Domingo, 28 de abril de 2019
Em entrevista, ex-presidente atacou Dallagnol e Moro e disse que não
abrir mão de suas convicções para provar que é inocente.
"Vou trabalhar muito para provar a minha inocência e a farsa que foi montada", disse Lula (Foto: Reprodução)
Em sua primeira
entrevista desde que em 07 de abril de 2018, o ex-presidente Lula não poupou
críticas ao ex-juiz Sérgio Moro e ao procurador Deltan Dallagnol. Falando a
jornalistas dos jornais Folha de S. Paulo e El País, o petista afirmou que
adoraria estar em casa com esposa, filhos, netos e "companheiros, mas só
vai sair da prisão de "cabeça erguida", nem que para isso precise
ficar 100 anos detido. Atacando os responsáveis por sua condenação, o político
afirmou que dorme todos os dias de "consciência tranquila" e que tem
certeza que o mesmo não acontece com Moro e Dallagnol.
Incisivo durante toda a entrevista, Lula disse
que tem "obsessão em desmascarar Moro e Dallagnol" e que não há lugar
melhor para isso do que Curitiba, local onde funciona a Força-Tarefa da
Operação Lava Jato.
"Na minha idade, quando a gente fica com
ódio a gente morre antes. Como eu quero viver até os 120 anos, eu vou trabalhar
muito para provar a minha inocência e a farsa que foi montada, por isso eu vim
para cá [Superintendência da PF, em Curitiba] com muita tranquilidade",
disse o ex-presidente.
Lula também não poupou críticas aos
magistrados que o condenaram na segunda instância. Afirmou que os juízes não
leram a sentença de Sérgio Moro e, citando sua idade e sua origem,
garantiu que não vai se entregar.
"Aqueles juízes do TRF-4 nem leram a
sentença. Parece que fizeram um acordo lá e decidiram que, 'olha, todo mundo
vota igual'. Quem tem 73 anos de idade, quem construiu o que construiu para o
País, quem fez o governo que eu fiz, quem recuperou o orgulho do povo
brasileiro, não vai se entregar. Eles sabem que aqui um pernambucano teimoso.
Quem nasceu em Pernambuco e não morreu de fome até os cinco anos de idade, não
se curva mais a nada".
Lula também demonstrou confiança em que os
ministros do Supremo Tribunal Federal ( STF ) o julguem baseados apenas nos
autos processo, o que, segundo o petista, não aconteceu em nenhuma das
instâncias anteriores. Usando o termo "fake news", o político se
colocou como vítima de julgamentos baseados em capas de revistas e manchetes de
jornais.
"Haverá um dia em que as pessoas que vão
me julgar estarão preocupadas com os autos do processo, com as provas e não com
a manchete do jornal ou a capa da revista e não com as fake news. De uma corte
que é a única coisa que a gente não pode recorrer, que já tomou decisões muito
importante. Essa corte já votou questões da célula-tronco contra boa parte da
Igreja Católica. Ela já demonstrou que teve coragem e se comportou, mas no meu
caso a única coisa que eu quero é que vote com relação aos autos do processo.
Eu não peço favor a ninguém, eu só quero que as pessoas julguem em função das
provas", disse.
Em outro momento da entrevista, Lula voltar a
falar que seguirá lutando pela sua inocência, mas faz questão de ressaltar que
está preocupado com o momento atual do Brasil. Sem citar o nome de Jair
Bolsonaro , o petista chama a imagem que o País está tendo no exterior de
"avacalhação" e lamenta que seus sonhos para o povo brasileiro não
estejam acontecendo.
"Eu estou aqui para provar minha
inocência, mas estou muito mais preocupado com o que está acontecendo com o
povo brasileiro, porque eu posso brigar, o povo não pode. [...] Eu fico
preocupado com meus filhos, porque eu estou com os meus bens todos bloqueados,
mas eu fico preocupado mesmo é com a situação do Brasil. Eu não consigo
imaginar que os sonhos que eu tive para esse País não estajam acontecendo.
Agora eu vejo que o prefeito de Nova York não quer fazer um almoço com o
presidente do Brasil. A que ponto nós chegamos? Que avacalhação! O Brasil tem o
mais baixo nível de política externa que já vi na vida", lamentou.
Lula ainda falou sobre as brigas de Bolsonaro
com o vice, Hamilton Mourão, e comparou as denúncias de relações do atual
presidente com milícias ao seu processo. "Imagine se os milicianos do
Bolsonaro fossem amigos da minha família?".
"Eu acompanhei a briga entre os dois
[Bolsonaro e Mourão] pelas manchetes. O que não pode é esse país estar
governado por esse bando de maluco que governa o país. O país não merece isso e
sobretudo o povo não merece isso", defendeu.
A entrevista de Lula à Folha de S. Paulo e ao
El País foi o centro de uma disputa da imprensa com ministros do STF. Os
jornais solicitaram a entrevista ao Supremo em setembro de 2018 e foram
autorizados por Ricardo Lewandowski. Dias depois, porém, Luiz Fux censurou
qualquer publicação a respeito defendendo que o Brasil passava por um período
eleitoral.
Na semana passada, o presidente do STF, Dias
Toffoli, enfim resolveu liberar a entrevista do ex-presidente aos jornais após
a confirmação da Polícia Federal sobre a possibilidade da mesma acontecer na
Superinetência da PF em Curitiba, onde o petista está preso.
Condenado em segunda instância a 12 anos e 1
mês de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso do tríplex do
Guarujá, o ex-presidente teve a pena reduzida pelos ministros do Superior
Tribunal de Justiça (STJ) a 8 anos, 10 meses e 20 dias em reclusão na última
terça-feira (23). A decisão pode fazer com que o petista vá para o regime
semiaberto em setembro.
Lula também já foi condenado em primeira
instância a 12 anos e 11 meses de prisão por corrupção passiva e lavagem de
dinheiro através de reformas em um sítio de Atibaia. O petista ainda é réu em
outros cinco processos.
Fonte: IG