Vacina contra dengue pode sair em
2016; veja como estão as pesquisas
Quinta-feira, 19 de Março de 2015
Há pelo menos quatro iniciativas importantes
de desenvolvimento de vacina. Instituto Butantan e Fiocruz fazem parte de
projetos de pesquisa.
Os
números da dengue no Brasil têm deixado as autoridades em alerta: a
doença já infectou 224,1 mil pessoas só este ano, 162% a mais em relação ao
mesmo período do ano passado. Uma vacina seria um importante instrumento para
prevenir surtos e epidemias, porém até agora não existe um produto aprovado para
esse propósito.
Sanofi:
expectativa para 2016
A
candidata a vacina contra dengue que está mais adiantada é a da farmacêutica
francesa Sanofi. Em novembro do ano passado, foram divulgados os resultados de
um estudo que envolveu 20.869 crianças e adolescentes da América Latina,
inclusive do Brasil. Os resultados mostram que a vacina foi capaz de prevenir,
em média, 60,8% dos casos de dengue em geral e 95,5% dos casos graves.
Segundo
Sheila Homsani, gerente do departamento médico da Sanofi Pasteur, divisão de
vacinas da empresa, a expectativa é que a vacina esteja disponível para a
população no início de 2016. Ela afirma que os documentos necessários para o
registro devem ser entregues para a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa)
ainda neste semestre.
“Geralmente
a Anvisa leva alguns meses para analisar porque são muitos documentos. A gente
imagina que no início do ano que vem ela possa ser liberada”, diz. Segundo ela,
foram 20 anos de pesquisa até se chegar a esse estágio.
A base
do produto da Sanofi é a vacina contra febre amarela, que recebe um envoltório
das proteínas que desencadeiam a resposta imunológica de cada um dos vírus da
dengue. Para ser eficaz, ela deve ser aplicada em três doses, com intervalo de
seis meses.
A empresa
já inaugurou uma fábrica em Lyon, na França, dedicada exclusivamente à produção
de vacina contra a dengue, com capacidade de produzir 100 milhões de doses por
ano.
Instituto
Butantan e NIH: fase 2 em humanos
Outra
iniciativa é resultado de uma parceria entre o Instituto Butantan e os
Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos (NIH). O projeto já está na
fase 2 de pesquisa clínica. Trata-se da segunda fase de testes com voluntários
humanos (para submeter o produto à Anvisa, é preciso apresentar os resultados
da fase 3, em que um número bem maior de voluntários recebe a vacina
experimental).
A ideia
é que 300 voluntários sejam vacinados nesta etapa. Até o momento, 154 já
receberam a vacina. Alguns aguardam resultados de testes laboratoriais que devem
ser feitos antes de receberem a dose experimental e novos voluntários ainda
estão sendo recrutados por instituições como a Faculdade de Medicina da USP.
Segundo
Alexander Precioso, diretor da Divisão de Ensaios Clínicos e Farmacovigilância
do Butantan, esta fase deve terminar em até 60 dias e, logo em seguida,
começará o preparo para a fase 3 de pesquisa. “Os resultados da fase atual têm
demonstrado que estamos trabalhando com uma vacina bastante segura, com o
perfil adequado”, diz o pesquisador. “A vacina tem apresentado uma resposta
bastante balanceada para os quatro tipos de vírus.”
A
vacina do Butantan e do NIH é feita com os próprios vírus da dengue, que foram
modificados para que a pessoa desenvolva anticorpos contra os quatro sorotipos
sem desenvolver os sintomas relacionados a eles. Precioso acrescenta que os
testes têm mostrado que bastará uma dose para que a vacina seja eficaz.
Fiocruz
A
Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) está envolvida em dois projetos de pesquisa na
busca de uma vacina. Um deles, coordenado por Bio-Manguinhos, é resultado de
uma parceria com a farmacêutica britânica GlaxoSmithKline (GSK).
O outro, coordenado pelo Instituto Oswaldo Cruz (IOC), é o único no mundo que combina duas estratégias de imunização em uma mesma vacina. Testes com camundongos revelaram que o produto foi 100% eficaz contra o tipo 2 da dengue.
Testes
em primatas estão previstos para o segundo semestre de 2015. Caso essa etapa
também obtenha resultado positivo, os cientistas começarão a desenvolver
fórmulas que sejam eficazes contra cada um dos quatro sorotipos. Assim, ao
final, a vacina será composta por quatro fórmulas e poderá imunizar contra
todos os tipos de dengue.
Takeda:
fase 3 em breve
A
farmacêutica japonesa Takeda também está na corrida pelo desenvolvimento de uma
vacina contra dengue. A empresa comprou, em 2013, a americana Inviragen, que
estava desenvolvendo uma vacina contra a dengue.
De
acordo com o laboratório, a vacina tetravalente (que previne conta os quatro
sorotipos da dengue) em estudo pela Takeda é "uma vacina quimérica
recombinante baseada em uma forma atenuada do vírus da dengue 2, que fornece o
'esqueleto' genético para todos os quatro vírus da dengue".
Testes
clínicos de fase 1 e 2 vem sendo feitos nos últimos anos. "A vacina
tetravalente contra a dengue da Takeda está atualmente em fase avançada de
estudos para testar a sua eficácia e segurança e entrará em fase 3 de testes
clínicos em breve", afirmou a companhia, em nota enviada por e-mail.
G1