Sábado, 09 de dezembro-(12) de 2023
Ocorrências passaram de 1,3 milhão em 2022 para 1,6 milhão neste ano
Foto: Wikimedia
Dados divulgados nesta sexta-feira (8) pelo Ministério da Saúde indicam que os
casos de dengue no Brasil aumentaram 15,8% em 2023 em relação ao ano
passado, conforme a nota divulgada pela pasta. As ocorrências passaram de 1,3
milhão de casos em 2022 para 1,6 milhão de casos neste ano. Já a taxa de
letalidade ficou em 0,07% nos dois anos, somando 1.053 mortes confirmadas em 2023
e 999 no ano passado. As informações são do R7, parceiro nacional do Portal
Correio.
“Fatores como a variação climática, o aumento das chuvas, o número
de pessoas suscetíveis às doenças e a mudança na circulação de sorotipo do
vírus são fatores que podem ter contribuído para esse crescimento”, avaliou o
ministério em nota. Os estados com maior incidência de dengue são Espírito
Santo, Minas Gerais, Santa Catarina, Paraná, Mato Grosso do Sul, Distrito
Federal e Goiás.
Chikungunya
Em relação à chikungunya, até dezembro de 2023, foram notificados 145,3 mil
casos da doença no país, com taxa de incidência de 71,6 casos por 100 mil
habitantes. Em comparação com o mesmo período de 2022, quando foram notificados
264,3 mil casos (123,9 casos por 100 mil habitantes), a redução foi de 42,2%.
Neste ano, foram confirmados ainda 100 óbitos provocados pela doença. As
maiores incidências estão em Minas Gerais, no Tocantins e no Espírito Santo.
Zika
Já os dados de zika foram coletados pela pasta até o fim de abril de 2023. Ao
todo, foram notificados 7.200 casos da doença, com taxa de incidência de 3,6
casos por 100 mil habitantes. Houve aumento de 289% em relação ao mesmo período
de 2022, quando 1.600 ocorrências da doença foram notificadas. Até o momento,
há registro de um óbito por zika em investigação.
Criadouros
O LIRAa (Levantamento Rápido de Índice de Infestação por Aedes aegypti) e o LIA
(Levantamento de Índice Amostral) indicam que, em 2023, 74,8% dos criadouros do
mosquito da dengue estão em domicílios, em locais como vasos e pratos de
plantas, garrafas retornáveis, pingadeiras, recipientes de degelo em
geladeiras, bebedouros em geral, pequenas fontes ornamentais e materiais em
depósitos de construção (sanitários estocados, canos).
Os números mostram ainda que depósitos de armazenamento de água elevados
(caixas d’água, tambores, depósitos de alvenaria) e no nível do solo (tonel,
tambor, barril, cisternas, poço, cacimba, cisterna) aparecem como segundo maior
foco de procriação dos mosquitos, com 22%, enquanto depósitos de pneus e lixo
têm 3,2%.
A pesquisa é realizada pela amostragem de imóveis e criadouros com água
positivos para larvas de Aedes aegypti no âmbito municipal. Os estados
consolidam os dados dos municípios e encaminham ao ministério.
Mudanças climáticas
Em nota, a pasta destacou que a projeção de aumento de casos de dengue no
próximo verão brasileiro se deve a fatores como a combinação entre calor e
chuva intensos, possíveis efeitos do El Niño, conforme aponta a OMS
(Organização Mundial da Saúde). Outro agravante é o ressurgimento recente dos
sorotipos 3 e 4 do vírus no Brasil.
“Com mudanças climáticas, altas temperaturas e períodos chuvosos, a expectativa
é que o número de criadouros aumente. Por esse motivo, é preciso o empenho da
sociedade para eliminar os criadouros e evitar água parada. As medidas são
simples e podem ser implementadas na rotina. O Ministério da Saúde sugere que a
população faça uma inspeção em casa pelo menos uma vez por semana.”
“Para garantir a proteção contra o mosquito vetor das arboviroses, o Ministério
da Saúde encaminha um biolarvicida aos estados e municípios, de acordo com a
situação epidemiológica local e com a demanda. O produto representa uma
alternativa eficiente no controle das larvas dos mosquitos, com baixo impacto
ambiental.”
Controle
Ainda em nota, o ministério informou estar alerta e monitorar constantemente o
cenário das arboviroses no Brasil. Como parte das ações de enfrentamento às
doenças, a pasta anunciou R$ 256 milhões para o fortalecimento da vigilância
das arboviroses. “O momento é de intensificar os esforços e as medidas de
prevenção por parte de todos para reduzir a transmissão das doenças.”
“Para evitar o agravamento dos casos, a população deve buscar o serviço de
saúde mais próximo ao apresentar os primeiros sintomas. Cerca de 11,7 mil
profissionais de saúde foram capacitados em 2023 para manejo clínico,
vigilância e controle de arboviroses.”
Do valor total do investimento, R$ 111,5 milhões serão efetivados até o fim
deste ano, em parcela única, para fortalecer as ações de vigilância e contenção
do Aedes aegypti – sendo R$ 39,5 milhões para estados e o Distrito Federal e R$
72 milhões para municípios. Além disso, haverá repasse de R$ 144,4 milhões para
fomentar ações de vigilância em saúde em todo o país.
Vacina
A Conitec (Comissão Nacional de Incorporações de Tecnologias no Sistema Único
de Saúde) analisa neste momento a incorporação da vacina Qdenga ao SUS (Sistema
Único de Saúde). Nesta quinta-feira (7), o ministério abriu consulta pública
sobre o tema. Considerando o cenário epidemiológico, a comissão já recomendou a
incorporação do imunizante inicialmente para localidades e públicos
prioritários a serem definidos pelo PNI (Programa Nacional de Imunizações).
A definição dos grupos e localidades deve considerar as regiões de maior
incidência e transmissão da dengue e as faixas etárias de maior risco para
agravamento da doença. A restrição de público, segundo o ministério, também
leva em conta a capacidade de fornecimento das doses por parte da fabricante.
Todas as recomendações de incorporação de medicamentos e insumos feitas pela
Conitec são submetidas à consulta pública por um período de 20 dias. A pasta
destacou, entretanto, que, considerando a projeção epidemiológica para o
próximo verão, com a possibilidade de aumento de casos de dengue, a consulta
ficará aberta pelo prazo de dez dias.
Método Wolbachia
O governo federal anunciou ainda a ampliação do chamado método Wolbachia. A
estratégia consiste na liberação de Aedes aegypti injetados com a bactéria
Wolbachia, que inibe a transmissão de doenças. A proposta é que esses mosquitos
se reproduzam com outros espécimes de Aedes aegypti locais e ajudem a
estabelecer uma nova população de insetos, todos portando a bactéria e,
consequentemente, não transmitindo doenças.
O método Wolbachia está sendo expandido atualmente para Natal (RN), Uberlândia
(MG), Presidente Prudente (SP), Londrina (PR), Foz do Iguaçu (PR) e Joinville
(SC). A estratégia já é utilizada em Campo Grande (MS), Petrolina (PE), Belo
Horizonte (MG), Niterói (RJ) e na capital fluminense.
Análise
Durante coletiva de imprensa, a ministra da Saúde, Nísia Trindade, destacou a
importância de ações coordenadas de combate às arboviroses, de esclarecimento
junto à população e de acompanhamento epidemiológico e cientifico das doenças.
“Nesta semana, voltei da COP28 [Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças
Climáticas] e, pela primeira vez, tivemos um evento dedicado à saúde na
programação oficial.”
“Sabemos que, com as mudanças climáticas e o processo de aquecimento, há um
impacto geral na saúde e, em especial, nos grupos mais vulneráveis. Há também
um impacto muito acentuado em relação às arboviroses”, disse, ao citar o que
classifica como um cenário desafiador.
“Esse desafio está dentro daquilo que vemos como doenças de determinação
ambiental e social porque afetam sobremaneira os grupos mais vulneráveis. É
onde vemos esse impacto maior. Não só pela circulação do vírus, pela
transmissão via Aedes aegypti e pelos criadouros de larva, mas também porque
vemos essa situação em relação aos cuidados clínicos necessários.”
Nísia lembrou que o país já possui conhecimento científico validado que permite
uma maior proteção da população.
“Estamos, neste momento, já pactuando muitas ações com estados e municípios.
Como tudo que se faz no SUS, não é possível fazer de gabinete. Entre essas
ações, destaco o fortalecimento da vigilância, o controle de vetores. Para
isso, contamos com muitos meios no SUS e estamos destinando R$ 256 milhões.”
Por: Portal Correio