de
São Paulo. Ao todo, são 1.109 páginas que detalham como o hacker conseguiu ter
acesso a arquivos pessoais e íntimos da mulher de Temer.
Em depoimento, o hacker disse que
conseguiu pegar os dados de Marcela após comprar um arquivo de computador no
bairro de Santa Ifigênia, no Centro de São Paulo. Ele entrou nos arquivos
remotos, copiou todas as senhas, fotos e áudios do celular de Marcela. E,
depois, o hacker passou a chantageá-la.
O jornal “Folha de S.Paulo”
publicou, em abril de 2016, que o hacker mandou uma mensagem para Marcela
cobrando R$ 300 mil para não divulgar a foto dela com o irmão.
“Achei que esse vídeo joga o nome
de vosso marido na lama quando você disse que ele tem um marqueteiro que faz a
parte baixo nível. Pensei em ganhar algo com isso”, diz a mensagem enviada para
Marcela.
Marcela responde: “Quer negociar
comigo? Isso é montagem. E aí, vai fazer o quê? Quer me encontrar? ”, disse.
O hacker responde: “Sabe que não
é montagem, não tem corte”. E Marcela escreve: “Bandido, criminoso, minha vida
é limpa e basta. Montagem, montagem, não tenho medo de você”, afirmou.
A Folha apurou que o marqueteiro
a que o hacker se refere é Arlon Viana, atual assessor do presidente Michel
Temer.
A Polícia
Civil de São Paulo, que era comandada pelo hoje ministro da Justiça licenciado,
Alexandre de Morais, criou uma força-tarefa para prender o hacker.
Nenhum arquivo furtado do celular da primeira-dama faz parte do processo, que
antes estava em segredo de Justiça, mas agora se tornou público. O aúdio da
conversa de Marcela com o irmão desapareceu do processo.
Em nota, a assessoria de imprensa
da Presidência da República disse que a expressão “jogar na lama” o nome de
temer está fora de contexto e que a primeira-dama não vai comentar o caso. A
nota também afirma que a Lei Carolina Dieckman preserva os direitos de
privacidade das pessoas que tenham seu sigilo violado no meio digital.
A primeira-dama Marcela Temer durante solenidade em dezembro de 2016 no Palácio do Planalto (Foto: Beto Barata / PR)
Condenado
Silvonei José de Jesus Souza
pediu R$ 300 mil para não vazar fotos íntimas e áudios de Marcela. Réu
primário, Souza cumprirá pena no presídio de Tremembé, no interior de São
Paulo.
O processo foi aberto em abril,
ganhou classificação “prioritária” e foi concluído 6 meses depois.
O advogado de Souza, Valter
Bettencort Albuquerque, se disse "chocado" com a decisão de colocar
um réu primário em regime fechado por cinco anos. "Por ele ser de baixa
periculosidade, deveria ser regime aberto ou semiaberto", disse Albuquerque.
Souza já estava preso desde maio,
e a juíza Eliana Cassales Tosi de Mello, da 30ª Vara
Criminal, manteve a prisão
preventiva.
"Mike",
"Kilo" , "Tango" e "Tim"
No processo, todos os nomes das
"vítimas protegidas" foram substituídos por codinomes. Quando o
hacker fazia menção a Marcela, o escrivão registrava “Mike”. Quando o hacker se
referia a ele próprio, o nome que era registrado era “Tim”. Karlo, o irmão da
primeira-dama, virou “Kilo”.
"No dia 18 de abril de 2016,
através da anterior clonagem do celular xxx, pertencente à vítima protegida
'MIKE', para o celular xxx, bem como se valendo da linha de Brasília xxx,
também hackeada (clonada), SILVONEI JOSÉ DE JESUS SOUZA, constrangeu a vítima
'MIKE', mediante grave ameaça. O indiciado lhe enviou uma mensagem de voz,
entre ela e seu irmão, sobre coisas corriqueiras da cidade, dizendo-lhe o
indiciado que 'queria ganhar algum' e que tinha pessoas interessadas em
comprá-las, e com intuito de obter, para si ou para outrem, indevida vantagem
econômica", diz o início da sentença.
O presidente Michel Temer é
nomeado como "Tango" nas investigações. O irmão da primeira-dama
relatou em depoimento que recebeu ameaças de Silvonei, o Tim, para que ele lhe
pagasse para não revelar fotos do hoje casal presidencial.
"A vítima 'KILO' afirmou que
conversou com seus familiares a respeito do que aconteceu e foi narrado em suas
primeiras declarações, tomando conhecimento que sua irmã e seu esposo, também
se manifestam em ter seus dados protegidos, sendo nestes autos identificados
como 'MIKE' e 'TANGO', respectivamente, e os mesmos vêm recebendo telefonemas
no celular de sua irmã, que foi clonado, onde o indiciado afirma estar com uma
cópia dos dados do telefone celular de sua irmã 'MIKE' e, assim a ameaça em
divulgar tais dados caso ela não efetue o pagamento da importância de
R$300.000,00, para não constrangê-la perante amigos, outros familiares e a
mídia", diz o processo.
Na decisão, a juíza Eliana de
Mello diz que as provas são suficientes para se "imputar a prática do
estelionato ao ora acusado. Da mesma forma, restou demonstrado que o réu
constrangeu a vítima 'Mike' mediante grave ameaça", diz trecho.
Marcela Temer (Foto: André Dusek/Estadão Conteúdo)
G1