Quarta-feira, 07 de novembro de 2018
Dois cientistas do Centro de
Astrofísica de Harvard acreditam que o ‘Oumuamua’, objeto interestelar descoberto no ano passado no Havaí, pode
ter sido enviado à Terra por alienígenas. Eles levantaram a hipótese em artigo
publicado na quinta-feira (1), quando tentavam explicar a aceleração do objeto.
Os astrofísicos admitiram a
possibilidade de que a rota do Oumuamua tenha sido direcionada, e não aleatória.
“Pode ser uma sonda totalmente operacional enviada intencionalmente para as
proximidades da Terra por uma civilização alienígena”, dizem.
A possibilidade da sonda direcionada
por extraterrestres explica uma discrepância na frequência com que o objeto é
visto, explica Renato Vicente, físico e vice-presidente do Instituto Principia,
em São Paulo.
“O fato de a gente ter visto o objeto
significa que a produção deles é muito mais frequente do que a gente achava que
era. Ao longo do período de tempo que estamos observando, que é curto, a
produção deveria ser, no mínimo, 100 vezes maior para conseguirmos ver um. Isso
pode significar três coisas: a primeira é que a teoria de produção deles que
nós usamos, baseada no nosso sistema solar, está errada. A segunda é que demos
muita sorte de ver um. A terceira possibilidade é que é um objeto artificial,
produzido por alienígenas, o que é compatível”, diz.
Vicente faz, no entanto, algumas
ressalvas. “A explicação do objeto artificial parece fácil, mas não é. Envolve
uma história anterior. Para ter uma civilização capaz disso, é preciso assumir
que existe essa evolução numa sociedade, com a capacidade de fazer viagens
interestelares. E a gente tenta assumir a menor quantidade de coisas possível”,
lembra.
Na pesquisa, os astrofísicos de Harvard
discutiram a possibilidade de que a pressão da radiação solar poderia estar por
trás da aceleração do Oumuamua. Se esse for o caso, então o objeto “representa
uma nova classe de material interestelar fino, ou produzido naturalmente, ou de
origem artificial”, afirmam Abraham Loeb e Shmuel Bialy, autores do estudo.
Segundo eles, o Oumuamua tem um formato
de panqueca.
“Considerando uma origem artificial,
uma possibilidade é de que o ‘Oumuamua’ seja uma vela solar, flutuando no
espaço interestelar como detrito de um equipamento tecnológico avançado",
explicam os pesquisadores.
A tecnologia de vela solar pode ser
utilizada para transporte de cargas entre planetas ou entre estrelas, conforme
afirmam os cientistas. No primeiro caso, lançamentos dinâmicos vindos de um
sistema planetário poderiam resultar em detritos de equipamentos que não estão
mais em operação. Isso, dizem os pesquisadores, poderia explicar várias
anomalias do ‘Oumuamua’, como a geometria pouco comum.
"Velas solares com dimensões
parecidas já foram construídas pela nossa civilização, incluindo o projeto
Ikaros [no Japão], e a Iniciativa Starshot”, lembram.
A vela solar é o que faria o objeto
continuar acelerando em sua trajetória mesmo depois de passar pelo Sol, explica
Renato Vicente.
“O objeto vem de fora do Sistema Solar.
É como se fosse passar direto pelo Sol, mas o efeito gravitacional faz com que
faça uma trajetória em volta do Sol. Conforme se aproxima do Sol, ele dá uma
acelerada conforme perde massa no sentido oposto. O problema é que, quando está
indo embora dessa trajetória, começa a perder massa no mesmo sentido, então
você espera que ele desacelere. Em vez disso, acelera. A gente não conhece
nenhum mecanismo natural que faça isso. Um mecanismo artificial é a vela”, diz.
Segundo a CNN, vários telescópios
focaram no objeto por três noites para determinar o que ele era antes que se
perdesse de vista.
“Nós tivemos muita sorte de que o nosso
telescópio de levantamento do céu estava olhando para o lugar certo na hora
certa para capturar esse momento histórico”, afirmou o oficial da Nasa Lindley
Johnson no ano passado.
Fonte: G1