Quarta-feira, 29 de março-(03) de 2023
Matéria da Agência Brasil
Foto: Marcello Casal Jr/ Agência Brasil
Quem
usa as redes sociais já deve ter se sentido perseguido por um assunto, uma
propaganda ou até por sugestões de filmes para assistir. O responsável tem
nome: algoritmo. É ele quem diz ao mundo digital o que nos dizer. Trata-se de
uma ferramenta matemática que percebe e reorganiza os conteúdos semelhantes aos
acessados pelas pessoas.
De acordo com a pesquisadora do
Centro de Estudos da Sociedade da Universidade e Ciência da Universidade
Federal de São Paulo (Unesp) Jade Percassi, o algoritmo registra as informações
dos internautas.
“Ele guarda os dados de acesso
toda vez que a pessoa está logada, [dessa forma] ela está de alguma maneira
veiculada a um perfil de acesso seja no Google, seja em outra plataforma,
YouTube, Facebook ou Twitter”, explica.
Segundo Percassi, a ferramenta
organiza o comportamento e entrega o conteúdo mais preciso e do interesse do
usuário, como dicas de filmes e produtos. No entanto, os dados gerados nem
sempre são individualizados e podem criar uma massa de informações chamada de
Big Data.
“A máquina opera por
inteligência artificial, mas tem pessoas que fazem a moderação, que podem gerar
distorções na entrega do que vai ser acessado, e isso acontece por várias
razões [diferentes]”, esclarece.
A variação da ferramenta pode
ser econômica, quando empresas se favorecem das informações sobre o
comportamento, perfil e renda para direcionar propagandas a determinados nichos
de mercados. No campo das ideias, o que aparenta ser um lugar aberto, de debate
público, plural e democrático, se torna cada vez mais segmentado com pessoas
recebendo conteúdo parecido com aquilo que elas mesmas já pensam.
“As pessoas que têm um perfil
ideológico mais de esquerda vão receber um reforço daquilo que elas pensam”,
disse. “As pessoas com um comportamento identificado mais de direita, vão
receber o reforço de ideias ou de perfis que correspondem aquilo que elas já
pensam, aprofundando, potencializando uma polarização política da sociedade”,
acrescentou.
Uso
indevido
De acordo com a pesquisadora, o
uso de forma indevida e a comercialização das informações podem levar a
distorções maiores, como já foram desvendados no caso da Cambridge Analytica,
acusada de vazar dados de 50 milhões de usuários do Facebook. As informações
foram capturadas a partir de um aplicativo de teste psicológico. No Brasil, a
pesquisadora citou a criação do “gabinete do ódio”, milícia digital
antidemocrática disseminadora de fake news.
Jade Percassi também alerta
para a existência de outras distorções reforçadas pelo comportamento
algorítmico presentes na nossa sociedade. Entre eles, destacam-se padrões de
beleza reforçados por conta do maior acesso a perfis de pessoas magras e
brancas em relação aos de gordas e negras. Além de páginas nudez, levando
também para a possibilidade de uma sexualização maior. “Tem todas essas ciladas
colocadas e a gente não tem nenhum tipo de moderação”, diz.
A pesquisadora ressalta que as
grandes empresas são as proprietárias das plataformas e que, apesar do acesso
gratuito, informações pessoais têm valor.
“A gente não pode ter ilusões.
Apesar do acesso ser gratuito, estamos entregando algo de muito valor, que são
nossos dados”, disse. “Você não paga com dinheiro, mas com seus dados sobre
quem você é e sobre o tipo de comportamento que você tem”.
Marco
Civil da Internet
Nesta quarta-feira (29), o
Supremo Tribunal Federal (STF) continua discussão sobre as regras do Marco
Civil da Internet. O debate foi convocado pelos ministros Dias Toffoli e Luiz
Fux, relatores de ações que tratam da responsabilidade de provedores na remoção
de conteúdos com desinformação, disseminação de discurso de ódio de forma
extrajudicial, sem determinação expressa pela Justiça.
No primeiro dia de discussão,
ministros da Corte e de Estado se revezaram na defesa da regulação das redes
sociais, com algum grau de responsabilização das empresas que as ofertam ao
público.
De outro lado, advogados de
bigtechs como Google e Meta – donas de redes e aplicativos como YouTube,
Instagram, Facebook e WhatsApp – contestaram a iniciativa, argumentando que
isso não garantirá uma internet mais segura no Brasil. Eles defenderam que um
ambiente digital mais saudável poderá ser alcançado com o aprimoramento da
autorregulação já existente.
As discussões englobam também
os projetos de lei que tramitam no Congresso para regular as redes sociais e a
proteção da democracia no ambiente digital. Tais iniciativas, principalmente o
chamado Projeto de Lei (PL) das Fake News, ganharam impulso após os atos
golpistas de 8 de janeiro, em Brasília.
Por: Agência Brasil