Terça-feira, 27 de junho de 2017
Doença atinge,
em geral, pessoas com mais de 60 anos e gera tremores e dificuldades nos
movimentos; segundo cientistas, o sistema imunológico pode estar contribuindo
para a evolução dela nos pacientes.
Mal de Parkinson atinge, em geral, pessoas com mais de 60 anos; no Brasil, estima-se que 200 mil pessoas sofram com a doença (Foto: Freeimages)
Uma equipe científica diz ter encontrado a primeira evidência
direta de que o mal de Parkinson pode ser "autoimune". Segundo
cientistas, o sistema imunológico atacaria células do cérebro em pessoas que
sofrem da doença.
Essa hipótese surgiu pela primeira vez há
quase um século, mas até agora não havia informações suficientes para
confirmá-la.
A descoberta foi publicada em detalhes na
revista científica Nature e mostra que medicamentos indicados para o sistema
imunológico podem ajudar a controlar a doença.
O mal de Parkinson causa danos progressivos
no cérebro, que geram tremores e dificuldades de movimento. Em paralelo, o
cérebro dos pacientes que sofrem da doença acumula níveis muito altos da
proteína alfa-sinucleína.
Os pesquisadores do centro médico da
Universidade Columbia e do Instituto de La Jolla para Alergia e Imunologia, nos
EUA, descobriram que as células-T, que fazem parte do sistema imunológico,
atacam a alfa-sinucleína.
Isso significa que o sistema imunológico de
quem sofre do mal de Parkinson identifica essa proteína como um invasor
estranho, como se fosse uma bactéria ou vírus, e ataca-a para defender o
organismo.
Os cientistas acreditam que, nesse
processo, o sistema imunológico acaba matando também células cerebrais boas que
acumulam essas proteínas.
"A ideia é que uma falha no sistema
imunológico contribui para o mal de Parkinson. Isso é algo que já se suspeitava
havia quase cem anos", disse à BBC David Sulzer, um dos pesquisadores da
Universidade Columbia. "Até agora, porém, ninguém havia conseguido
conectar os pontos".
A pesquisa foi feita com análise do sangue
de 67 pacientes com Parkinson para tentar encontrar evidências de
autoimunidade.
Outras hipóteses
Sulzer acredita
que esse estudo tem forte elo com outra hipótese sobre o mal de Parkinson: a de
que a doença poderia ter início no intestino.
"Suspeitamos que as células-T primeiro
identificam a alfa-sinucleína no sistema nervoso do intestino, o que não causa
nenhum problema. O problema começa quando as células-T entram no cérebro",
explicou Sulzer.
"Nossos resultados sugerem a possibilidade de
utilizar-se uma estratégia com imunoterapia para aumentar a tolerância do
sistema imunológico com relação à alfa-sinucleína, o que poderia ajudar a
melhorar ou prevenir o agravamento dos sintomas do mal de Parkinson",
agregou o médico Alessandro Sette, da La Jolla.
Para David Dexter, da organização
beneficente Parkinson UK, a descoberta dá maior peso à ideia de que o mal de
Parkinson pode envolver uma "falha" ou "confusão" do
sistema imunológico, que acaba danificando células boas do cérebro para
combater a proteína que identifica como invasora.
No entanto, ele faz uma ressalva.
"Ainda temos que entender muito mais sobre como esse sistema imune pode
estar envolvido na complexa cadeia de eventos que contribuem para o mal de
Parkinson."
"Essa descoberta apresenta uma nova
via para explorar o desenvolvimento de novos tratamentos que podem amenizar ou
até controlar o progresso da doença", afirmou Dexter.
Por BBC