Quinta-feira, 03 de novembro-11 de 2022
Compositor
que vivia isolado há mais de 40 anos em Miguel Pereira deixa cinco filhos.
Cláudio Roberto (1952-2022) (Foto: Reprodução)
Morreu no último sábado (30), aos 70 anos, o compositor Cláudio Roberto,
um dos grandes parceiros de Raul Seixas nos anos 1970 e 80. Ele morreu em casa,
em Miguel Pereira, centro-sul do Estado do Rio, vítima de complicações de uma
cirurgia para implantar uma válvula no coração.
Ao lado de Cláudio Roberto, Raul Seixas fez algumas de suas músicas mais
famosas, como "Maluco beleza", "Aluga-se", "Rock das
aranha" e "Cowboy fora da lei". Eles eram amigos desde a
juventude e se conheceram em 1963, quando Raul tinha 18 anos e Cláudio Roberto
tinha 11. Cláudio foi o primeiro namorado da prima de Raul, a escritora Heloísa
Seixas. A primeira canção composta pela dupla foi "I don't really need you
anymore", de 1968.
De lá para cá, foram mais de 30 canções feitas a quatro mãos por Raul e
por Claudete, apelido carinhoso de Cláudio Roberto dado pelo parceiro. Foi com
ele que Raul fez seu primeiro álbum dividido com um único parceiro, “O dia em
que a Terra parou”, de 1977.
Nascido no Catete, Cláudio Roberto estava isolado há anos em Miguel
Pereira, onde levava uma vida discreta. Ele chegou ao município há mais de 40
anos para passar lua de mel com sua segunda mulher, Ângela, com quem teve duas
filhas. Acabaram ficando. Depois, mais tarde, se casou com Elizete, com quem
teve outros dois filhos. Ele já tinha uma primeira filha do primeiro casamento.
Ao GLOBO, em 2014, Cláudio Roberto falou sobre o momento difícil que
passou quando soube da morte de Raul Seixas, em 1989. Ele cheirou cocaína por
45 dias seguidos e passou dez anos atordoado com a perda do amigo.
— Quando eu acordava chorando, esticava uma carreira enorme, cheirava e
ficava ali, parado, esperando aquela sensação ruim passar. Isso me fez muito
mal. Não tanto pela agressão ao organismo, mas por eu ter passado muito tempo
negando a morte dele, sem enfrentar isso. Hoje, não uso mais cocaína, mas
naquela época usei para me esconder, e não por motivos lúdicos. Isso é uma
coisa da qual me arrependo — confessou ele, 25 anos depois. — O Raul levou com
ele um pedaço meu que só existia enquanto ele era vivo.
Na mesma entrevista, o compositor também falou sobre a antipatia que
tinha por outro parceiro Raul Seixas, o escritor Paulo Coelho.
— Não tenho, nem nunca tive relação com o Paulo. Eu não disse que te
adorei no primeiro alô? — perguntou à repórter. — O Paulo eu detestei no
primeiro olhar. Não nego o excepcional talento que ele tem com as palavras. Mas
o considero um pulha — disparou.
Por: O Globo