Quarta-feira, 25 de janeiro de 2017
Desde então, mais de 50 pessoas tiveram os
sintomas. Duas delas morreram
Créditos: Reprodução / WEB
Em dezembro de 2016, moradores de Salvador e de dois municípios da
região metropolitana da capital começaram a buscar os serviços de saúde com
fortes dores musculares e urina escura. Desde então, mais de 50 pessoas tiveram
os sintomas. Duas delas morreram. Veja o que médicos e pesquisadores já sabem
sobre a doença misteriosa até o momento:
Quantas pessoas foram afetadas?
Houve 57 casos. Na Bahia, 52 apresentaram os sintomas: 50 em Salvador, 1 em
Vera Cruz e 1 em Lauro de Freitas, ambos municípios da região metropolitana da
capital. No Ceará, 5 casos foram registrados. Duas pessoas da Bahia morreram
com os sintomas.
Novos casos continuam aparecendo?
Não houve novas notificações desde o dia 5 de janeiro na Bahia. Os casos mais
recentes foram registrados no Ceará.
Quais são os sintomas?
Pacientes têm dores fortes no pescoço e nos músculos. Em alguns casos,
apresentam urina escura e insuficiência renal.
Esses sintomas sugerem um quadro de rabdomiólise, que é a morte das
células musculares por inflamação. Quando essas células morrem, liberam no
sangue uma proteína chamada mioglobina, de coloração escura. A mioglobina é
filtrada pelos rins, por isso a urina fica escura. Além disso, como a
mioglobina é tóxica aos rins, uma grande quantidade presente no sangue pode
levar à insuficiência renal.
A rabdomiólise pode ter causas físicas (esforços físicos extremos ou
trauma por esmagamento), químicas (toxinas ou drogas) ou infecciosas (por vírus
ou bactérias).
Por causa desses sintomas, a doença tem sido tratada nos boletins
epidemiológicos como "mialgia aguda a esclarecer" (mialgia significa
dor muscular).
Qual o perfil dos pacientes?
Segundo o infectologista Tiago Lobo, que atendeu vários pacientes com o quadro,
a maioria das pessoas afetadas são de classe média alta, o que sugere que a
doença não tenha relação com falta de saneamento básico.
O que provoca a doença?
Ainda não há uma conclusão definitiva. As duas principais hipóteses
consideradas são:
Intoxicação por peixe
Dos 52 pacientes da Bahia, 44 afirmaram terem comido peixe e 8 disseram que não
comeram. Os peixes consumidos foram das espécies olho de boi e badejo.
Existem casos registrados em vários lugares do mundo de pacientes com
sintomas parecidos aos da Bahia e do Ceará provocados pela ingestão de peixe,
classificados como doença de Haff. Em 2008, um surto de doença de Haff ligado
ao consumo do peixe pacu-manteiga atingiu 27 pessoas no Amazonas.
Desde 1924, quando a doença foi descrita pela primeira vez, houve surtos
registrados na Suécia, estados da antiga União Soviética, Estados Unidos e
China.
Parechovirus
Pesquisadores também verificam se o parechovirus poderia ter provocado os
sintomas. Amostras de fezes de alguns dos pacientes avaliadas pela Universidade
Federal da Bahia (UFBA) indicaram a presença do vírus, mas uma investigação
mais aprofundada ainda é aguardada. Casos de infecção pelo vírus já ocorreram anteriormente
no Brasil, Estados Unidos e Austrália.
Quem está investigando os casos?
Análises de amostras de urina, soro e fezes estão sendo conduzidas pela
Universidade Federal da Bahia (UFBA), pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) no
Rio de Janeiro, pelo Instituto Adolfo Lutz (IAL) em São Paulo e pelos Centros
de Controle e Prevenção de Doenças (CDC, na sigla em inglês) dos Estados
Unidos.
A doença pode se espalhar pelo
Brasil?
A doença foi primeiro identificada na Bahia e depois surgiram casos no Ceará. Quatro
dos cinco casos do Ceará ocorreram em uma mesma família e têm ligação com uma
pessoa que esteve em Salvador. Como a causa da doença ainda não foi
identificada, ainda não é possível saber se ela pode se espalhar pelo país. Se
for um vírus, há chance de a doença se espalhar. Se for uma intoxicação, os
casos tendem a ser pontuais.
Um caso registrado na cidade de Alagoinhas, na Bahia, traz indícios que
apontam para a transmissão por vírus. Segundo o infectologista Gúbio Soares, da
Universidade Federal da Bahia (UFBA), uma mulher grávida desenvolveu os
sintomas após entrar em contato com a irmã. Ela diz que não consumiu peixe. Uma
criança de 5 anos, da mesma família, também foi infectada. “Estes casos mostram
que a transmissão pode ser fecal/oral. Pode ser de uma família de vírus que se
dissemina desta maneira”, afirmou o médico.
Como se proteger?
Enquanto as causas não forem identificadas, o infectologista Tiago Lobo
recomenda que quem for visitar Salvador não consuma as duas espécies de peixe
que estão sendo investigadas como possível causa da doença: olho de boi e
badejo. “Não é motivo para pânico, mas é motivo para preocupação: se tiver
algum dos sintomas, procure assistência médica.”
Por G1