Sábado, 19 de novembro de 2016
A jovem recorreu à justiça para assegurar que sua mãe, que apoiava a ideia, tivese a última palavra sobre o destino de seu cadáver
A justiça britânica
autorizou o congelamento do corpo de uma jovem que apresentou um pedido pouco
antes de sua morte por câncer, com o sonho de ressuscitar graças aos avanços da
ciência, uma decisão legal sem precedentes no Reino Unido.
"Tenho
apenas 14 anos e não quero morrer, mas sei que vou morrer", escreveu a
jovem londrina em sua demanda.
"Acredito
que ser preservada em criogenia me dá uma oportunidade de cura e de acordar,
mesmo que seja em centenas de anos".
A jovem
recorreu à justiça para assegurar que sua mãe, que apoiava a ideia, tivesse a
última palavra sobre o destino de seu cadáver. Ou seja, se tratava, na verdade,
de um conflito mais familiar do que científico, visto que centenas de pessoas,
inclusive britânicas, foram congeladas.
Os pais
da garota estão divorciados e, inicialmente, o pai era contrário ao plano, mas
durante o processo acabou por aceitar a ideia.
O juiz
da Alta Corte Peter Jackson decidiu a favor da jovem após uma audiência privada
em outubro, cujo resultado foi divulgado nesta sexta-feira.
A jovem
demandante pediu que nenhum nome envolvido no processo fosse identificado.
A
adolescente estava muito doente para comparecer ao tribunal e faleceu pouco
depois, mas tendo conhecimento da decisão favorável do juiz, de acordo com a
defesa. O cadáver foi levado para os Estados Unidos, onde existem centros
dedicados à conservação dos corpos com a esperança de que a ciência consiga
ressuscitá-los algum dia.
Quando
foi informada sobre a decisão, em 6 de outubro, a adolescente "ficou
feliz", contou sua advogada, Zoe Fleetwood, à rede de televisão britânica
BBC.
"Queria
ver o juiz, que lhe visitou no dia seguinte. Conversamos após o encontro e ela
se referiu a ele como 'o senhor herói Peter Jackson'", acrescentou.
Perguntas
da ciência à lei
"Não é uma surpresa que esta demanda seja a primeira deste tipo a chegar à justiça neste país, e provavelmente em qualquer outro", afirma o juiz Jackson em sua decisão.
"Não é uma surpresa que esta demanda seja a primeira deste tipo a chegar à justiça neste país, e provavelmente em qualquer outro", afirma o juiz Jackson em sua decisão.
"É
um exemplo das novas perguntas que a ciência apresenta ao direito, talvez, mais
do que qualquer outro, ao direito familiar", acrescenta Jackson.
O
magistrado descreveu o caso como uma "combinação trágica" da doença
de uma jovem e um conflito familiar, elogiando a coragem da demandante.
A filha
não teve contato com o pai nos últimos oito anos de sua vida, mas ele expressou
inquietação com o custos e as consequências de sua decisão.
"Mesmo
que o tratamento tenha êxito e a devolva à vida, digamos, em 200 anos, poderia
estar sem nenhum parente nem lembrar de nada", disse o pai ao juiz antes
de terminar por aceitar a vontade da jovem.
Sem
garantia de sucesso
Segundo o jornal britânico The Times, os avós maternos pagarão as 37.000 libras (46.000 dólares) que custará o tratamento, que está sendo realizado nos Estados Unidos pelo Instituto de Criogenia, em Michigan.
Segundo o jornal britânico The Times, os avós maternos pagarão as 37.000 libras (46.000 dólares) que custará o tratamento, que está sendo realizado nos Estados Unidos pelo Instituto de Criogenia, em Michigan.
Esta
organização confirmou ter recebido, em 25 de outubro, o corpo, que será
resfriado a 196º negativos e mantido em nitrogênio líquido, à espera de uma
eventual ressuscitação.
O
Instituto de Criogenia foi criado em 1976 pelo professor de física americano
Robert Ettinger, considerado o pai da criogenia, e que foi congelado após sua
morte, em 2011, aos 92 anos.
Ettinger
desenvolveu a teoria de que "é possível conservar o cadáver
indefinidamente", de modo que um dia "a ciência médica possa reparar
os danos causados pela doença e pela criogenia".
O
Instituto, que conta com uma centena de corpos congelados, deixa claro que não
pode garantir o sucesso do tratamento.
Por Alfons LUNA
Por Alfons LUNA