Quarta-feira, 21 de julho de 2021
O argumento dos estados seria aumentar a proteção contra possíveis novas
variantes, como a delta.
Especialistas, porém, apontam que não há consenso em torno da redução nestes casos. (Foto: Reprodução)
BRASÍLIA, DF
(FOLHAPRESS) — Após reunião do grupo técnico que assessora o Programa Nacional
de Imunizações, o Ministério da Saúde decidiu manter a recomendação de
intervalo de três meses entre a primeira e a segunda dose da vacina contra
Covid da AstraZeneca e também da Pfizer.
A medida, confirmada pela pasta ao jornal
Folha de S.Paulo, ocorre em um momento em que diferentes estados têm anunciado
que irão antecipar a aplicação da segunda dose de algumas vacinas, em especial
a da AstraZeneca – o que vinha aumentando a pressão por um novo posicionamento
federal sobre o tema.
O argumento dos
estados seria aumentar a proteção contra possíveis novas variantes, como a
delta. Especialistas, porém, apontam que não há consenso em torno da redução
nestes casos.
A decisão do ministério foi tomada na última
sexta (16) e deve constar de documento técnico a ser enviado aos estados e
municípios nos próximos dias.
Questionada pela reportagem, a pasta confirma
que manterá a recomendação atual de 12 semanas de intervalo entre a primeira e
a segunda dose desses imunizantes.
"O Ministério da Saúde informa que
acompanha a evolução das diferentes variantes do Sars-CoV-2 no território
nacional e está atento à possibilidade de alterações no intervalo recomendado
entre doses das vacinas Covid-19 em uso no Brasil. O tema foi discutido
novamente na Câmara Técnica Assessora em Imunizações, em reunião realizada no
dia 16 de julho deste ano. E permanece com a recomendação de manter o intervalo
orientado", informa em nota.
"Vale reforçar a importância de completar
o esquema vacinal da Covid-19 para que o caráter pandêmico da doença seja
superado", completa.
De acordo com membros da pasta, apesar da
recomendação, estados têm autonomia para tomar decisões, o que pode fazer com
que alguns mantenham as medidas. O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, no
entanto, tem criticado posições divergentes, afirmando que "rompem" o
pacto nacional.
Recentemente, algumas entidades já haviam se
manifestado contra a antecipação da segunda dose, como a Sbim (Sociedade
Brasileira de Imunizações). A posição foi reforçada por alguns especialistas
que compõem o grupo técnico que assessora o Programa de Imunizações.
"A decisão
baseia-se no racional de que, em um cenário de estoque limitado de doses (como
é o caso do Brasil), ao estender o intervalo, é possível acelerar a vacinação e
assim, alcançar mais rapidamente uma proporção maior da população com pelo menos
uma dose, antecipando desta forma a proteção de um maior número de
pessoas", aponta nota da Sbim em conjunto com a SBP (Sociedade de
Pediatria).
"Importante lembrar que, para muitas
vacinas, de maneira geral, intervalos maiores entre doses oferecem respostas
imunes mais robustas após a segunda dose, o que, em princípio, pode se
traduzir, inclusive, em respostas protetoras mais duradouras", completa.
Atualmente, a bula da vacina da AstraZeneca
diz que a segunda dose pode ser administrada de 4 a 12 semanas após a
primeira–daí a decisão de alguns estados por reduzir o intervalo.
Já a bula da vacina da Pfizer fala em
intervalo de pelo menos 21 dias. Ao estender o prazo para 12 semanas, o
ministério alegou que medida semelhante adotada em outros países mostrou
efetividade.
A pasta também vinha citando estudos que
mostram possível aumento da proteção com prazo maior para doses da AstraZeneca.
Governadores, no entanto, vinham pressionando
o ministério por uma possível reavaliação devido ao aumento no registro de
casos da variante delta, tida como potencialmente mais transmissível. O grupo
também alegava ter tido parecer favorável à redução do intervalo em grupos
técnicos próprios.
"É possível que possamos ter um formato
de ter um plano nacional? Seria [diminuir] 15, 30 dias? Ou não altera e mantém
como está? Precisamos ter essa segurança", disse o governador do Piauí,
Wellington Dias (PT), após reunião com o ministro na última semana.
Na ocasião,
Queiroga disse que a câmara técnica que assessora o Programa Nacional de
Imunizações iria avaliar o tema, mas evitou dar um parecer prévio sobre as
demandas. Ele também fez críticas a decisões adotadas pelos estados que
contrariam a recomendação do PNI.
"É claro que existem peculiaridades, a
forma de oferecer essas doses, se nas salas de imunização, se drive-thru,
coisas muito próprias de cada município. Mas as bases técnicas têm que ser
tomadas no âmbito técnico com todos para que tenhamos homogeneidade na conduta
de aplicação da vacina", disse.
Por:
Folhapress/Natália Cancian