Segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021
"Se eu
não faço nada, vocês dizem que eu me omiti. Se eu faço, interferi. O que tem
que fazer vai ser feito", disse o presidente.
Bolsonaro manteve o discurso de que não interferiu nem interferirá na política de preços da empresa, alvo de insatisfação do presidente, mas reafirmou que, havendo necessidade, não irá se omitir. (Foto: Reprodução)
BRASÍLIA, DF
(FOLHAPRESS) — Um dia depois de interferir no comando da Petrobras e
indicar o general Joaquim Silva e Luna para comandar a estatal, o presidente
Jair Bolsonaro (sem partido) criticou a atuação de órgãos, como a ANP (Agência
Nacional do Petróleo), e disse que o preço da gasolina poderia estar 15% mais
barato.
Bolsonaro manteve o discurso de que não
interferiu nem interferirá na política de preços da empresa, alvo de
insatisfação do presidente, mas reafirmou que, havendo necessidade, não irá se
omitir.
"Se eu não
faço nada, vocês dizem que eu me omiti. Se eu faço, interferi. O que tem que
fazer vai ser feito", disse o presidente em vídeo transmitido pelo site
bolsonarista Foco no Brasil neste sábado (20).
A intervenção foi mal recebida pelo mercado e
fez a empresa pública perder bilhões em valor de mercado. Na sexta-feira (19),
quando o mandatário apenas insinuava publicamente sua intervenção, o valor de
mercado da companhia, listada em Bolsa, despencou de R$ 383 bilhões para R$
354,8 bilhões.
Questionado sobre a queda nas ações da
Petrobras após a demissão de Roberto Castello Branco do comando da estatal,
Bolsonaro disse que a empresa é mista e o mercado é que decide.
"Eu não interferi na Petrobras. Está na
capa de todos os jornais que eu interferi. O preço continua aquele fixado, com
15% [de reajuste] no diesel e 10% na gasolina. Se bem que pelo que eu tive
conhecimento, não oficialmente, porque não interfiro, o reajuste seria bem
menor".
O preço do combustível, continuou o
presidente, "poderia ser no mínimo 15% mais barato sem interferência do
Executivo. É atacando as fraudes. Há uma indústria bilionária clandestina nos
combustíveis no Brasil".
A Petrobras informou, na quinta-feira (18), dois
novos reajustes nos preços da gasolina e do diesel, que subiram 10,2% e 15,1%,
respectivamente, a partir de sexta-feira (19). Foi o quarto reajuste da
gasolina e o terceiro do diesel em 2021. Mesmo reafirmando que não trabalha com
interferências políticas na empresa, Bolsonaro disse que a alta não tem
justificativa. "Vou interferir? Não vou, mas não se justifica".
Bolsonaro questionou se órgãos como a ANP,
Ministério de Minas e Energia, Secretaria Nacional de Defesa do Consumidor (do
Ministério da Justiça) e o Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade
e Tecnologia) estariam funcionando a contento, o que poderia, segundo ele, ter
garantido preços mais baixos dos combustíveis –que ele ainda classificou como
de má qualidade.
Ele também disse
que há locais em que o crime organizado comanda redes de postos privados.
"Tenho informações, inclusive, que o PCC [Primeiro Comando da Capital]
domina a rede privada de postos em um grande estado do Brasil".
Indicado para a Petrobras em meio à
insatisfação do presidente com a política de preços da estatal, o general Silva
e Luna disse à Folha na tarde deste sábado que a empresa está "no meio da
sociedade" e que seus produtos finais, como combustível e gás, se destinam
às pessoas.
Mesmo assim, o general negou a possibilidade
de Bolsonaro intervir na estatal e na política de preços praticada pela
empresa. "Jamais haverá ingerência do presidente. Ontem, na nossa
conversa, ele não falou nada disso", afirmou Luna.
Ao reclamar que não havia "previsibilidade",
Bolsonaro elogiou o general e afirmou que ele fará um bom trabalho. O
presidente ainda negou que tenha interferido na empresa para atender demandas
dos caminhoneiros, categoria que já ameaçou paralisar neste mês.
"Não é apenas como diz a imprensa, que o
meu eleitorado é o caminhoneiro. O caminhoneiro é quem leva a comida na casa de
todo mundo. E se o frete sobe, na ponta da linha sobe também. Agora eles [da
imprensa] atacam a economia para tentar me atingir".
"Se eu tivesse esse poder todo [de
interferir] não estaria num pais democrático, e nós queremos um país
democrático", disse o presidente da República.
Recentemente, Bolsonaro vem travando uma
batalha na área de combustíveis em diversas frentes. Além do anúncio repentino
da isenção de tributos e da pressão pela saída de Castello Branco, ele também
vem comprando briga com governadores. Na última semana, o presidente enviou ao
Congresso um projeto para mudar a forma de tributação estadual sobre
combustíveis. A medida estabelece um valor fixo e único para o ICMS em todo o
país. Hoje, cada estado define sua alíquota.
Neste sábado, ele
voltou a defender o projeto mas garantiu que não estava criticando os
governadores.
Assim como dissera mais cedo, também neste
sábado, Bolsonaro voltou a anunciar que haverá novas mudanças no governo.
"Eu não tenho medo de mudar, semana que vem deve ter mais mudança. E
mudança comigo não é de 'bagrinho', é de tubarão", disse.
"O que eu quero é que todos órgãos
vinculados ao governo tenham transparência e se prestem ao serviço da
população. Óbvio, se tiver dando errado, a gente muda".
O presidente atribuiu a alta de preços de
produtos da cesta básica às restrições de circulação relacionadas à pandemia de
coronavírus. Desde o início da pandemia, Bolsonaro é crítico às medidas
sanitárias de controle da doença.
"Sabemos da inflação, que está havendo
nuns produtos da cesta básica, em especial, mas [isso] vem da política do fique
em casa e a economia a gente vê depois. Sempre falei que tínhamos que tratar
questões do desemprego, economia e vírus com a mesma responsabilidade",
disse.
O Brasil acumula cerca de 245 mil mortes pela
Covid-19. O governo patina para garantir a oferta de vacinas e investiu desde o
ano passado na promoção e distribuição de medicamentos sem eficácia comprovada.
Por: Paulo Saldaña/Folhapress