Quinta-feira, 11 de março de 2021
Matéria de Ana Luiza Albuquerque, Rio de Janeiro, (FOLHAPRESS)
Foto: Reprodução/Facebook
Morreu na madrugada desta quarta-feira (10) o jornalista
Hélio Fernandes, aos 100 anos, de causas naturais. Ele estava em sua casa, no
Rio de Janeiro, ao lado de duas filhas.
Nome importante no jornalismo brasileiro e irmão do
escritor Millôr Fernandes, Hélio trabalhou em O Cruzeiro e foi dono do jornal A
Tribuna da Imprensa.
O corpo de Hélio será cremado na quinta-feira
(11) à tarde, no cemitério do Caju, zona norte da cidade. A cerimônia deve ser
restrita, devido à pandemia da Covid-19.
O jornalista deixa três filhos, Isabella, Ana Carolina e
Bruno, e três netos, Felipe, Leticia, e Helio. Dois filhos, Rodolfo Fernandes,
ex-diretor de redação do jornal O Globo, e Hélio Fernandes Filho, morreram em
2011.
Em 1962, Hélio assumiu a Tribuna da Imprensa,
fundada por seu amigo Carlos Lacerda, ex-governador do então estado da
Guanabara. Crítica ao ex-presidente João Goulart, a Tribuna apoiou o golpe de
1964, mas mudou de posição durante o regime.
“Escorraçado, amordaçado e acovardado, deixou o
poder como imperativo de legítima vontade popular o Sr João Belchior Marques
Goulart, infame líder dos comuno-carreiristas-negocistas-sindicalistas”, dizia
editorial do jornal no dia 2 de abril daquele ano.
Ao longo da ditadura, Hélio foi preso diversas
vezes e desterrado em três ocasiões “”foi mandado para Fernando de Noronha
(PE), Pirassununga (SP) e Campo Grande (MS).
“Olha, no começo a visão de todo mundo,
inclusive minha, era deturpada. Realmente eles lançaram a ideia de que o país
estava à beira de cair no regime comunista. A edição de 1º de abril, nós
ficamos como todo o mundo. Nós não sabíamos bem o que era. Ninguém sabia”,
afirmou Hélio ao Observatório da Imprensa em 2014.
Em seu livro A Ditadura Escancarada, o
jornalista Elio Gaspari aponta a Tribuna da Imprensa como o jornal mais
massacrado ao longo da ditadura.
“Sofreu mais de vinte apreensões, e teve
censores dentro de seu prédio por dez anos e dois dias. Antes mesmo que Médici
chegasse ao Planalto, o jornalista Hélio Fernandes, seu proprietário e alma
panfletária, passara por quatro cadeias e dois desterros”, escreveu Gaspari.
Em 1966, Hélio tentou ser candidato a deputado
federal pelo MDB, mas teve os direitos políticos cassados pelos militares.
Também foi proibido de assinar artigos, e por isso assumiu o pseudônimo de João
da Silva.
“Eu nunca deixei de publicar coisa alguma, até
mesmo na ditadura. Por isso eu fui muito preso. (…) O jornalismo não é uma
profissão comum que você sai de casa às 8 horas e [volta] às 6 da tarde. No
jornalismo você fica, você sai de casa e você fica. Você, digamos, é dominado
pelo jornalismo”, afirmou Hélio ao Observatório da Imprensa.
Mesmo aos 100 anos, o jornalista continuava a
atualizar uma página no Facebook com opiniões sobre o cenário político e social
do país.
“A arrogância, a imprudência, a incompetência
de Bolsonaro são inéditas na história da República. O Brasil chegou a 200 mil
mortes não foi por acaso, e sim pela irresponsabilidade total do presidente”,
publicou em janeiro.
Hélio foi vacinado contra o novo coronavírus no
início de fevereiro, quando escreveu: “Eu, em meus 100 anos, fui dos primeiros,
mas espero que toda a população brasileira tenha a possibilidade, a
oportunidade de ser vacinada, o que é seu direito, e que isso não seja um
privilégio para alguns. Que o SUS seja valorizado!”
Por: Folhapress