Domingo, 14 de junho de 2020
Em pequisa
publicada na revista 'Science', especialistas sugerem que o imunizante pode
conferir proteção temporária contra a Covid-19
Crianças com idade entre 1 ano e menores de 5, são vacinadas no posto de saúde Heitor Beltrão, na Tijuca, zona norte do Rio de Janeiro, para receber a dose contra a pólio e contra o sarampo - 06/08/2018 Tomaz Silva/Agência Brasil
A vacina oral contra a poliomielite, a
famosa gotinha, poderia conferir proteção temporária contra o novo coronavírus. É o que diz um estudo publicado quinta-feira na revista científica Science. De acordo
com pesquisadores do Instituto de Virologia Humana da Universidade de Maryland,
nos Estados Unidos, existem evidências de que vacinas já existentes, como a contra
a poliomielite e a BCG – contra a tuberculose –, fornecem proteção contra uma
ampla variedade de infecções, incluindo respiratórias.
A sugestão de
estudo com a vacina contra a polio se deu porque “tanto o poliovírus quanto o
coronavírus são vírus de RNA de cadeia positiva; portanto, é provável que
possam induzir e ser afetados por mecanismos comuns de imunidade inata”,
escreveram os autores.
A eficácia da vacina BCG contra o
coronavírus já está em avaliação em estudos realizados nos Estados Unidos, na
Holanda e na Austrália. A ideia de testar a proteção da BCG contra a Covid-19,
doença causada pelo novo coronavírus, surgiu após pesquisas mostrarem que
países que usam amplamente a vacina contra tuberculose têm uma taxa menor de
infecções por coronavírus do que aqueles aqueles que não. Inclusive, a VEJA
Saúde explica
aqui mais detalhes sobre essa hipótese.
A ideia não é
que essas vacinas possam prevenir completamente a Covid-19, a doença causada
pelo novo coronavírus, mas que elas possam ao menos diminuir a gravidade da
doença e preparar o sistema imunológico inato para combater o vírus por um
curto período de tempo. Com mais de 7 milhões de infectados no mundo e 425.593
mortes, isso já seria um grande avanço.
“Outras vacinas virais atenuadas, como as contra o sarampo e a
varíola, também foram associadas a efeitos protetores inespecíficos
pronunciados contra doenças infecciosas. Na África, quando a vacina contra o
sarampo foi introduzida, a mortalidade geral em crianças diminuiu em mais de
50%, uma redução que foi muito maior do que o previsto com base na proteção
somente contra mortes por sarampo”, escreveram os autores.
Tanto a vacina
oral contra a poliomielite quanto a BCG usam uma versão enfraquecida do vírus
ou da bactéria. Esse tipo de imunizante produz uma resposta imune forte e
duradoura, segundo especialistas em vacinas. Entretanto, as desvantagens desse
tipo de abordagem incluem a possibilidade de quem recebeu a vacina desenvolver
a doença e o processo lento de fabricação, em comparação com estratégias
modernas que usam apenas um pedaço de material genético do vírus, como as que
estão sendo testadas atualmente por empresas americanas e europeias contra o
novo coronavírus.
Em relação ao primeiro problema, os autores do estudo da Science afirmam
que “o risco de complicações devido à VOP [vacina atenuada oral] é extremamente
baixo”, cerca de uma em cada três milhões de doses administradas e,
principalmente, em crianças imunocomprometidas. Sobre a produção, essas vacinas
já são produzidas normalmente e bilhões de doses são aplicadas anualmente no
mundo todo.
Por: Veja