Domingo, 30 de janeiro de 2022
Avanço a ser
comemorado pela medicina, cirurgia com coração de porco inaugura nova era
dos transplantes, afirma Roberto Kalil
Procedimento
inédito abre caminho para novas técnicas e aumenta a chance de sobrevivência de
pacientes que estão na fila de espera por um órgão. “É uma alternativa para a
escassez de órgãos”, opina o cardiologista Roberto Kalil.
O
sucesso de uma cirurgia inédita realizada nos Estados Unidos, em que um homem
recebeu por meio de um transplante um coração de porco, abre caminho para que a
medicina possa contar com novas técnicas, que venham amenizar a crônica falta
de doadores de órgãos e, assim, salvar vidas.
A opinião é do cardiologista Roberto Kalil, professor titular de
cardiologia da Faculdade de Medicina da USP e diretor do InCor e hospital Sírio
Libanês.
“A falta de doadores é algo
comum no mundo. No Brasil, as doações de órgãos estão muito aquém do desejado.
Muitas pessoas ficam na fila de espera para fazer um transplante cardíaco
durante anos, e acabam falecendo, antes que tenham um doador de um coração e
elas consigam fazer a cirurgia”, lembra ele.
O procedimento — chamado de xenotransplante
Foi autorizado
pelo FDA, órgão equivalente à Anvisa nos Estados Unidos. O coração animal,
geneticamente modificado, era a única opção disponível para o paciente, que
possuía uma doença cardíaca terminal.
Kalil lembra que as primeiras tentativas de se transplantar um
coração de um outro animal para um ser humano datam de 40 anos. “Há quatro
décadas a ciência tem procurado encontrar uma maneira de tornar possível esse
tipo de cirurgia, não apenas tecnicamente, mas essencialmente do ponto de vista
da rejeição ao novo órgão. Graças à modificação genética, a rejeição foi
minimizada. A escolha do porco, cujo coração apresenta grande semelhança com o
coração humano, também contribuiu para o êxito da cirurgia”, explica o doutor
Kalil.
Para ele, o desenvolvimento dessa técnica pode vir a
revolucionar as cirurgias, particularmente as cardíacas, que assim terão a
chance de passar à categoria de eletivas (programadas), o que salvará milhares
de vidas. “Podemos estar presenciando o início de uma nova era dos
transplantes”, completa ele.
Dr Roberto Kalil é presidente do Conselho Diretor do Instituto
do Coração (InCor/HCFMUSP) e diretor do Centro de Cardiologia do Hospital
Sírio-Libanês.
Por:
Portal do Litoral