Quarta-feira, 21 de julho de 2021
Matéria do Folhapress
Foto: Ilustração abr
DOUGLAS
GAVRAS SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Os efeitos provocados na economia pela pandemia do
novo coronavírus devem afetar os salários dos trabalhadores brasileiros por até
nove anos, de acordo com o Banco Mundial.
As marcas deixadas pela crise sanitária na América Latina serão
sentidas sobretudo pelos trabalhadores com menor qualificação e em uma posição
mais vulnerável no mercado de trabalho, lembra a instituição.
A avaliação faz parte do relatório “Emprego em Crise: Trajetória
para Melhores Empregos na América Latina Pós-Covid-19”, divulgado pelo Banco
Mundial nesta terça-feira (20).
“No Brasil e no Equador, embora os trabalhadores com ensino
superior não sofram os impactos de uma crise em termos salariais, e sofram
impactos de curta duração em matéria de emprego, os efeitos sobre o emprego e
os salários do trabalhador médio ainda perduram nove anos após o início da
crise”, diz o texto.
Os resultados sugerem que os trabalhadores menos qualificados e
os trabalhadores mais velhos no Brasil foram os mais gravemente prejudicados
pela crise, diz o documento.
Pesquisa recente do Datafolha aponta que, com a crise sanitária
e o aumento do desemprego, 45,6% dos brasileiros dizem que a situação
financeira ficou mais difícil durante a pandemia do novo coronavírus.
Como agravante, segundo o Banco Mundial, no Brasil, na Argentina
e no Chile, as formas de trabalho não padronizadas (incluindo trabalhadores
autônomos) estão crescendo no lugar do emprego formal, embora o perfil desses
trabalhadores tenha mudado desde a metade dos anos 1990.
“As pessoas em empregos formais não padronizados hoje são mais jovens e têm um
nível de escolaridade mais alto do que antes.”
O relatório também fala de um efeito cicatriz no mercado de
trabalho por conta da crise e avalia que a crise gerada pela pandemia ressaltou
a necessidade de renovação dos instrumentos de proteção social, para tentar
preservar a renda da população contra os choques no mercado de trabalho.
O país tem enfrentado taxas recordes de desocupação por conta da
pandemia. Entre fevereiro e abril, a taxa bateu em 14,7%, e o número de
desempregados totalizou 14,8 milhões.
Os dados integram a Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílios) Contínua, do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística).
Na avaliação do banco, uma das saídas para reduzir a crise seria
ampliar o acesso aos programas nacionais de seguro-desemprego, fazer
transferências mais dinâmicas das redes de proteção e manter um sistema robusto
de serviços de apoio ao reemprego.
“Da mesma forma, os princípios de proteger os trabalhadores, em
vez de proteger o emprego, e desvincular as proteções, podem não ajudar na
crise no curto prazo, mas são aplicáveis no médio prazo.”
O Banco Mundial pondera, no entanto, que benefícios como o
seguro-desemprego têm efeitos limitados para amortecer as perdas causadas pela
crise sanitária, já que é garantido aos trabalhadores formais, mas os informais
e autônomos (mais afetados pela crise) ficam de fora da maioria dos benefícios.
Por: Folhapress