Segunda-feira, 03 de aio de 2020
Já a quantidade de óbitos chegou a 7.025. É a sétima nação com maior
número de mortes pela doença.
Casos de coronavírus crescem no país (Foto: Reprodução)
O Brasil tornou-se
o nono país a ultrapassar a marca dos cem mil casos por coronavírus. São,
agora, 101.147 infecções confirmadas de Covid-19, segundo boletim divulgado
ontem pelo Ministério da Saúde. Já a quantidade de óbitos chegou a 7.025. É a
sétima nação com maior número de mortes pela doença.
Em
apenas 24 horas, o país confirmou 4.588 novos casos e 275 óbitos, alçando
posições no ranking das nações onde a Covid-19 faz mais estragos. Para
especialistas, o Brasil segue essa escala ascendente devido a políticas de
saúde pública desencontradas, falta de testes para pacientes e baixo
engajamento ao isolamento social. Há, também, o problema da subnotificação de
contágios. Projeções do Imperial College de Londres mostram que, até atingir o
pico da pandemia, 20 milhões de pessoas podem ser infectadas, e até 60 mil
morreriam.
—
Estes números refletem o que pode ocorrer com o país se for mantido o cenário
atual: o governo federal decretou estado de emergência em fevereiro em função
do coronavírus, mas ainda não usou a prerrogativa da quarentena. Todas as
políticas de isolamento social têm sido pontuais, e a adesão a elas está em
queda — lamenta Rômulo Neris, virologista pela UFRJ e pesquisador visitante da
Universidade da Califórnia. — A maioria das metrópoles está com 70% a 90% de
seus leitos de UTI ocupados. Nas próximas duas semanas, podem perder a conta de
atender aos pacientes.
Um
levantamento realizado pelo Imperial College mostra que o Brasil tem taxa de
contágio do coronavírus de 2,8, a maior entre os 48 países avaliados. Ou seja,
cada pessoa passa a infecção para quase três. Outros estudos, de instituições
como a UnB, apontam que o país desconhece mais de 90% das contaminações por
falta de um sistema de vigilância e monitoramento dos casos.
—
Há diversos empecilhos: não temos estrutura para a testagem maciça da
população, não sabemos se os doentes que se tratam em casa estão devidamente
isolados do resto da população, e a densidade populacional das metrópoles
dificulta o isolamento social — alerta Neris. — Vale lembrar que um indivíduo
infectado demora de uma a duas semanas para manifestar os sintomas. Por isso, o
retrato apresentado ontem pelo governo, de cem mil contágios, está defasado.
Não sabemos qual é o cenário real.
Coordenador
técnico da Sociedade Brasileira de Infectologia, Hélio Bacha concorda que os
números do ministério estão “muito longe da realidade”, e define a contagem do
governo federal como “mixuruca”.
Bacha
destaca que o Brasil foi um dos últimos países atingidos pela pandemia. Ainda
assim, não soube se preparar para o baque em seu sistema de saúde.
—
Vimos o impacto provocado pela Covid-19 em cidades como Wuhan, Nova York e
Barcelona. Poderíamos ter nos preparado melhor para enfrentar a doença. Mas há
uma campanha contra o isolamento social, que é a única arma coletiva contra a
infecção, contrariando todas as evidências científicas — condena.
Evolução da epidemia
Além
do isolamento, segundo Bacha, há outra condição “minimamente necessária” que
não foi atendida — uma ampla testagem da população, que permitiria entender a
dimensão da Covid-19 e mesmo sua evolução pelo país:
—
Não basta só isolar, precisamos testar para fazer um diagnóstico precoce. Isso
significa realizar uma testagem eficaz, precisa e rápida. Mas hoje esses testes
são destinados apenas a pacientes graves, e conhecemos pouco a doença através
deles. Os casos leves e assintomáticos nos mostrariam como a epidemia está
crescendo hoje.
Um
dos argumentos sustentados pelos opositores do isolamento social é que a
prática resultaria em um esfarelamento da economia. A tese, porém, é rejeitada
por Gláucia Campregher, professora do Departamento de Economia da UFRGS:
—
É um absurdo fazer uma oposição entre economia e saúde pública. O coronavírus
provocará uma recessão mundial, mas ela será mais rigorosa em países que não
tomaram medidas concretas contra o coronavírus ou demoraram para atender as
necessidades da população, como o Brasil — explica. — O governo tem capacidade
de segurar o negócio de micro e pequenas empresas e dar auxílios emergenciais
aos mais pobres. Os problemas da Covid-19 não vão desaparecer se o comércio for
aberto agora.
Por: O Globo