Quinta-feira, 27 de fevereiro de 2025
Dono da carga transportada também
vai responder pelo acidente.
O motorista da carreta que colidiu
com um ônibus na BR 116 em Teófilo Otoni, no leste de Minas Gerais, que
resultou na morte de 39 pessoas em dezembro do ano passado, e o dono da
transportadora responsável pela carga, foram indiciados por homicídio com dolo
eventual pelas 39 vítimas, lesão corporal dos 11 feridos, crimes de trânsito e
falsidade ideológica.
Nessa quarta-feira (26/2), a Polícia
Civil de Minas divulgou a conclusão do inquérito, após quase três meses
de investigações e exames periciais. Segundo o delegado regional de Teófilo
Otoni, Amauri Tomas Tenório, a investigação comprovou que as ações, tanto do
caminhoneiro como do proprietário, levaram ao resultado trágico do acidente.
Com a perícia já podemos afirmar sem
sombra de dúvida que aquela carga estava a 77% acima do permitido. Você tem um
comportamento do motorista que não respeita o seu período de folga. Trafega na
maioria das vezes em grande parte desse trajeto em excesso de velocidade. No
momento do acidente, aquele semi-reboque estava a 97 quilômetros por hora. A
perícia, num estudo aprofundado de velocidade crítica, apontou que qualquer
velocidade acima de 62 quilômetros por hora de um conjunto veicular que pesava
103 toneladas, provavelmente como aconteceu, aquilo tombaria. A perícia apontou
que houve mudança estrutural na suspensão do semi-reboque, provavelmente para
que ele suportasse mais carga. Só que isso desloca o centro de gravidade e não
há ali a estrutura que aguente um sobrepeso daquele. Então o resultado ele era,
e ele foi aceito por esses indivíduos, talvez aí na busca de lucro.”
No
caso do motorista, os crimes foram agravados por conduzir sob efeito de álcool,
drogas e medicamentos como apontam os laudos periciais, explica o
delegado.
“O laudo pericial aponta a presença de várias substâncias
proibidas, de uso ilícito, remédios, enfim. Você transportando um veículo de
103 toneladas, se você faz qualquer mudança de direção ali de forma abrupta,
como aconteceu, é muito provável que isso tombe. E é claro que a polícia civil
interessa saber como estavam os reflexos desse motorista. Ele estava com o seu
período de descanso? Ele estava com a atenção devida? Então isso serviu para
embasar, para a gente diferenciar a culpa de dolo. É claro que é um conjunto
total de provas que apontam que foi um crime doloso. Porque é como um piloto de
avião que entra com seus reflexos alterados. Isso vai, dependendo de todo o conjunto
probatório, configurar o dolo, assim a polícia civil entende que foi o que houve.”
O dono da empresa ainda adulterou notas fiscais e documentos da
carga, afirma o delegado.
“O dono da empresa também teve sua responsabilidade apontada, foi indiciado por esses 39 homicídios e ainda por falsidade ideológica, por ser o responsável pelo preenchimento falso de dados em notas fiscais e no documento de transporte dessas pedras. Ele insere a pesagem falsa daquelas pedras e na nota fiscal também ele insere pesagem falsa, provavelmente para se furtar da fiscalização caso ela acontecesse nas rodovias.”
“O dono da empresa também teve sua responsabilidade apontada, foi indiciado por esses 39 homicídios e ainda por falsidade ideológica, por ser o responsável pelo preenchimento falso de dados em notas fiscais e no documento de transporte dessas pedras. Ele insere a pesagem falsa daquelas pedras e na nota fiscal também ele insere pesagem falsa, provavelmente para se furtar da fiscalização caso ela acontecesse nas rodovias.”
As 39 vítimas fatais estavam no ônibus que havia partido de São
Paulo com destino a Vitória da Conquista, na Bahia. Três pessoas sofreram
ferimentos graves e, oito, ferimentos leves. O motorista da carreta segue preso
em um presídio no Espírito Santo. A defesa dele nega que ele estivesse sob
efeito de álcool ou drogas e que o caminhão estivesse em excesso de velocidade
ou acima do limite de carga. O inquérito, com mais de mil páginas, foi
encaminhado ao Ministério Público, que é responsável por fazer a denúncia
formal dos indiciados à justiça.
Por: Portal do Ancorador