Domingo, 02 de Março-(03) de 2025
Presidente do país, Emmanuel Macron,
afirmou no sábado (1º) que está pronto para discutir a oferta de seus arsenais
atômicos para proteger outros países
Sob ameaça de uma aliança entre Donald Trump e Vladimir Putin
acerca da Guerra da Ucrânia e com a ameaça direta do americano de abandonar os
seus parceiros europeus à própria sorte, a França resolveu sacar a carta
nuclear.
O presidente do
país, Emmanuel Macron, afirmou no sábado (1º) que está pronto para discutir a
oferta de seus arsenais atômicos para proteger outros países da região ante as
ameaças de segurança vindas da Rússia.
“Sempre houve uma
dimensão europeia para os interesses vitais da França em sua doutrina nuclear”,
disse Macron à TV portuguesa RTP. Ele participará do encontro de líderes
europeus continentais com Volodimir Zelenski, no Reino Unido neste domingo (2).
O ucraniano acaba
de chegar de Washington, onde fora submetido a uma sessão de ataques públicos
por Trump na sexta-feira(28), quando o americano praticamente o expulsou da
Casa Branca após baterem boca acerca dos rumos da guerra.
O republicano
adotou a visão russa sobre o início do conflito, há três anos, e parece
disposto a aceitar a solução de Vladimir Putin para a guerra agora, com perda
territorial para a Ucrânia e nenhuma garantia de segurança vinda dos Estados
Unidos.
No ano passado, o
francês havia entrado numa troca de acusações com Putin, que havia ameaçado uma
guerra nuclear se Paris enviasse os soldados que havia proposto à Ucrânia.
Macron então testou um míssil de cruzeiro nuclear para sinalizar ao Kremlin,
mas na semana passada admitiu que a rusga visou estabelecer “ambiguidade
diplomática”.
A imprensa
britânica vinha especulando a jogada do francês, dizendo que o premiê do país,
Keir Starmer, estaria pronto para apoiá-la. Segundo essa versão, os franceses
ofereceriam colocar caças Rafale equipados com mísseis de cruzeiro nucleares
para serem baseados na Alemanha.
Hoje a defesa
nuclear da Europa no escopo da aliança Otan é definida pelos EUA, que mantém
cem ogivas nucleares da família B61 em seis bases em Alemanha, Holanda,
Bélgica, Itália e Turquia. A base de Lakenheath, no Reino Unido, está acabando
de receber obras de recuperação e deverá voltar a receber os armamentos, 20
anos após terem sido retirados de lá.
Essas bombas podem
ser lançadas por caças F-35, F-16 e Panavia Tornado e têm caráter tático, ou
seja, menor potência e uso presumido contra alvos militares restritos.
A França, por sua vez, é membro da Otan, mas sua cadeia de comando nuclear é independente. O país tem quatro submarinos de propulsão nuclear armados com mísseis estratégicos, capazes de obliterar cidades.
A França, por sua vez, é membro da Otan, mas sua cadeia de comando nuclear é independente. O país tem quatro submarinos de propulsão nuclear armados com mísseis estratégicos, capazes de obliterar cidades.
Além disso, tem
cerca de 50 mísseis ASMPA, com ogivas táticas, que podem ser lançados por 20
caças Rafale modificados para a missão. O baixo número torna incerto se Paris
retiraria os aviões de sua base em Saint-Dizier para reforçar um ponto na
Alemanha mais próximo da Rússia.
Durante a Guerra
Fria, os franceses chegaram a ter caças estacionados no vizinho, mas eles
operavam bombas atômicas americanas. O racha entre Paris e a Otan nos ano 1960
acabou, hoje mais ou menos resolvido, acabou com o esquema.
O Reino Unido é a
terceira potência nuclear da Otan, com 225 ogivas. Só que Londres opera em
consonância com a estratégia americana, e hoje só emprega as bombas em mísseis
Trident-2D5 em seus quatro submarinos nucleares da classe Vanguard. Cada míssil
pode levar de 8 a 12 ogivas.
Assim, mesmo que
queira apoiar um esquema europeu, os britânicos não terão ativos baseados em
terra para oferecer a outros aliados. A proximidade das forças de Londres e de
Washington é também um impeditivo político.
Com tudo isso, a
posição de Macron, que aliás repete a do governo francês em 2007, rejeitada por
Berlim, sugere mais uma demonstração política ante o vendaval Trump. A
agressividade do americano ante seus parceiros de Otan e a Ucrânia tem deixado
os líderes continentais desnorteados.
Além de tudo,
Putin tem o dedo no botão de 1.710 ogivas prontas para uso, fora as reservas
que elevam em três vezes o número de bombas. Os franceses têm 290. Por fim, é
algo irrealista supor um confronto entre Rússia e Europa que não escale para
uma guerra generalizada com os EUA, apesar da retórica de Trump, dadas as
provisões de defesa mútua da Otan.
Há questões
domésticas também. A líder da ultra direita francesa, Marine Le Pen, criticou
Macron pela oferta. “A dissuasão nuclear francesa deve permanecer francesa”,
afirmou no sábado. “Não deve ser compartilhada, muito menos delegada”,
completou.
O tema nuclear
volta e meia retorna ao noticiário do continente enfrentando sua pior guerra em
80 anos. A Polônia, por exemplo, quer ser incluída no guarda-chuva dos EUA de
armas táticas desde que Putin colocou esses armamentos na aliada e vizinha
Belarus, em 2023.
Por: Portal Correio