Segunda-feira, 11 de abril-04 de 2022
Segundo a mãe de uma aluna da escola que foi até o local após o
ocorrido, na sexta (8), o caso começou após uma estudante perder os sentidos.
'O desespero tomou conta', afirma a mulher.
Um estudante relatou que a crise de ansiedade desencadeou uma reação em cadeia que percorreu várias turmas da escola Foto: Reprodução/WhatsApp
Sem
saber o que acontecia, estudantes em
pânico saíram das salas de uma escola estadual no Recife, na sexta-feira (8). Com falta de ar, tremor e crise de choro, 26
alunos foram atendidos pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu),
que informou que os adolescentes tiveram uma crise de
ansiedade. "O cenário era de filme de terror", contou ao g1, neste domingo (10), o pai de uma aluna do 1º ano
do ensino médio.
"Minha filha saiu da escola com uma amiga. Ela disse que o cenário
era de filme de terror, com correria e tumulto. Já no ônibus, ela me ligou
dizendo que tinha deixado a escola e estava indo para casa", contou o pai,
que preferiu não se identificar.
O sofrimento
retornou à mente da filha dele. A adolescente de 14 anos relatou ao pai que
algumas amigas estão com medo de voltar às aulas. Ainda segundo o pai da
estudante, a filha não quer relembrar o ocorrido. "Ela diz que dá agonia
de lembrar, diz que o olho escorre lágrimas", afirmou o homem.
O
caso aconteceu na Escola de Referência em Ensino Médio (Erem) Ageu Magalhães,
no bairro de Casa Amarela, na Zona Norte do Recife. O Samu informou que os
estudantes apresentaram sudorese, saturação baixa e taquicardia e foram
atendidos no local.
A mãe
de uma aluna de 15 anos, que cursa o 1º ano do ensino médio, foi para a escola
assim que soube do ocorrido.
"A escola não entrou em contato comigo na hora. Um colega de sala
da minha filha me ligou e fui até a escola. Chegando lá, vi seis ambulâncias e,
na entrada, vários adolescentes, alguns desmaiados, alguns chorando
bastante", contou a mulher.
As
razões que levam a uma crise coletiva de ansiedade são, em geral, pouco
compreendidas. Segundo essa mãe que conversou com o g1, mas preferiu não se identificar, a crise começou após uma estudante perder os sentidos.
"Os alunos combinaram de esperar acalmar, mas aí o desespero tomou
conta da maioria porque eles tinham medo de que fosse algo mais grave",
disse a mãe de uma das alunas da escola.
A crise de ansiedade desencadeou
uma reação em cadeia que atingiu várias turmas da escola. Em poucos minutos,
alunos de outras salas de aula começaram a gritar, e seus gritos podiam ser
ouvidos pelos corredores, segundo estudantes que presenciaram o ocorrido.
De acordo com o psicoterapeuta cognitivo-comportamental Igor Lemos,
ouvido pelo g1 no sábado (9), alguns fenômenos na psicologia podem ser desencadeados de forma
coletiva. O psicólogo apontou que existe o chamado "adoecimento
partilhado", que age como efeito dominó.
Saúde mental
Em relatório divulgado em outubro de 2021, o Fundo das
Nações Unidas para a Infância (Unicef) projetou que crianças, adolescentes e jovens
podem sentir o impacto da Covid-19 na saúde mental e bem-estar por muitos
anos. Ainda segundo a instituição, essa parcela da população já carregava
problemas emocionais.
O Unicef também apontou que, globalmente, mais de um
em cada sete garotos e garotas entre 10 e 19 anos vivem com algum transtorno
mental diagnosticado. De acordo com a entidade, a ruptura com as rotinas, a
educação, a recreação e a preocupação com a renda familiar e com a saúde
deixaram muitos jovens com medo, irritados e preocupados com o futuro.
Retorno
dos alunos
Questionada pelo g1 sobre a volta às aulas dos 26 estudantes
atendidos pelo Samu, a Secretaria de Educação e Esportes de Pernambuco informou
que o retorno acontece, normalmente, na segunda-feira (11), mas que as provas
que não foram realizadas na sexta-feira (8) serão remarcadas.
O governo estadual também declarou que a escola realiza um trabalho
voltado à educação emocional dos alunos, incluindo orientações dos jovens e dos
responsáveis deles sobre esse tema. Ainda por nota, informou que os estudantes
receberam atendimento médico na unidade escolar e foram liberados após a
chegada dos parentes.
Por: g1 PE