Domingo, 16 de abril-(04) de 2023
Profissionais afirmam que iniciativa
poderia impulsionar comércio entre países do grupo, mas também afetar
negociações envolvendo dólar
Dólar sairia de cena entre Brics caso proposta se torne realidade (Foto: Fernanda Carvalho/Fotos Públicas)
O presidente da República, Luiz Inácio
Lula da Silva (PT), propôs nesta semana a adoção de uma moeda comum para
operações comerciais entre os membros do Brics — Brasil, Rússia, Índia, China e
África do Sul —, como forma de reduzir a dependência para o dólar e também para
amenizar os custos operacionais de transações envolvendo os países. A ideia
dele, na avaliação de economistas, pode até trazer resultados positivos para a
economia do bloco, mas não deve ser facilmente implementada. A informação é do R7, parceiro
nacional do Portal Correio.
“O ponto positivo é que você consegue calibrar o preço dos
produtos, pois quem vai definir a estratégia dessa moeda são os países do
grupo. Assim, eles deixam de ficar à mercê da variação cambial e passam a
trocar os produtos 1 por 1, sem risco de variação ou de perda do valor”, avalia
o especialista em finanças Marlon Glaciano.
Ele acredita que
a moeda única não substituiria o dólar com tanta facilidade, pois levaria tempo
para que ela tivesse resultados sólidos. Por outro lado, ele diz que a criação
da moeda poderia garantir mais previsibilidade às negociações do Brics.
Segundo o
economista Newton Marques, criar uma nova moeda exigiria uma série de condições
macroeconômicas, como uma competitividade similar da economia de todos os
países do Brics e parâmetros fiscais semelhantes em relação ao PIB (Produto
Interno Bruto) de cada nação. Com realidades muito distintas, ele diz que um
país do grupo poderia ficar em desvantagem em relação a outro e que usar a
moeda única seria, na verdade, prejudicial.
“Será possível
cada um dos países ter um déficit público em relação ao PIB em um nível
tolerável? Será que a inflação terá de ter um intervalo de metas para ser
perseguida? Os países também precisariam de reservas cambiais nessa nova moeda
e seria necessário haver competitividade entre as nações, caso contrário o
câmbio será diferente para cada uma. Não é uma solução tão simples”, analisa
Marques.
Além disso, o
economista diz que os países do Brics teriam de alinhar diferentes interesses
políticos e financeiros para que a moeda conseguisse estabilidade. “Será que a
Índia toparia adotar práticas que estão em vigor aqui, por exemplo? Hoje, os
interesses de cada país são conflitantes. Não basta somente a vontade do Brasil
em querer a moeda, é preciso considerar o que pensam os outros países.”
Mário Battistel,
gerente de câmbio da Fair Corretora, acrescenta que se livrar da dolarização do
comércio internacional é outro entrave. De acordo com ele, os produtores
brasileiros continuariam tendo de negociar mercadorias com países que usam a
moeda norte-americana e poderiam enfrentar dificuldades pelas diferentes taxas
de câmbio.
“Teria que
envolver uma série de mecanismos para se montar o custo de produção para
exportações em moeda única. Além disso, esse custo teria de avaliar as despesas
dos produtores em relação à moeda dos demais países. Mas com a flutuação de
cada uma em relação ao dólar, isso ficaria comprometido. Hoje, é muito ousado
pensar em uma proposta assim. Não vejo possibilidade de implementação no curto
ou médio prazo.”
O que pensa Lula
Segundo o
presidente brasileiro, uma moeda comum entre os países do Brics permitiria uma
“situação mais tranquila”. “Nós precisamos ter uma moeda que transforme os
países numa situação um pouco mais tranquila. Porque hoje um país precisa
correr atrás de dólar para poder exportar, quando ele poderia exportar em sua
própria moeda, e os bancos centrais certamente poderiam cuidar disso”, disse
ele, durante visita oficial à China.
“Por que não
podemos fazer nosso comércio lastreado na nossa moeda? Por que não temos o
compromisso de inovar? Quem é que decidiu que era o dólar a moeda, depois que
desapareceu o ouro como paridade?”, acrescentou Lula.
A fala do chefe
do Executivo aconteceu durante a cerimônia de posse de Dilma Rousseff como
presidente do Novo Banco do Desenvolvimento (NBD), o banco do Brics. Ele pediu
que Dilma apresente a sugestão de moeda única ao longo do mandato dela à frente
da instituição.
“É necessário
ter paciência. Mas por que um banco como o dos Brics não pode ter uma moeda que
possa financiar a relação comercial entre Brasil e China, e entre os outros
países do Brics? É difícil, porque tem gente mal acostumada, e todo mundo
depende de uma única moeda”.
Por: Augusto Fernandes, do R7, parceiro nacional do
Portal Correio