Sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017
O
paraibano Willians Araújo, que integra a seleção de judô paralimpico do Brasil,
foi confirmado ontem pela Federação Internacional de Esportes para Cegos (IBSA
– Sigla em inglês), como o primeiro do ranking mundial na categoria peso
pesado. Aos 25 anos de idade, ele esteve nos Jogos Paralímpicos Rio 2016 e
ajudou o País a conquistar quatro medalhas, todas de prata.
“Significa a concretização de um trabalho. Sempre falo isso, envolve muita
gente, todos os profissionais que trabalham comigo, tanto da seleção, quanto
daqui do Rio. Então é tudo fruto de um trabalho. Isso é uma semente que foi
plantada há oito ou nove anos, e eu sonhei muito em chegar a uma medalha no Rio
2016, e estar em primeiro no ranking para mim é uma consequência”, vibrou
Wilians Araújo que reside no Rio de Janeiro.
Além do paraibano, outros três brasileiros aparecem no Top 5 do ranking
mundial. Lucia Teixeira (-57 kg) e Alana Maldonado (-70 kg), vice-campeãs
paralímpicas, aparecem na terceira e segunda posições, respectivamente. Deanne
Almeia, que por pouco não subiu ao pódio no Rio, é a quarta melhor ranqueada na
divisão acima de 70 kg. Natural da cidade de Riachão do Poço, interior da
Paraíba, o judoca Willians Araújo não omite a vida difícil que teve na infância
e adolescência, até chegar aos dias atuais. Fez questão de dizer a jornalista
que perdeu a visão aos dez anos, em sua terra natal, enquanto brincava com
armas utilizadas para matar passarinhos.
Ainda jovem, foi morar no Rio de Janeiro, no Complexo do Alemão, na Zona
Norte, em busca de uma vida melhor. As condições, porém, eram precárias. “Eu
tinha vergonha da minha casa. Chovia e enchia tudo. Acordava e tinham ratos
passando pelos meus pés”, disse Willians. O começo da mudança aconteceu de
forma despretensiosa.
Em um ponto de ônibus, Willians conheceu Terezinha, espécie de “fada
madrinha” do judoca. Ela pediu licença para passar e ele, sem enxergar, não
percebeu o pedido. Funcionária do Instituto Benjamin Constant, que cuida de
deficientes visuais, Terezinha logo percebeu a situação e ofereceu ajuda ao
jovem. Ali sua vida mudou. “Ela falou que eu entrando para a escola poderia
praticar esportes, aprender a ler e escrever, depois me formar em alguma
universidade e viver como qualquer pessoa normal”, lembrou o judoca.
No Instituto, Willians, com 13 anos, passou pelo futebol e natação, mas se
encontrou mesmo foi no judô. Em um ano na modalidade, foi campeão de uma
paralimpíada escolar. O título foi a porta de entrada para o alto rendimento.
Em um torneio, mesmo na faixa amarela, foi terceiro lugar lutando contra rivais
na faixa preta.
O paraibano evoluiu a ponto de chegar até a seleção brasileira
paralímpica. Em Londres 2012, disputou os Jogos Paralímpicos, e conseguiu um
quinto lugar. Agora, depois de ajudar a família a ter uma vida melhor através
do esporte, ele é um dos principais nomes do judô paraolímpico nacional, sempre
presente nos pódios. Foi prata nas Paralimpíadas do Rio de Janeiro (2016),
bronze no Mundial Paralimpíco, nos Estados Unidos e medalha de ouro também no
mundial, por equipe. Um atleta que muito tem a dar para o sucesso do judô
paraolímpico brasileiro, conforme o Comitê Paralímpico Brasileiro – CPB.
Orgulhoso do caminho que seguiu, Willians sorri mesmo é quando se lembra
de tudo que passou e das condições de vida que conseguiu dar para os pais, os
tirando da situação precária que viviam. “Meu maior troféu foi dar uma casa
para meus pais e tirar eles de uma área de risco. Hoje, conseguem viver
tranquilamente”, disse ele, que também ajuda a pagar a faculdade de pedagogia
da irmã.
Redação do PBAgora com assessoria