Sábado, 14 de janeiro-(01) de 2023
Matéria do Portal Folhapress
Foto: Agência Brasil
STEFHANIE
PIOVEZAN SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O Brasil registrou em 2022 o maior número de
mortes por dengue de sua história. Foram 1.016 óbitos pela doença, segundo o
último boletim epidemiológico da Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente.
Outros 109 casos estão em investigação.
Entre os estados, São Paulo foi
o que registrou o maior número de vítimas: 282. Aparecem em seguida Goiás
(162), Paraná (109), Santa Catarina (88) e Rio Grande do Sul (66). Ao todo,
foram 1.450.270 casos prováveis, sendo 1.473 graves e 18.145 com sinais de
alarme.
O recorde já era previsto por
infectologistas, conforme mostrou a Folha de S.Paulo.
O médico Antonio Carlos
Bandeira, membro da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia), explica que
2022 reuniu diferentes fatores que contribuíram para a alta de casos.
Além da sazonalidade da doença
(há picos de casos em intervalos de três a cinco anos), ocorreram períodos com
fortes chuvas e temperaturas altas, gerando um ambiente propício para a
proliferação dos mosquitos.
A pandemia também afetou as
ações de prevenção, que, segundo Bandeira, foram deixadas em segundo plano.
“Houve atraso na entrega de larvicidas e de material para o fumacê.”
Em dezembro, ao ser questionado
sobre o alto número de mortes por dengue no país, o Ministério da Saúde afirmou
que monitorava constantemente a situação epidemiológica das arboviroses e
investia em ações de combate ao mosquito, como campanhas de prevenção, distribuição
de inseticidas e larvicidas aos estados e municípios e que fazia reuniões com
gestores para avaliação do cenário e estratégias de combate.
No ano passado, a região
Centro-Oeste teve a maior taxa de incidência da doença, com 2.086,9 casos a
cada 100 mil habitantes, seguida pelo Sul (1.050,5 casos/100 mil hab.), Sudeste
(536,6 casos/100 mil hab.), Nordeste (431,5 casos/100 mil hab.) e Norte (277,2
casos/100 mil hab.).
O quadro regional, afirma o
médico, coincide com uma rota semelhante à da febre amarela. “Por razões que
ainda desconhecemos, observamos taxas muito altas no Centro-Oeste, com os casos
agora descendo para a parte mais a oeste do Sudeste e do Sul”, diz.
O estado de São Paulo fechou
2022 com 355.479 casos, o equivalente a 762 registros a cada 100 mil
habitantes. Minas Gerais contabilizou 93.412 ocorrências (436,3/100 mil hab.) e
Rio de Janeiro, 11.476 (65,7/100 mil hab.).
Os municípios com mais casos
prováveis de dengue ao longo do ano foram: Brasília (70.672), Goiânia (56.503),
Aparecida de Goiânia (27.810), Joinville (21.353), Araraquara (21.070), São
José do Rio Preto (20.386), Fortaleza (19.094), Anápolis (17.452), Teresina
(17.169) e Natal (16.268).
O boletim mais recente do
Ministério da Saúde também traz dados preocupantes para 2023. O 4º LIRAa/LIA
(Levantamento Rápido de Índices para o Aedes aegypti/Levantamento de Índices
Amostral) de 2022, realizado entre outubro e novembro, aponta 218 cidades com
alto risco no IIP (Índice de Infestação Predial).
Isso quer dizer que, nesses
municípios, a cada 100 imóveis visitados pelos agentes de saúde, 4 ou mais
continham larvas do mosquito Aedes aegypti, transmissor não só da dengue como
do zika, chikungunya e febre amarela.
Em cidades como Itapuí (SP),
Barra do Quaraí (RS) e Alvorada D’Oeste (RO), o índice passa de 20, indicando
que mais de um quinto dos imóveis têm criadouros, conforme dados do Ministério
da Saúde repassados à reportagem.
Dos 5.086 municípios que
realizaram o levantamento, 3.130 (62%) obtiveram IIP menor do que 1, taxa
considerada satisfatória. Outros 1.738 (34%) ficaram com o índice entre 1 e
3,9, indicando uma situação de alerta em relação à infestação do mosquito.
“O índice mais alto diz que há
condições sanitárias ruins. Se somarmos a isso a questão climática, temos um
terreno pronto para a proliferação do mosquito”, afirma Renato Grinbaum, membro
da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia) e professor do curso de medicina
da Unicid.
Entre os possíveis criadouros
mais frequentes, o LIRAa indica a prevalência dos depósitos de água (caixas
d’água, tambores, cisternas) em estados do Nordeste e de depósitos domiciliares
(como vasos e frascos, bebedouros, piscinas não tratadas e bromélias) no
Sudeste.
Em estados como Amapá, Roraima,
Rondônia, Mato Grosso, Paraná e Santa Catarina, pneus, latas, garrafas PET,
sucata e entulho são os depósitos mais recorrentes.
Os infectologistas afirmam que
o LIRAa foi criado para servir como subsídio à ação e, quando os dados são
usados dessa forma, o maior IPP não resulta em surto. “Em teoria, o risco é
maior, mas nem sempre a relação é linear porque depende das ações do
município”, aponta Bandeira.
Os dados permitem às
secretarias municipais de saúde se antecipar, aplicar larvicidas em regiões
críticas, realizar o fumacê nos bairros com alto grau de infestação e reforçar
o trabalho de conscientização. A ideia, ressalta Bandeira, não é esperar que
vire uma epidemia.
“Dessas 218 cidades, aquelas que
adotarem todas as medidas de enfrentamento terão impacto menor do que cidades
em alerta ou com nível satisfatório”, adianta.
E, independentemente do nível
no levantamento, os dois reforçam a importância dos cuidados. “Com as chuvas,
imaginamos um mês de janeiro com muita água parada, o que vai aumentar a
proliferação do mosquito e os casos de dengue. No final deste mês, creio que já
começaremos a perceber de forma mais clara esse aumento”, sinaliza Grinbaum.
Atualmente, há no mercado
particular uma vacina contra dengue do laboratório Sanofi, porém ela só pode
ser aplicada em pessoas que já tiveram a doença. Os outros dois imunizantes no
horizonte são o da Takeda, que submeteu o pedido de registro à Anvisa (Agência
Nacional de Vigilância Sanitária) em 2021, e a do Butantan, ainda em fase de
testes.
Por: Folhapress

