Segunda-feira, 02 de setembro de 2019
Se não for
corrigida, má postura pode gerar dor crônica e lesões que podem até precisar de
cirurgia
Milhões de pessoas convivem com a dor gerada pela má postura (Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil)
A Organização Mundial da
Saúde (OMS) estima que pelo menos 37% da população brasileira, cerca de 60
milhões de pessoas, convivem com a dor gerada pela má postura ao manusear os
smartphones. O número já é mais do que a média mundial que é de 35%.
Segundo pesquisa da Fundação
Getúlio Vargas (FGV), os celulares ativos já somam 230 milhões no Brasil, um
crescimento de 10 milhões em comparação com 2018 .O Brasil tem mais
dispositivos digitais do que brasileiros, uma média de dois smartphones,
notebooks, computadores ou tablets por habitante.
Por isso, profissionais da
saúde estão alertando os usuários com relação à postura ao utilizar os
aparelhos. Se não for corrigida, pode gerar dor crônica e lesões que podem até
precisar de cirurgia.
A ortopedista do Grupo Notedrame
Intermédica, Liége Mentz-Rosano, explicou que o uso do celular faz com que a
pessoa fique em uma posição viciosa, levando o pescoço a fazer uma flexão, que
eleva o peso carregado pela região.
“Quando ficamos em uma
posição neutra de zero graus, é exercida uma força de cinco quilos. À medida em
que vamos dobrando o pescoço e fazendo uma curva, o ângulo aumenta e a pressão
exercida ao chegar em 30 graus será de 18 quilos. Aos 60 graus, chega em 30
quilos”, destacou.
Segundo Liège, isso leva à
sobrecarga nos discos, que são como borrachinhas entre cada vértebra, que
servem como amortecedores para evitar lesões quando são feitos movimento de
impacto, além de serem fundamentais para a mobilidade.
“Essas lesões causadas pelo
uso excessivo do celular podem levar à degeneração do disco, que vai formando
uma barriga, que nada mais é do que a hérnia de disco. Essas hérnias podem
resultar na compressão dos nervos, ocasionando perda de força, formigamento
braços, artrose precoce nas pessoas mais jovens, degeneração não só no disco,
mas na parte óssea”, disse Liége.
A médica explicou ainda que
muitas vezes as lesões da cervical podem levar o indivíduo a sentir dores
fortes de cabeça, sem associar os fatos. “Muitas vezes as pessoas têm dor de
cabeça e não sabem que é do pescoço. Temos inclusive, visto um aumento grande
na incidência de pessoas mais jovens, adolescentes, jovens adultos e até
crianças que relatam dor no pescoço e dores de cabeça por conta da lesão.”
Prevenção
Liége reforçou que a
prevenção é a melhor forma para evitar esses problemas. Além de manter a
postura correta ao manusear o celular, levando-o a uma posição neutra em que se
consiga olhar discretamente para baixo, utilizar apoios, ou transferir os
aplicativos possíveis para o computador, é preciso fazer exercícios de
fortalecimento e alongamento de uma a mais vezes por dia. “Quando fortalecemos
a musculatura anterior e posterior, fortalecemos as estruturas do pescoço. Isso
protege e ajuda na correção postural.”
De acordo com o responsável
técnico de hospital Anderson Benine Belezia, há diferentes métodos de imagem
para avaliar a coluna cervical. O primeiro é uma radiografia simples da região,
exame simples pelo qual é possível avaliar as estruturas ósseas e ver sinais
que podem sugerir problemas no disco intervertebral. O segundo é uma tomografia
computadorizada, que tem a maior capacidade de avaliação das estruturas ósseas.
Já o terceiro, a ressonância magnética é o que tem melhor capacidade de
avaliação de danos nos discos interverterias (hérnias principalmente), podendo
avaliar eventuais compressões nervosas e da medula com maior precisão que
outros métodos.
“Nos três exames, o médico
radiologista avalia as alterações presentes ou não, correlacionando com os
dados clínicos informados pelo médico solicitante ou pelo próprio paciente, e
fornece uma descrição detalhada dos achados de imagem que poderão nortear o
tratamento e manejo clínico ou cirúrgico do paciente”, explicou Belezia.
A nutricionista Jessica Ramos
contou que tem o hábito de utilizar o celular de 12 a 15 horas por dia.
Foi depois de concluir seu mestrado – momento em que teve mais tempo para ficar
no celular – que começou a sentir mais dores no pescoço, irradiando para o
ombro e braço. “Até meus dedos doem ao digitar. Eu acredito que esteja
associado ao uso excessivo do celular. A médica me pediu para fazer alguns
exames e me passou medicações leves. Agora estou tomando mais cuidado com a
postura, tentando usar o fone de ouvido nas ligações e quando mando mensagem
colocar a postura mais ereta possível”, disse.
Por: Agência Brasil