Segunda-feira, 04 de julho de 2022
Artista tem
o que chamam de 'vértebra de transição', o que ajudou a agravar o quadro.
Wesley Safadão (Foto: Reprodução)
Quando Wesley Safadão procurou o neurocirurgião Francisco Sampaio
Júnior, em São Paulo, ele sabia que o cantor tinha um diagnóstico anterior de
hérnia de disco, mas os sintomas estavam mais intensos, a crise atual era pior
e diferente das anteriores. Safadão se queixava de fortes dores nas costas que
impossibilitava a sua locomoção, sentia dormência nas pernas e, após um
período, começou a se queixar de dores agudas nas partes íntimas.
Imediatamente uma luz vermelha acendeu na cabeça do profissional, pois ele
não tinha apenas sinais de uma hérnia de disco inicial, mas sintomas
neurológicos graves. Foi pedido uma série de exames que constatou não uma
simples protusão de hérnia de disco, mas sim uma extrusão, terceira e mais
grave, fase de um processo degenerativo dos discos intervertebrais, causada
principalmente por uma variação anatômica de nascença que Wesley tem e afeta
15% da população mundial.
— Nós chamamos de vértebra de transição que nada mais é do que uma
vértebra a mais entre as regiões lombar e sacral. Enquanto a maioria das
pessoas tem cinco vértebras lombares, ele tem mais uma. Isso garante a ele uma
predisposição a ter uma doença mais grave nos discos. Em cada 100 nascimentos,
pelo menos 15 nascem com essa vértebra — afirma o doutor Francisco Sampaio
Junior em entrevista exclusiva ao GLOBO.
Este problema de nascença está relacionado a crise que o cantor teve em
2018, e na mais recente, que o fez ficar internado na semana passada, no
hospital Sírio Libanês, em São Paulo e, consequentemente, o fez cancelar sua
agenda de shows por tempo indeterminado.
A hérnia de disco extrusa é uma das mais graves, pois é quando o ânulo
fibroso já está tão comprimido e desgastado que há uma ruptura e o núcleo
pulposo, que é uma espécie de recheio gelatinoso que absorve os impactos da
coluna, vaza para fora e escorre pelos músculos e nervos da coluna, o que causa
as inflamações e as dores.
— É como se fosse aqueles chicletes com recheio. Ao espremer a goma de
mascar, o mel vaza para fora. É exatamente isso que acontece na coluna, a
gelatina explode para fora do anel e começa a comprimir os nervos gerando
déficits motores — diz o doutor.
Outro fator que contribuiu para o agravamento do caso de Safadão é que,
por conta da vértebra de transição, a extrusão ocorreu em um nível elevado da
coluna, entre as vértebras L3 e L4, aumentando a possibilidade de mais nervos
serem penalizados e ampliando a gravidade do estado de saúde do canto.
— Ele começou a sentir fortes dores nas genitais o que acendeu uma luz
vermelha na minha cabeça. Se persistisse eu precisaria operá-lo. Isso poderia
ter deixado sequelas irreversíveis no Wesley, como a perda da força nas pernas,
nos pés, impossibilitar uma locomoção normal e dificuldade para urinar sozinho.
Complicações neurológicas seríssimas. Não podíamos correr este risco. Então
fizemos um tratamento intensivo que tem como principal função bloquear a dor
lombar e na perna para que o paciente possa aguardar a absolvição natural do
núcleo pulposo, que acontece entre 6 e 8 semanas, numa situação aceitável —
complementou o médico.
Este foi o principal motivo para o neurocirurgião ordenar o repouso
absoluto do artista. Apesar de Wesley estar sentindo menos dor, o médico é
enfático ao dizer que o artista ainda não está curado da doença e que tem limitações
de mobilidade. O cantor não pode fazer movimentos bruscos, como correr, andar
de um lado para o outro como faz em seus shows, muito menos gritar.
Toda e qualquer atividade que fizer nos próximos dias será acompanhada e
avaliada, tanto por Francisco, quanto pelo fisioterapeuta, doutor Mario Muniz
Amorim, que acompanha o cantor desde 2018, quando teve a primeira crise de
hérnia de disco.
— Não podemos correr riscos, temos que pecar pelo excesso. É um mal
necessário afastá-lo dos palcos neste momento — afirmou doutor Francisco.
Na terça-feira, 05, Wesley fará uma nova ressonância e dependendo do
resultado ele poderá ser liberado para voltar a agenda de shows. Apesar de não
comentar o possível resultado, o neurocirurgião é otimista. — Vamos ver se
houve uma absolvição parcial, se diminuiu o dano ao nervo e, além do exame de
imagem, vamos observá-lo, saber o quadro clínico dele. Ver se ele está bem,
disposto, sem dores. Se for favorável, com certeza liberaremos ele para voltar
aos palcos ainda nesta semana.
Mas, claro, com limitações. Assim que passar a fase aguda das dores,
Wesley deverá voltar a fazer exercícios físicos de menor impacto, como uma
caminhada e pilates, todos os dias da semana pelo menos duas vezes ao dia. Como
uma forma de prevenir que outros problemas de coluna, gerados pela vértebra de
transição, apareça de surpresa.
Por: O Globo