Domingo, 26 de Abril de 2015
Vigilante cursou mestrado e doutorado, estudando
durante madrugadas.
José Itamar é doutor em Ciências Sociais pela UFCG.
José Itamar é doutor em Ciências Sociais pela UFCG.
Doutor em Ciências Sociais, José Itamar trabalha como vigilante na UEPB (Foto: Júlio César/UEPB)
Lavador de carros, engraxate, jardineiro e
feirante, quando criança e adolescente. Vigilante durante mais de duas décadas
de sua vida. Também professor há quase 20 anos e, agora, doutor em Ciências
Sociais pela Universidade Federal de Campina Grande (UFCG). José Itamar Sales
da Silva, aos 46 anos e várias conquistas, não desiste de sonhar: "Venci
meus próprios medos. Achava que universidade era coisa de rico. Agora vou
continuar lutando, posso não chegar onde desejo, mas não será por falta de
tentativa", ressaltou.
A trajetória de Itamar teve muitos obstáculos, mesmo
antes de chegar à profissão que lhe proporcionou a oportunidade de seguir nos
estudos. O difícil percurso também conta com a perda do pai e as reprovações
nas primeiras tentativas de cursar mestrado e doutorado, este concluído há
apenas um mês.
Ele já trabalhava como vigilante noturno - "nunca
faltei a um expediente", assegura - quando cursou a graduação em História
pela Universidade Estadual da Paraíba (UEPB). Depois começou a lecionar em
escolas de Campina Grande, mas continuou na segurança patrimonial enquanto
fazia especialização em Gestão Estratégica no Serviço Público e mestrado em
Literatura e Interculturalidade, cuja dissertação virou o livro "A
representação da sogra na obra do poeta Leandro Gomes de Barros".
Vigilante cursou mestrado e doutorado, estudando durante as madrugadas (Foto: Reprodução/TV Paraíba)
Após a conclusão do doutorado, o próximo sonho de
Itamar é ser professor na universidade onde ele trabalha como vigilante há 24
anos. "Sonho no futuro ser professor da UEPB ou de uma instituição de
ensino superior. Ao longo de todo esse tempo, venho tentando capacitar-me para
isso. Penso em dar essa contribuição que adquiri com meus estudos para a
universidade", afirma, destacando que planeja tornar livro sua tese de
doutorado "Panela que muito mexe: o Guisado da Cultura Política do Brasil
à luz da Literatura de Cordel".
"Achava que terminar o ensino médio era
suficiente, aí fiz vestibular por incentivo da minha esposa. Depois várias
pessoas disseram para eu continuar estudando. Muitas vezes os outros pensam que
é fácil a vida, que você vai sempre passar e conseguir. Nem sempre conseguimos
de primeira, temos derrotas, mas não devemos desistir. Tentei de novo. Tinha
limitações, um complexo de inferioridade, passei por muitas humilhações. Mas
sabia das madrugadas que passei estudando. Eu não tinha nada, hoje sou formado.
Filho de um borracheiro analfabeto, homem digno e honrado, do qual tenho muito
orgulho. Agora sou um vigilante doutor. Minha mãe vai ter a alegria de dizer
que tem um filho doutor. Meu pai, se fosse vivo, teria a alegria de ver um
filho dele chegar onde chegou", frisou.
Taiguara Rangel Do G1 PB
Taiguara Rangel Do G1 PB