Terça-feira, 14 de janeiro de 2025
Ex-congressista havia sido reeleito prefeito de Barra de São
Miguel, em Alagoas
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Benedito Lira era prefeito de Barra de São Miguel desde 2021. (Foto: André Corrêa/Agência Senado) |
Morreu nesta terça-feira (14), aos 82
anos, o ex-senador Benedito de Lira, pai do presidente da Câmara dos Deputados,
Arthur Lira (PP-AL).
O ex-congressista era, desde 2021,
prefeito da pequena Barra de São Miguel, em Alagoas, cidade conhecida pelas
praias e casas de veraneio, e foi reeleito em 2024.
Ele enfrentava um tratamento oncológico
e, no dia 31 de dezembro, passou por um procedimento cirúrgico de emergência.
Estava internado no Hospital Arthur Ramos, em Maceió. Com a morte dele,
assumirá a prefeitura o seu vice-prefeito, Henrique Alves Pinto.
Benedito não participou da cerimônia de
posse para o segundo mandato, em 1º de janeiro. Na ocasião, foi representado
por Arthur Lira, que se emocionou num discurso feito com referências ao pai.
O presidente da Câmara dos Deputados
estava em Maceió acompanhando o tratamento do pai. Esse foi um dos motivos
citados para não estar presente na solenidade alusiva aos dois anos do 8 de
janeiro na semana passada.
Benedito de Lira nasceu em 1º de maio
de 1942 e começou a carreira política nos anos 60, na Arena, o partido de apoio
ao regime militar (1964-1985), tendo migrado depois para legendas que a
sucederam, como PDS, PFL e, mais recentemente, PP.
Foi vereador da cidade onde nasceu,
atualmente o município de Junqueiro (AL), e também em Maceió.
De 1983 a 1994 foi deputado estadual.
Em 1995, chegou à Câmara dos Deputados, onde exerceu três mandatos.
O ápice da carreira ocorreu em 2010,
quando foi eleito senador por Alagoas. Ele tentou a reeleição em 2018, mas
acabou em quarto lugar. A volta à vida pública ocorreu dois anos depois, com a
eleição para a Prefeitura de Barra de São Miguel.
Após a derrota em 2018, Benedito se
recolheu, mas acabou voltando a disputar cargos eletivos. “Em 2018, perdi a
eleição e fui para casa. Fiquei lá até 2020. E me sentindo vazio, faltando
alguma coisa. Conversei com a minha mulher e disse: Eu vou comunicar ao
prefeito da Barra e às pessoas que eu vou disputar a eleição”, disse ele, em
entrevista em 2020.
Em toda a sua carreira política,
Benedito de Lira integrou o chamado baixo clero do Congresso, ou seja, a massa
de deputados e senadores sem grande projeção nacional.
Alguns de seus primeiros feitos de
destaque na Câmara foram relatar e propor o arquivamento de processos
disciplinares contra colegas.
Em 1997, integrou o grupo de
parlamentares que declararam ser contra a emenda constitucional da reeleição,
mas que, na última hora, mudaram de lado e votaram a favor da medida defendida
por Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e que permitiu a reeleição do presidente
da República no ano seguinte.
Benedito de Lira era na época um dos
poucos pefelistas que estavam contra a reeleição. Depois de uma conversa com FHC,
no entanto, ele mudou de ideia.
“Mudei devido a pedidos de amigos e do
meu filho, que é vereador em Maceió pelo PSDB e está começando a carreira”,
disse Benedito de Lira à Folha de S.Paulo, na ocasião, em referência ao jovem
Arthur Lira.
No Senado, Benedito acabaria rompendo
com o PT e votando pelo impeachment da então presidente Dilma Rousseff, em
2016.
Benedito também teve o nome envolvido
nos escândalos dos sanguessugas (desvio de verbas públicas para compra de
ambulâncias e equipamentos hospitalares) e da Lava Jato, esse último tendo
Arthur Lira ao seu lado.
Nas investigações da Lava Jato,
Benedito foi delatado em depoimentos pelo doleiro Alberto Youssef e denunciado
no chamado “quadrilhão do PP” ao lado do filho Arthur.
Os relatos feitos por Alberto Youssef,
de que pai e filho se beneficiavam de recursos desviados da Petrobras,
resultaram em denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República contra
os dois alagoanos em 2015. O Supremo, porém, rejeitou dois anos depois dar
continuidade a essas acusações.
Sobre a acusação de quadrilhão, a
denúncia foi desmembrada, ficando no Supremo Tribunal Federal a parte contra
parlamentares exercendo mandato. O caso relativo a Benedito foi remetido para a
primeira instância.
O Supremo aceitou a denúncia do quadrilhão
em 2019, mas, em 2021, em uma decisão incomum, mudou de posição e acabou
rejeitando a acusação. A denúncia contra Benedito também foi arquivada pela
primeira instância.
Em 2022, quando Lula foi eleito
presidente da República, Benedito de Lira, que é conhecido no estado como “Biu
de Lira”, afirmou à Folha de S.Paulo que o apoio dado pelo filho a Jair
Bolsonaro (PL) não era obstáculo para que o presidente da Câmara fechasse uma
aliança com o petista, o que acabou ocorrendo posteriormente.
“Rapaz, olha, é o seguinte: você, em
política, tem que ter um lado. E ele [Arthur Lira] era um aliado, é um aliado
[de Bolsonaro], como presidente da Câmara. Logicamente, isso ajudou muito o
município aqui. Eu sou o prefeito, e nós ficamos com ele [Bolsonaro]. Terminou
a eleição? Acabou. Vamos pensar no futuro”, disse Benedito, na ocasião.
Em 1º de fevereiro de 2023, dia em que
Lira foi reeleito para o comando da Câmara, o pai passou mal durante a
cerimônia de posse dos novos deputados, no plenário da Câmara, e teve que ser
socorrido. Ele foi levado a um hospital particular, com sintomas de desidratação.
Barra de São Miguel, de apenas 8.000
habitantes, tem sido nos últimos anos um dos municípios turbinados com verbas
de emendas parlamentares. Em 2021, reportagem da Folha de S.Paulo mostrou que a
prefeitura era, em Alagoas, a que mais havia recebido recursos de emendas de
relator proporcionalmente à população.
Com informações do Renier Bragon e Josué Seixas, da
Folhapress