Segunda-feira, 20 de janeiro de 2020
O veneno desses insetos
(artrópodes) contém pedados de proteína, chamados de peptídeos, que têm ação
antimicrobiana.
Em geral, a produção de medicamentos é investimento que exige longo prazo (Foto: Reprodução)
Pesquisa financiada
pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientifico e Tecnológico (CNPq) e
desenvolvida pelo Instituto de Patologia e Medicina Tropical da Universidade
Federal de Goiás (UFG) poderá criar alternativas de tratamento da tuberculose,
a partir dos venenos do escorpião e das vespas. O veneno desses insetos
(artrópodes) contém pedados de proteína, chamados de peptídeos, que têm ação
antimicrobiana.
Esses peptídeos protegem vespas e escorpiões
de contágios, porque se fixam na parede das bactérias e não permitem que haja
troca de nutrientes com o meio externo e, assim, provocam a morte das
bactérias. Os cientistas da UFG conseguiram modificar a proteína, aplicar em
testes com camundongos para verificar o efeito sobre diversas doenças. Eles
colheram bons resultados contra a tuberculose.
“Não tem como a bactéria montar um mecanismo
de resistência”, assinala Ana Paula Junqueira Kipnis, coordenadora do projeto e
professora do Instituto de Patologia e Medicina Tropical.
Segundo sua comparação, os outros antibióticos
“têm que entrar na bactéria, interferir com enzimas no metabolismo para
conseguir matá-la. A bactéria, no entanto, cria mecanismos para impedir a ação
desses fármacos, jogando a droga para fora ou produzindo enzimas que quebram o
remédio.”
A tuberculose é uma doença infecciosa,
transmitida pelo Mycobacterium tuberculosis ou bacilo de Koch, que propaga pelo
ar após fala, espirro ou tosse das pessoas infectadas, atingindo principalmente
os pulmões. A forma de prevenção da tuberculose em crianças é a vacina BCG
(Bacillus Calmette-Guérin). O tratamento em pessoas infectadas é feito com
quatro fármacos e observação direta. A vacinação e o tratamento são ofertados
gratuitamente no Sistema Único de Saúde (SUS).
“No Brasil, a doença é um sério problema da
saúde pública, com profundas raízes sociais. A epidemia do HIV e a presença de
bacilos resistentes tornam o cenário ainda mais complexo. A cada ano, são
notificados aproximadamente 70 mil casos novos e ocorrem cerca de 4,5 mil
mortes em decorrência da tuberculose”, informa o ministério, acrescentando que
o risco de adoecimento é maior entre pessoas de rua, pessoas que vivem com
HIV/Aids, presos e indígenas.
Superbactérias e patentes
Os cientistas da UFG também descobriram que as substâncias contidas no veneno
da vespa servem para tratar pessoas infectadas com superbactérias, como aquelas
adquiridas em unidades de terapia intensiva em hospitais. De acordo com Ana
Paula Junqueira Kipnis, essa é a primeira vez no mundo que se faz pesquisa com
o veneno de vespa para desenvolvimento desse tipo de fármaco.
O eventual uso de novos fármacos a partir das
pesquisas da UFG pode demorar até uma década. Além do depósito de patentes para
registro e publicação dos resultados da pesquisa em revistas científicas, é
preciso desenvolvimento de mais estudos que exigem parceria entre a
universidade e empresas farmacêuticas. Antes de qualquer remédio poder ser utilizado
em seres humanos, inclusive como teste, o medicamento deve ser submetido a
testes clínicos exigidos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária
(Anvisa).
Em geral, a produção de medicamentos é
investimento que exige longo prazo. Afora os testes, a indústria farmacêutica
precisa custear a síntese que produz o peptídeo microbiano em laboratórios com
capacidade de fabricação em massa, para eventual comercialização. O laboratório
que venha a se associar para a produção do medicamento deverá fazer o respectivo
registro para a venda.
Por: Agência Brasil