Quarta-feira, 08 de janeiro de 2025
Da
Zona Sul à Zona Oeste, diferentes locais da cidade funcionam como ponto de
encontro para atividade, que atrai público diverso
Na virada do réveillon
2025, a repercussão do “surubão” da Pedra do Arpoador desvelou todo um submundo
da sexualidade carioca, colocando em evidência uma prática que acontece em
vários pontos da cidade. O dogging, como é conhecida a atividade de fazer sexo
em público e com desconhecidos, tem adeptos de grupos sociais, gêneros e
orientações sexuais variadas, que se aventuram em points que chegam a aparecer
em roteiros de orgia. Além do Arpoador, Botafogo e Aterro do Flamengo, na Zona
Sul, e a região da Reserva, na Zona Oeste, são pontos de encontro.
O Mirante do Pasmado, em Botafogo, é um desses lugares. Os banquinhos de
madeira na calçada, logo na entrada do mirante, são a primeira parada. É para
os mais aventureiros, já que é mais exposta à rua. A vista é para a Praia de
Botafogo. Ali perto, seguindo por uma pequena trilha, outros dois bancos de
madeira prometem um pouco mais de privacidade. O point mesmo é descendo a
trilha, em um platô, com o visual do Pão de Açúcar — e outras coisas — para
apreciar.
— É um lugar mais reservado e seguro para quem gosta da prática. As
pessoas chegam devagar, vão olhando em volta e perguntam se podem descer e
participar. Às vezes já tem muita gente, aí tem que esperar. Tem muito casal de
classe alta que vem pra namorar — disse um praticante que preferiu não se
identificar.
Apesar disso, é discreto. Há dois anos frequentando o jardim do Museu do
Holocausto, que fica no mirante, uma moradora comentou que não testemunhou
nenhum ato sexual, mas já ouviu falar da movimentação.
— Eu nunca vi, mas já ouvi falar de gente que vem e sei de outras
pessoas que já comentaram sobre isso também.
Os horários são alternativos e, na maioria dos casos, as práticas
acontecem durante a madrugada, entre 22h e 6h — uma forma de preservar os
praticantes, e o público. A prática, segundo o frequentador, existe no Rio há
pelo menos 30 anos.
— É fetiche. As pessoas têm esse tipo de fantasia sexual, de fazer sexo
com espectadores, de ver o parceiro ou a parceira com outro. Tem uma colega que
já desce do carro de calcinha, ela diz que adora se sentir desejada. A graça é
ser visto em ambiente aberto — conta ele.
Tem alguns códigos. Os interessados se aproximam devagar, observando o
entorno e, às vezes, conversam com quem estiver presente para entender como
está a situação. Em geral, as mulheres vão de vestido ou saia. Se for dentro do
carro e a luz estiver acesa, pode assistir. Se a janela estiver aberta, pode
passar a mão em quem estiver fazendo sexo, desde que com o consentimento. E se
a porta estiver aberta, outras pessoas podem participar.
Entre a Ilha 2 e a Ilha 3, na Praia da Reserva, na Zona Oeste, tem outro
ponto de encontro de dogging. Em um deck, não é incomum a presença de homens
que vão só para assistir a outros homens tendo relação sexual. É o “after” de
parte dos frequentadores, que saem de casas de suingue da região para a prática
ao ar livre.
Tem também os que preferem uma dose a mais de adrenalina, e encaram a
madrugada em lugares perigosos, como o Aterro do Flamengo, mesmo com alto risco
de assaltos.
— Tem gente que tem tesão em viver essa tensão e o perigo. É mais
adrenalina, e isso excita. Cada um com seu cada um. É um pouco do caráter
transgressor também, de fazer algo proibido. Tem gente que faz até live durante
o ato — afirma o frequentador.
Relembre o 'surubão'
Nos primeiros dias de 2025, um vídeo que mostra pessoas fazendo orgia no
Arpoador logo após o réveillon viralizou nas redes sociais. A gravação foi
feita no Parque Garota de Ipanema, e a ação passou a ser denominada de
"Surubão" do Arpoador, como publicado no blog True Crime.
Na última sexta-feira, a 14ª DP (Leblon) abriu um procedimento para
investigar o caso. De posse das gravações, os policiais estão tentando
identificar as pessoas que participaram do sexo em grupo. De acordo com o
artigo 233 do Código Penal Brasileiro, a prática de ato obsceno em lugar
público ou espaços abertos coletivos é crime, podendo ocasionar detenção de 3
meses a 1 ano, ou multa.
Ao GLOBO, a Guarda Municipal do Rio informou que tenta coibir as
práticas de atos obscenos e atentados ao pudor através do patrulhamento em
diversas áreas.
"A Guarda Municipal, em casos como esses, caso haja o flagrante,
conduz os suspeitos para a delegacia da área, por se tratar de uma prática
proibida. Equipes do Grupamento Especial de Praia (GEP) da GM-Rio atuam no
patrulhamento das praias da cidade com foco no ordenamento urbano e também na
segurança dos cidadãos", informou a Guarda Municipal, por nota.
Com informações do EXTRA – Rio de Janeiro