Segunda-feira, 08 de setembro-(09) de 2025
Pesquisa mostra impactos no bem-estar de pré-adolescentes e
sugere restrições ao uso de celulares e redes sociais.
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Uso de celular antes dos 13 anos pode prejudicar saúde mental de crianças. Freepik |
O uso do celular antes dos 13 anos está associado a impactos negativos na saúde mental de
pré-adolescentes, segundo um estudo global com quase 2 milhões de pessoas.
A pesquisa, publicada no Journal of the Human Development
and Capabilities, mostrou que quanto mais cedo uma criança
tem acesso a smartphones, maior o risco de desenvolver pensamentos suicidas,
distanciamento da realidade, baixa autoestima e dificuldades na regulação
emocional.
O levantamento analisou dados de jovens adultos que
tiveram o primeiro contato com smartphones durante a infância.
Como o
uso do celular pode afetar a saúde mental?
De acordo com o estudo, jovens que
receberam smartphones antes dos 13 anos apresentam:
• Pensamentos suicidas;
• Dificuldades para lidar com emoções;
• Baixa autoestima e autoconfiança;
• Sensação de desconexão da realidade.
A pesquisa mostrou que meninas que
receberam o celular aos 5 ou 6 anos relataram 48% mais pensamentos suicidas do
que as que receberam aos 13 anos. Entre meninos, a diferença foi de 31% para
20%.
O levantamento é global e os efeitos foram
identificados em todas as regiões analisadas, sendo mais intensos em países de
língua inglesa.
“Hoje, 41% dos jovens de 18 a 34 anos lutam
com sintomas ou funções diminuídas que prejudicam significativamente sua vida
diária [...] Quando crianças apresentam essa magnitude e gravidade de
sofrimento mental e funcionamentos diminuídos, a intervenção não deve esperar”,
afirma Tara Thiagarajan, fundadora do Sapien Labs, organização responsável pelo
estudo.
Celular
é o único culpado por afetar a saúde mental de jovens?
O estudo mostra que o uso precoce de
celulares está ligado a impactos na saúde mental, mas não é apenas o aparelho
que causa esses efeitos. Os pesquisadores identificaram quatro fatores
principais que explicam como o acesso precoce a smartphones afeta crianças e
pré-adolescentes:
1. Acesso a redes sociais: é responsável por cerca de 40% da associação entre idade de uso e saúde
mental. As redes sociais expõem
crianças a conteúdos algorítmicos que podem interferir no desenvolvimento
emocional e social.
2. Sono interrompido: usar smartphones em horários
inadequados ou por muito tempo atrapalha o sono, mas apenas 19% desse impacto
está ligado ao uso das redes sociais, mostrando que outras
atividades digitais também contribuem.
3. Cyberbullying: comentários agressivos e exposição a situações de
assédio online são fatores importantes. Eles representam 10% do efeito global,
sendo em grande parte decorrentes do acesso precoce às redes sociais.
4. Relações familiares fragilizadas: crianças que começam a usar smartphones mais cedo tendem
a ter vínculos familiares menos estáveis, o que responde por 13% do impacto
observado na saúde mental.
“Isso exige uma ação urgente
que limite o acesso de crianças, bem como uma regulamentação mais rigorosa
sobre o ambiente digital ao qual os jovens estão expostos”, destacou
Thiagarajan.
Ou seja, para ficar mais fácil de
compreender, o levantamento deixa claro que o celular por si só não explica
todos os problemas. O impacto na saúde mental acontece principalmente quando o dispositivo
é usado para acessar redes sociais, combinado com sono interrompido,
cyberbullying e relações familiares fragilizadas.
Além disso, o estudo mostra que, se o uso do celular antes dos 13 anos continuar sendo comum, quase
um terço da próxima geração pode apresentar dificuldades emocionais graves e
diminuição da autoconfiança.
Recomendações
do estudo
Diante dos resultados, os pesquisadores
defendem medidas de proteção semelhantes à regulamentação do álcool e do
tabaco. Entre as propostas estão:
• Educação digital obrigatória para crianças e
adolescentes, incluindo orientações sobre cyberbullying
e uso seguro de plataformas;
• Restrições de acesso a redes sociais para menores de 13 anos, com fiscalização efetiva por parte das empresas;
• Acesso gradual a smartphones, oferecendo aparelhos limitados para funções básicas e
educativas, sem conexão irrestrita à internet;
• Responsabilidade corporativa das plataformas
digitais, garantindo que respeitem limites etários
e promovam ambientes seguros.
Vale destacar que, embora o estudo seja
amplo e global, os autores lembram que ele mostra associação, não causa direta.
Também não foi possível controlar tempo de uso ou conteúdo acessado na
infância. Mesmo assim, os impactos observados reforçam a necessidade de
precaução em políticas públicas.
Por: Jornal da Paraíba