Quarta-feira, 13 de julho de 2022
Matéria do PBAgora
Transmissor de dengue, zika e chikungunya, o
mosquito Aedes aegypti também é inimigo do coração. Isso mesmo! Nova diretriz
sobre miocardites divulgada pela Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC)
aborda as miocardites causadas por arboviroses, especialmente a dengue. A
publicação da SBC ganha ainda mais relevância visto que o número de casos
prováveis de arboviroses tem aumentado na Paraíba.
“A miocardite consiste na inflamação da camada média do músculo
cardíaco, o famoso miocárdio, responsável direto pelo bombeamento de sangue
para os órgãos. Esse complexo trabalho do miocárdio, de ejetar adequadamente o
sangue oxigenado para o organismo, é fundamental para a nutrição dos tecidos”,
explica o pesquisador e cardiologista Valério Vasconcelos.
Lançada no dia 7 de julho
passado, a Diretriz de Miocardites 2022 da SBC evidencia que o envolvimento
cardiovascular nas arboviroses vem sendo demonstrado especialmente na dengue,
que é a arbovirose mais prevalente no Brasil. “De acordo com a publicação da
SBC, a dengue é a arbovirose com maior percentual de manifestações
cardiovasculares descritas; 48% dos pacientes com a forma grave desenvolvem
miocardite”, comenta Valério Vasconcelos.
Conforme o especialista, as
miocardites são grandes causadoras de insuficiência cardíaca (quando o coração
não está bombeando sangue suficiente para atender às necessidades do seu
corpo). “A insuficiência cardíaca é uma cardiopatia que atinge cerca de três
milhões de brasileiros e representa um problema de saúde pública no mundo todo,
sendo causa líder de internação no hemisfério norte e um grande desafio ao SUS,
principalmente com relação aos idosos”, revela Valério Vasconcelos.
Prevenção é necessária
O cardiologista Valério
Vasconcelos, que é um dos autores e editores do livro “Eletrocardiograma: um
guia de bolso” (Editora Manole), lembra que a miocardite por arbovírus é uma
condição aguda, mas a maioria dos pacientes permanece com doença cardíaca
crônica, como insuficiência cardíaca crônica (coração crescido) e alterações no
eletrocardiograma.
“Já infecções virais,
principalmente aquelas mais prevalentes em nosso meio, como a febre
chikungunya, devem ser consideradas como fator de descompensação da
insuficiência cardíaca (coração fraco) em pacientes previamente estáveis”,
afirma o pesquisador. Em relação à chikungunya, a diretriz da SBC aponta que
diversas séries de casos em situações de epidemia pelo vírus relatavam percentual
de até 37% de acometimento cardiovascular, geralmente quadros compatíveis com
miocardite.
Para Valério Vasconcelos, a
relação entre arboviroses e cardiopatias mostra que são necessários cuidados
preventivos mais eficazes para pacientes cardíacos, cujo quadro pode se agravar
caso contraiam doenças transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti.
“Caso a doença seja confirmada, o
ideal é que o médico infectologista que cuidará da pessoa com dengue,
chikungunya ou zica possa atuar em conjunto com o cardiologista, buscando a
melhor opção de tratamento para o paciente”, destaca. O pesquisador ainda
ressaltou que a população pode fazer a sua parte no combate às arboviroses,
reforçando os cuidados necessários para eliminação de criadouros do mosquito
Aedes aegypti.
ARBOVIROSES NA PB
Em 2022,
Conforme Boletim Epidemiológico da Secretaria de Estado da Saúde, foram
registrados 19.667 casos prováveis de dengue; e notificados 12.284 casos
prováveis de chikungunya; para a doença aguda pelo vírus zika, foram
notificados 707 casos prováveis. Totalizando as três arboviroses, a Paraíba
registrou 32.658 casos prováveis ao longo do ano. Em comparação com o boletim
anterior, houve um aumento de 11.735 casos novos. Produzido pela Gerência
Executiva de Vigilância em Saúde, o Boletim Epidemiológico sobre a “Situação
Epidemiológica das Arboviroses” foi publicado no dia 30 de junho deste ano.
Por: PBAGORA