Quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018
Estar em boa
forma física desde a infância é requisito para a boa saúde no decorrer da vida,
principalmente na velhice. É o que tem descoberto um grupo internacional de
pesquisadores liderados por Bob Hancox, especialista em respiração da
Universidade de Otago, na Nova Zelândia. Eles acompanham 2.406 pessoas há mais
de 20 anos, desde crianças, e, num estudo publicado na última edição do
European Respiratory Journal, mostram como meninos e meninas menos sedentários
têm a função pulmonar melhorada no início da vida adulta. A condição,
consequentemente, reduz o risco de surgimento de doenças respiratórias
crônicas, incluindo a doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), bastante debilitante
e incidente em idosos.
A pesquisa incluiu dois grupos de estudo: um na Dinamarca, com 1.369 crianças;
e outro na Nova Zelândia, com 1.037. Os pesquisadores mediram a aptidão física
e a função pulmonar em diversos estágios da vida dos participantes. No grupo da
Dinamarca, aos 9, 15, 21 e 29 anos. No da Nova Zelândia, aos 15, 26, 32 e 38
anos. No teste dinamarquês, os participantes tiveram a aptidão aeróbica
avaliada em uma bicicleta — tinham que pedalar até se sentirem esgotados. A
outra equipe usou a mesma atividade para testar a frequência cardíaca dos
participantes. “Ambos seguiram um grupo normal de crianças até a vida adulta
para estudar muitos aspectos de sua saúde e bem-estar”, resume Hancox.
Os resultados mostram que as não sedentárias tinham melhor função pulmonar e
que, quanto mais essa aptidão era melhorada durante a infância, maior a
capacidade dos pulmões na vida adulta. “Nós não sabemos por que a condição
física e a função pulmonar estão ligadas, mas uma explicação pode ser que pessoas
aptas tenham melhor força muscular respiratória e outras forças musculares”,
diz o líder do estudo.
Hancox diz que uma das possíveis explicações para a associação entre condição
física e função pulmonar pode ser o fato que a inspiração e a expiração fortes
e regulares durante a prática regular dos exercícios ajudem a reforçar os
músculos respiratórios. A boa forma física também foi associado a baixo risco
de asma, no estudo da Dinamarca. “Assim como está associada à boa saúde e ao
baixo risco para doenças do coração”, complementa Hancox.
Os estudos estão em andamento e, segundo o autor, eles serão mantidos pelo
tempo que for possível a fim de observar como esse processo se dá ao longo do
envelhecimento. Independentemente das investigações futuras, Hancox ressalta
que o que já foi constatado merece atenção. “O resultado proporciona um motivo
para garantir que nossos filhos se encaixem e fiquem em forma. Os exercícios
são bons para nosso corpo, e isso parece ser verdade também para nossos
pulmões, bem como para outros aspectos da saúde”, explica.
Coordenadora do Grupo de Pesquisas em Pneumologia Pediátrica do Hospital das
Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Laura Belizário Lasmar
explica que a função pulmonar cresce até os 20 anos, fica estabilizada até os
30 e começa a declinar lentamente. Maus hábitos ao longo da vida, como o
tabagismo, e o contato com substâncias nocivas — gases tóxicos, por
exemplo — tornam esse declive ainda mais acentuado. “Precisamos de músculos,
são eles que executam os movimentos respiratórios. Além disso, não adianta ter
bom condicionamento físico e fumar”, alerta (Leia Para saber mais).
A médica chama a atenção para o fato de o estudo considerar também crianças e
jovens asmáticos. “Muitas vezes, eles são poupados por não conseguirem correr
ou brincar, faltando exatamente o condicionamento físico. Então, é preciso
incentivá-los. No caso dessa doença, tendo bom condicionamento e realizando
exercícios físicos, a medicação pode até ser diminuída”, diz.
Engajamento
Ricardo Moreno, professor da Faculdade de Educação Física da Universidade de
Brasília (UnB), destaca outro ponto do trabalho. “Esse estudo tem achados
originais e diferentes. Eles avaliaram a aptidão física das crianças, em vez de
focar na atividade física em si. Assim, claramente, quem está mais engajado com
atividades físicas tem uma aptidão melhor.”
O professor acredita que um dos desafios para incentivar a prática de
atividades físicas entre meninos e meninas é fazer com que elas sejam
recreacionais. “As crianças requerem a questão lúdica, que as mantêm
entretidas. É muito mais difícil para elas subir em uma esteira e fazer 40
minutos de caminhada, por exemplo”, explica. Lasmar acrescenta que, contanto
que haja orientação, o exercício físico deve ser incentivado desde a fase bebê.
Vias
bloqueadas
Ocorre
quando há o bloqueio das vias aéreas, causado pela persistência de duas
doenças: enfisema e/ou bronquite crônica. A maior incidência de casos está em
países desenvolvidos e em homens, sendo o tabagismo a principal causa. A doença
também pode ter tendência hereditária, sendo mais frequente em algumas
famílias. Os sintomas iniciais surgem por volta dos 45 anos, com tosse leve,
produção de expectoração de cor clara e notória dificuldade de respirar ao fazer
esforços.
PBAgora