Quarta-feira, 04 de maio de 2018
Supertratamento inclui cinco antirretrovirais, sal de ouro
e nicotinamida, que reduzem as células infectadas, e vacina, que induz corpo a
reagir
Tratamento com antirretrovirais é combinado com duas substâncias e uma vacina. Thinkstock
Um grupo de pesquisadores brasileiros ligados à Universidade
Federal de São Paulo (Unifesp) está muito perto da cura esterilizante do HIV,
ou seja, de eliminar completamente o vírus que causa a Aids.
A pesquisa foi apresentada nesta
segunda-feira (30) em São Paulo, em um congresso organizado pela Sociedade
Brasileira de Infectologia e Sociedade Brasileira de Hepatologia.
Há cerca de seis anos, os cientistas liderados pelo médico
infectologista Ricardo Diaz tentavam entender por que os medicamentos
disponíveis no mercado não eliminam completamente o vírus para, a partir desta
informação, criar uma droga capaz de curar uma pessoa portadora de HIV.
“Nós precisávamos determinar
quais são as barreiras que impedem a cura com o tratamento convencional, porque
quando o paciente está tomando o coquetel, mesmo que a carga viral seja
indetectável, o vírus ainda está lá”, explica Diaz.
Ricardo Diaz apresentou a pesquisa. Meeting the Experts/Rodrigo Augusto
Essas barreiras deixaram de ser um mistério nos primeiros anos
de pesquisa. A equipe descobriu que o vírus HIV consegue enganar os
antirretrovirais.
Os remédios destroem os vírus
que estão se multiplicando, então, para se esconder, o HIV fica quieto, sem se
multiplicar e aparecer. Além disso, ele se esconde em células onde os
antirretrovirais não conseguem atuar, como cérebro, intestino, ovários e
testículos.
“Quando o paciente para de tomar
o coquetel e o medicamento não entra mais no organismo, o vírus volta a
aparecer e a se multiplicar rapidamente”, diz o médico.
A um passo da cura
Para vencer esses obstáculos, a
pesquisa da Unifesp passou a ser a primeira no mundo a fazer testes em humanos.
O primeiro passo foi formar um grupo de 30 voluntários com carga
viral indetectável, que já faziam tratamento com três tipos de
antirretrovirais. Eles foram divididos em seis subgrupos e cada um recebeu um
tipo diferente de combinação de medicamentos.
"Os voluntários que
apresentaram uma redução significativa no número de células contaminadas com o
HIV foram os que tomaram, além dos três que já tomavam, mais dois
antirretrovirais: o dolutegravir, o mais forte que existe no momento, e o
maraviroc, uma substância capaz de reverter a latência, ou seja, de forçar o
vírus que está escondido a aparecer", afirma Diaz.
Combinado a isso, os pacientes
foram submetidos a duas descobertas da equipe.
A primeira é a nicotinamida, uma
vitamina que os cientistas perceberam também ser capaz de reverter a capacidade
do HIV se esconder nas células.
A segunda é a auranofina,
conhecida como sal de ouro. Os pesquisadores descobriram que ela é capaz de
encontrar a célula infectada com o HIV e levar esta célula ao suicídio.
"Com a combinação dos cinco antirretrovirais, da
nicotinamida e da auranofina, conseguimos uma redução sem precedentes no número
de células infectadas nesses pacientes. Mas ainda não eliminamos completamente
a carga viral. Ainda restaram algumas células infectadas. Para alcançar a cura
total, desenvolvemos o que chamamos de vacina de células dendríticas”,
Ricardo Diaz
“Com a combinação dos cinco antirretrovirais, da nicotinamida e
da auranofina, nós conseguimos uma redução sem precedentes no número de células
infectadas nesses pacientes. Mas ainda não eliminamos completamente a carga
viral. Ainda restaram algumas células infectadas. Para alcançar a cura total,
desenvolvemos o que chamamos de vacina de células dendríticas”, explica.
Essa vacina é feita com o vírus
e as células do próprio paciente. Ela consegue ensinar o organismo a encontrar
as células infectadas e destruir cada uma delas - e desta forma, eliminar
completamente o vírus HIV do organismo.
O resultado final deve sair em
dois meses e vai ser apresentado no Congresso Mundial de Aids que acontece no
mês de julho, na Holanda.
O infectologista que chefia a
equipe se mostra confiante e acredita estar muito perto da cura. “A gente
aproximou esses pacientes da cura e agora precisamos saber exatamente o que
acontece com essas pessoas quando retirarmos os remédios”.
Gabriela Lisbôa, do R7