Domingo, 05 de setembro de 2021
Bolsonaro afirmou que as imagens das
manifestações de seus apoiadores convocadas por ele serão "a marca do que
o povo deseja".
RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) — Às
vésperas das manifestações do 7 de Setembro, o presidente Jair Bolsonaro
repetiu neste sábado (4) em Caruaru (PE) ameaças golpistas, falou numa
"ruptura que nem eu nem o povo deseja" e defendeu que ministros do
STF (Supremo Tribunal Federal) sejam "enquadrados" pela população.
Mais uma vez sem citar os nomes, mencionando apenas "um ou
dois" ministros, os ataques foram direcionados a Alexandre de Moraes e
Luís Roberto Barroso, esse último também presidente do TSE (Tribunal Superior
Eleitoral)
"O STF não pode ser diferente do Poder Executivo ou
Legislativo. Se tem alguém que ousa continuar agindo fora das quatro linhas da
Constituição, o poder tem que chamar aquela pessoa e enquadrá-la. Se assim não
ocorrer, qualquer um dos três Poderes... A tendência é acontecer uma
ruptura", afirmou.
"Ruptura essa que eu não quero nem
desejo. Tenho certeza, nem o povo brasileiro assim o quer. Mas a
responsabilidade cabe a cada poder. Apelo a esse poder, que reveja a ação dessa
pessoa que está prejudicando o destino do Brasil", discursou diante de
centenas de apoiadores.
Bolsonaro afirmou que as imagens das
manifestações de seus apoiadores convocadas por ele serão "a marca do que
o povo deseja". "Enquanto juristas ficam procurando quem é o poder
moderador do Brasil, eu digo a todos eles: o poder moderador é o povo
brasileiro", afirmou.
"Temos um ou outro saindo da normalidade.
Temos um ou dois jogando fora das quatro linhas da Constituição. Nós jogamos
dentro das quatro linhas. Mas o povo, como poder moderador, não pode admitir
que nenhum de nós jogue fora dessas quatro linhas", declarou.
O presidente falou a apoiadores no estacionamento do polo comercial de
Caruaru.
O local foi o ponto final de uma motociata de cerca de 60 km iniciada
perto das 9h em Santa Cruz do Capibaribe — único município pernambucano em que
o presidente venceu nos primeiro e segundo turno da eleição de 2018 — e que
passou por Toritama até Caruaru, cidades do agreste pernambucano.
Desde a chegada até o discurso, trajeto no qual cumprimentou de perto
apoiadores, o presidente não usou máscara de proteção contra a Covid-19. Estava
acompanhado de ministros e do pastor Silas Malafaia, que tem sido um dos principais
porta-vozes nas críticas ao STF.
Bolsonaro se prepara para participar de protestos de raiz golpista e de
pautas autoritárias em seu favor que estão marcados para o feriado de 7 de
Setembro na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, e na avenida Paulista, em
São Paulo. Bolsonaro prometeu comparecer e discursar nos dois atos.
Como o próprio Bolsonaro já disse, ele busca nesses protestos uma foto
ao lado de milhares de apoiadores para ganhar fôlego em meio a uma crise
institucional provocada por ele mesmo, além das crises sanitária, econômica e
social no país.
Isolado, Bolsonaro perde apoio nas classes política e empresarial, além
de aparecer distante do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em
diferentes pesquisas de opinião sobre as eleições de 2022.
Na sexta-feira (3), em Tanhuaçu, sudoese baiano, o presidente afirmou
que as manifestações da próxima terça-feira (7) servirão como um ultimato a
ministros do STF (Supremo Tribunal Federal).
Sem citar nomes, o presidente disse que não faz críticas a instituições
ou Poderes, mas sim críticas pontuais a pessoas. Os ataques são a Alexandre de
Moraes e Luís Roberto Barroso, esse último também presidente do TSE (Tribunal
Superior Eleitoral).
"Nós não criticamos instituições ou Poderes. Somos pontuais. Não
podemos admitir que uma ou duas pessoas que usando da força do poder queiram
dar novo rumo ao nosso país", afirmou.
"Essas uma ou duas pessoas têm que entender o seu lugar. E o recado
de vocês, povo brasileiro, nas ruas, na próxima terça-feira, dia 7, será um
ultimato para essas duas pessoas", disse o presidente.
"Curvem-se à Constituição, respeitem a nossa liberdade, entendam
que vocês dois estão no caminho errado porque sempre dá tempo para se
redimir", prosseguiu.
Na última terça-feira (31), em Uberlândia (MG), Bolsonaro afirmou que a
população brasileira nunca teve uma oportunidade como a que terá com os atos do
próximo dia 7 de Setembro. O presidente, porém, não deu detalhes sobre qual
seria essa oportunidade e para fazer o que exatamente no feriado.
Já nesta quinta-feira (2) os presidentes do Supremo Tribunal Federal e
do Congresso mandaram alertas para rechaçar condutas autoritárias, e Bolsonaro
disse que o Brasil "está em paz" e não precisa temer as
manifestações.
Bolsonaro respondeu, em tom irônico, ao presidente do STF, Luiz Fux, que
afirmou que o tribunal estará "vigilante" no feriado da Independência
e que "liberdade de expressão não abrange violência e ameaça".
Mais cedo, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), disse que
"não se negocia a democracia" e que qualquer "intervenção ou
autoritarismo [...] tem que ser rechaçado".
Não é de hoje que o presidente flerta com o golpismo ou faz declarações
contrárias à democracia. Como governante, ele mantém este tipo de discurso.
"Alguns acham que eu posso fazer tudo. Se tudo tivesse que depender
de mim, não seria este o regime que nós estaríamos vivendo. E apesar de tudo eu
represento a democracia no Brasil", afirmou em uma formatura de cadetes em
fevereiro deste ano.
Em 2020, Bolsonaro participou de manifestações que defendiam a
intervenção militar. No passado, em uma entrevista em 1999 quando ainda era
deputado, Bolsonaro disse expressamente que, se fosse presidente, fecharia o
Congresso.
Hoje, por um lado, há incerteza quanto a se Bolsonaro teria ou não apoio
suficiente para ser bem-sucedido em eventual tentativa de se manter no poder ao
arrepio da lei.
Por outro lado, torna-se cada vez mais próxima da unanimidade a
avaliação de que é preciso levar a sério o risco de que, em um cenário
desfavorável, ele saia da retórica e chegue às vias de fato.
O presidente usa e abusa de retórica golpista como forma de manter o
fantasma vivo, e se apresenta como um corpo único com os militares. A realidade
é bem mais complexa.
Não há pilares para um golpe clássico, como alinhamento entre as três
Forças e parte significativa da sociedade civil, seja para tirar Bolsonaro,
seja para transformá-lo num ditador. Há uma compreensão clara de que isso não
seria digerido pelas elites, pela população e no exterior.
Bolsonaro claramente sonha com isso, e um roteiro de ruptura foi
desenhado por seu ídolo Donald Trump, que viu hordas de apoiadores invadirem o
Congresso para tentar impedir a validação da eleição de Joe Biden em 6 de
janeiro.
Toda a defesa de que eleição sem voto impresso é fraude busca criar um
arcabouço para, na visão dos mais pessimistas, forçar uma situação de conflito
nas ruas caso Bolsonaro derreta de vez e seja derrotado nas urnas em 2022.
Isso levaria a impasses, como a decretação de uso de força federal ou
mesmo estado de defesa em alguns locais. Há dúvidas se Bolsonaro iria atender a
pedidos de ajuda de governadores opositores, por exemplo, o que levaria a crise
para o Judiciário.
Comandantes são unânimes em dizer, durante conversas reservadas, que não
há espaço para golpismos, mas o fato é que não houve nenhum teste de realidade
sobre isso para atestar tal comprometimento.
Por:
Click PB