Terça-feira, 02 de julho de 2019
Antes, já era sabido que
esse tipo de treinamento intenso sem intervalos necessários levava à síndrome
do overtraining, desencadeando sintomas como depressão, insônia,
irritabilidade, queda na imunidade, perda de apetite e de peso.
A inflamação no hipotálamo foi associada à diminuição do apetite e do peso corporal dos camundongos. (Foto: Reprodução)
A prática de
exercícios físicos intensos sem o tempo de recuperação adequado provoca
alterações negativas em estruturas vitais do organismo, como coração, fígado e
sistema nervoso central, revela pesquisa desenvolvida na Universidade de São
Paulo (USP), em Ribeirão Preto.
Antes, já era sabido que esse tipo de
treinamento intenso sem intervalos necessários levava à síndrome do
overtraining, desencadeando sintomas como depressão, insônia, irritabilidade,
queda na imunidade, perda de apetite e de peso.
O trabalho mostra que os prejuízos vão além da
queda do rendimento.
O professor Adelino Sanchez Ramos da Silva, da
Escola de Educação Física e Esporte, disse que a síndrome de overtraioning era
explicada, até então, pelo fato de que lesões no tecido musculoesquelético
causadas pelo exercício excessivo induziriam à liberação na corrente sanguínea
de substâncias pró-inflamatórias (proteínas produzidas por células de defesa e
conhecidas como citocinas), que desencadeariam os efeitos sistêmicos.
A pesquisa, coordenada por ele, comprovou essa
hipótese, formulada há 20 anos, e mostrou que há outras alterações negativas em
órgãos vitais.
“O diferencial dos nossos estudos, que vêm
sendo desenvolvidos há 10 anos, é que, além dessas alterações, nós verificamos,
em estudos com camundongos, que o desequilíbrio entre o excesso de exercício
físico e o período destinado à recuperação está associado a uma inflamação em
músculos esqueléticos, sangue, hipotálamo, coração e fígado”, explicou Silva.
Subida e descida
Foram feitos testes com camundongos, submetidos a diferentes práticas de
overtraining, como corrida no plano, na subida e na descida, durante oito
semanas.
Todos os protocolos de exercícios em excesso
provocaram prejuízo na sinalização da insulina no tecido musculoesquelético, ou
seja, as células musculares ficaram com mais dificuldade de captar a glicose
que circula no sangue.
“Essa dificuldade foi compensada tanto pelo
coração quanto pelo fígado, que aumentaram os estoques de glicogênio”, disse
Silva.
Ele acrescentou que o coração apresentou
sinais de fibrose e também sinais moleculares de hipertrofia patológica. O
fígado teve aumento da gordura que ocorre, por exemplo, em doenças como
diabetes e obesidade.
A inflamação no hipotálamo foi associada à
diminuição do apetite e do peso corporal dos camundongos.
“É importante frisar que, após duas semanas de
recuperação total, em que os animais não foram submetidos a nenhuma sessão de
treinamento, as alterações inflamatórias no músculo esquelético, no soro e no
hipotálamo retornaram aos valores normais, no entanto, o desempenho dos animais
continuou diminuído”, afirmou.
Segundo o pesquisador, esse resultado sugere
que outros mecanismos, além da citocinas pró-inflamatórias, estejam envolvidos
na diminuição do desempenho em resposta ao desequilíbrio entre o excesso de
exercício físico e o período destinado à recuperação.
“Os próximos passos da nossa pesquisa serão
avaliar animais que apresentam deficiência dessa citocinas, que são conhecidos
como animais nocaute, para que possamos averiguar qual o real papel dessas
citocinas”, afirmou.
Educação física
Silva destacou que o exercício físico - feito de forma regular e moderada e sob
orientação de um profissional de educação física - é uma estratégia “não
farmacológica extremamente eficiente para a prevenção e tratamento de diversas
patologias”.
“Os nossos resultados servem como alerta para
os indivíduos que treinam em excesso e não respeitam um período adequado de
recuperação.
Esse período varia muito em relação a sessões
de treinamento e ao nível inicial de condicionamento do praticante.
De forma geral, nós podemos dizer que um
período entre 24 horas e 48 horas é suficiente para a recuperação”, finalizou.
Agência Brasil