Quarta-feira, 30 de março-03 de 2022
Matéria de Gerlane Neto
Em um caso raríssimo, um
bebê que nasceu com um braço extra e metade de coração – além de
outras situações clínicas –, teve o terceiro membro amputado em uma
cirurgia delicada na última quarta-feira, 23. O membro será estudado por uma
equipe de pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP).
O bebê, que vive com a família em Praia Grande (SP), nasceu
com um braço extra que tem duas mãos; metade do coração e outras
deformidades, como o lado esquerdo do corpo diferente do lado direito. O braço
extra contava ainda com sistema nervoso e ossos.
No total, em um ano e sete meses de vida, César já passou
por seis procedimentos cirúrgicos. O mais recente, na semana passada, foi
realizado por uma equipe do Instituto de Ortopedia e Traumatologia
do Hospital das Clínicas de São Paulo.
“Eu estava morrendo de medo”, confessa a mãe, Michelle
Aparecida Pereira Fondos, de 38 anos. “Durou mais que o esperado. Eu já estava
em um desespero tão grande, perguntando o tempo todo sobre ele…”, lembra, em
entrevista ao Terra.
O medo logo deu lugar ao alívio quando o bebê saiu da mesa de
cirurgia, que foi um sucesso. Segundo Michelle, a recuperação do bebê foi
rápida e na mesma semana ele pôde voltar para casa.
“Os médicos disseram que ele estava ótimo, os exames todos
corretos, e deram alta para ele no sábado [26]”, conta a mãe, orgulhosa.
Caso
raríssimo
O
caso de César é muito raro na medicina. A principal hipótese da equipe médica
que acompanha o bebê é que se trata da junção de gêmeos siameses. Ao
longo da gestação, um organismo teria combatido o outro, sobrando apenas alguns
órgãos do segundo. Michelle só soube das condições clínicas do filho
após o nascimento.
Dentre as más formações,
César tem também a Síndrome da Hipoplasia do Coração Esquerdo,
que acontece quando uma parte do coração não se desenvolve completamente
durante a gestação, e passou os primeiros meses de vida em uma UTI
pediátrica na capital paulista. Ele foi desenganado por vários médicos que
tiveram contato o caso.
Nesta cirurgia, porém, o bebê ficou aos cuidados da equipe do
médico Marcelo Rosa de Rezende, chefe do grupo de mão do Instituto de Ortopedia
e Traumatologia do HC, e foi operado pelo médico Hugo Nakamoto.
Marcelo explica que a condição de César é raríssima, ao ponto de
haver apenas dois casos descritos na literatura médica brasileira até o
momento. “Era duplicação do membro superior com um membro não funcional e,
também, mão espelhada. Ele tinha duas deformidades raras na mesma
situação”, explica.
Segundo o ortopedista, a cirurgia não foi tão complexa quanto
pode parecer, mas a pouca incidência de casos gera falta de conhecimento
sobre o que pode ser enfrentado na mesa de cirurgia. “Você acaba precisando ser
criativo naquilo que se propõe a fazer, já que mundialmente ninguém tem uma
experiência grande”, diz.
Após a cirurgia, o membro foi recolhido para ser estudado por
uma equipe de pesquisadores da USP. O estudo permitirá que a anatomia desse
tipo de deformidade seja compreendida e auxilie em casos futuros.
Próximos
passos
O foco da família e da
equipe que atende César é o desenvolvimento do bebê nos próximos meses, já que
suas condições clínicas retardam seu crescimento. Por causa do terceiro
braço, por exemplo, o bebê se desequilibrava com facilidade e aprendeu
apenas a engatinhar, até agora.
“Quero que ele comece a
andar”, comenta Michelle.
Por: Gerlane Neto