Sábado, 20 de janeiro de 2018
O fato de
jovens estarem optando por estudar por um período de tempo mais longo, não só
até a faculdade, assim como a decisão cada vez mais frequente de adiar
casamento e maternidade/paternidade, estariam mudando a percepção das pessoas
de quando a vida adulta começa, dizem pesquisadores australianos em um artigo
publicado nesta semana na revista científica Lancet Child & Adolescent
Health.
Para eles, a redefinição da
duração da adolescência seria essencial para assegurar que as leis que dizem
respeito a esses jovens continuassem sendo asseguradas.
Outros especialistas, no entanto,
dizem que postergar o fim da adolescência pode mais adiante infantilizar os
jovens.
Puberdade
A duração da adolescência já
chegou a ser alterada antes, quando se concluiu que, com os avanços da saúde e
da nutrição, a puberdade iniciava antes do 14 anos, como se convencionava.
Essa fase tem início quando uma
parte do cérebro, o hipotálamo, ativa as glândulas hipófise e gônadas, que,
entre outras coisas, liberam hormônios sexuais.
Ela costumava acontecer por volta
dos 14 anos, mas caiu gradualmente no mundo desenvolvido nas últimas décadas
até o patamar de 10 anos.
Como consequência, em países
industrializados como o Reino Unido a idade média para a primeira menstruação
de uma garota caiu quatro anos nos últimos 150 anos.
Metade das mulheres agora fica
menstruada pela primeira vez entre 12 e 13 anos.
A biologia também é usada como
argumento por aqueles que defendem que a adolescência termina mais tarde - e
que dizem, por exemplo, que o corpo continua a se desenvolver.
O cerébro continua se
desenvolvendo depois dos 20 anos, trabalhando de maneira mais rápida e
eficiente. E para muitos os dentes do siso não nascem até que complete 25 anos.
Adiando planos familiares
Os mais jovens também estão
adiando o casamento e a maternidade/paternidade.
De acordo com o Escritório
Nacional de Estatísticas do Reino Unidos, a idade média para o primeiro
casamento de um homem era 32,5 anos em 2013 e de 30,6 para as mulheres na
Inglaterra e no País de Gales. Isso significa um aumento de 8 anos desde 1973.
No artigo que explica os motivos
para o aumento da duração da adolescência, Susan Sawyer, diretora do Centro
para a Saúde do Adolescente do Hospital Royal Children's em Melbourne, na
Austrália, escreve: "Apesar de muitos privilégios legais da vida adulta
começarem aos 18 anos, a adoção das responsabilidades e do papel de adulto
geralmente acontece mais tarde".
Ela diz que postergar o
casamento, o momento de ter filhos e a independência financeira significa
"semidependência", o que caracteriza que a adolescência foi
estendida.
No Brasil, a permanência por cada
vez mais tempo dos jovens na casa dos pais é uma marca da chamada "geração
canguru", nome dado pelo IBGE em 2013 ao fenômeno que engloba pessoas de
25 a 34 anos e que vem crescendo no país. Os dados foram divulgados na Síntese
de Indicadores Sociais - Uma análise das condições de vida da população
brasileira, com dados referetes ao intervalo entre 2002 e 2012.
Mudança nas leis
Essa mudança, pondera Sawyer,
precisa ser levada em consideração pelos políticos, para que as leis e
benefícios voltados a esse público sejam alterados.
"Definições de idade são
sempre arbitrárias, mas nossa atual definição de adolescência está
excessivamente restrita", diz a cientista.
Russell Viner, presidente da
associação Royal College de pediatria e saúde infantil, diz que no Reino Unido
a idade média para um jovem sair de casa é 25 anos. Ele apoia a ideia de que a
adolescência seja estendida até os 24 anos e diz que os serviços no Reino Unido
já levam isso em conta.
Segundo ele, hoje as leis no
Reino Unido consideram a idade de até 24 anos para o governo garantir a
provisão de serviços para crianças e adolescentes que precisam de atendimento
especial (seja por abandono ou outro motivo) e que têm necessidades especiais
em termos educacionais.
Infantilizar os adultos
A socióloga da Universidade de
Kent Jan Macvarish, que estuda paternidade, diz que há um perigo em estender o
conceito de adolescência.
"Crianças mais velhas e
jovens são moldados de maneira mais significativa pelas expectativas da
sociedade sobre eles com o seu intrínseco crescimento biológico", ela diz.
"Não há nada necessariamente
infantil em passar o início dos seus 20 anos no ensino superior ou tendo
experiências no mundo do trabalho." E não deveríamos arriscar transformar
o desejo deles por independência em uma patologia. "A sociedade deveria
manter as expectativas mais altas em relação à geração seguinte", diz
Macvarish.
Viner discorda dela e diz que
ampliar a adolescência pode ser visto como dar poder aos jovens ao reconhecer
as diferenças deles.
"Contanto que isso seja
feito de uma posição de reconhecimento dos pontos fortes dos jovens e do
potencial do desenvolvimento deles em vez de focar os problemas da
adolescência."
G1