Quinta-feira, 08 de novembro de 2018
Segundo pesquisadores,
algumas espécies de árvores não conseguem crescer com a mudança climática.
Pesquisadores medem árvores na Amazônia brasileira — Foto: Adriane Esquivel Muelbert, University of Leeds
Uma equipe de mais de 100 cientistas avaliou o impacto do
aquecimento global em milhares de espécies de árvores em toda a Amazônia para
descobrir os vencedores e perdedores de 30 anos de mudança climática. Sua
análise descobriu que os efeitos das mudanças climáticas estão alterando a
composição das espécies arbóreas da floresta tropical, mas não o suficiente
para acompanhar o ambiente em mudança.
A equipe, liderada
pela Universidade de Leeds em colaboração com mais de 30 instituições em todo o
mundo, usou registros de longo prazo de mais de cem parcelas como parte da Rede
de Inventário da Floresta Amazônica (RAINFOR) para rastrear as vidas de árvores
individuais em a região amazônica.
Seus resultados
mostraram que, desde a década de 1980, os efeitos das mudanças ambientais
globais - secas mais fortes, aumento da temperatura e níveis mais altos de
dióxido de carbono na atmosfera - afetaram lentamente o crescimento e a
mortalidade de espécies específicas.
Em particular, o
estudo descobriu que as espécies de árvores que preferem a umidade estão
morrendo mais freqüentemente do que outras espécies e aquelas adequadas para
climas mais secos não foram capazes de substituí-las.
A autora do estudo,
Adriane Esquivel Muelbert, da Escola de Geografia de Leeds, disse: "A
resposta do ecossistema está atrasada em relação à taxa de mudança climática.
Os dados nos mostraram que as secas que atingiram a bacia amazônica nas últimas
décadas tiveram sérias consequências a composição da floresta, com maior
mortalidade em espécies arbóreas mais vulneráveis a secas e crescimento
compensatório insuficiente em espécies melhor equipadas para sobreviver a
condições mais secas."
Parte da floresta amazônica no Brasil que está morrendo — Foto: Adriane Esquivel Muelbert, University of Leeds
A equipe também descobriu que árvores maiores -
predominantemente espécies de dossel nos níveis superiores das florestas -
estão competindo com plantas menores. As observações da equipe confirmam a
crença de que as espécies do dossel florestal seriam "vencedores" da
mudança climática, pois se beneficiam do aumento do dióxido de carbono, o que
pode permitir que cresçam mais rapidamente. Isso sugere ainda que concentrações
mais altas de dióxido de carbono também têm um impacto direto na composição da
floresta tropical e na dinâmica da floresta - a forma como as florestas
crescem, morrem e mudam.
Além disso, o estudo mostra que as
árvores pioneiras - árvores que brotam rapidamente e crescem em clareiras
deixadas para trás quando as árvores morrem - estão se beneficiando da
aceleração da dinâmica da floresta.
O coautor do estudo, Oliver Phillips,
professor de Ecologia Tropical em Leeds e fundador da rede RAINFOR, disse:
"O aumento em algumas árvores pioneiras, como a cecropia de crescimento
extremamente rápido, é consistente com as mudanças observadas na dinâmica da
floresta, que também pode em última análise, ser impulsionado pelo aumento dos
níveis de dióxido de carbono".
O co-autor Dr. Kyle Dexter, da
Universidade de Edimburgo, disse: "O impacto das alterações climáticas nas
comunidades florestais tem importantes consequências para a biodiversidade das
florestas tropicais. As espécies mais vulneráveis às secas estão duplamente
em risco, pois são tipicamente as mais restritas para menos locais no coração
da Amazônia, o que os torna mais propensos a serem extintos se esse processo
continuar".
"Nossas descobertas destacam a necessidade de medidas
rigorosas para proteger as florestas intactas existentes. O desmatamento para
agricultura e pecuária é conhecido por intensificar as secas nesta região, o
que está exacerbando os efeitos já causados pela mudança climática
global", disse Dexter.
Fonte: G1 Brasil