Quinta-feira, 04 de Junho de 2015
Votação organizada pelo Comitê Executivo da
Fifa, em 2010, já foi alvo de conturbada investigação interna
Em dezembro de 2010, Blatter anunciou o Qatar como sede da Copa do Mundo de 2022: escolha é investigada pelo FBI- PHILIPPE DESMAZES / AFP
A investigação conduzida pelo FBI e pela Procuradoria de Justiça dos
EUA, que já solicitou a prisão de nove dirigentes ligados à Fifa e cinco
empresários de marketing esportivo acusados de integrar esquema milionário de
corrupção, agora bate à porta de novo alvo: as escolhas de Rússia e Qatar como
sedes das Copas do Mundo de 2018 e 2022, respectivamente. De acordo com a
agência de notícias Reuters, a votação que elegeu, em 2010, os países-sede das
próximas duas Copas serão alvo de investigações complementares ao processo
iniciado na última semana.
Quando a investigação dos EUA veio à tona, na última quarta-feira, a
Justiça americana informou que as acusações diziam respeito ao pagamento de
propinas no valor de U$ 150 milhões para dirigentes da Concacaf, Conmebol e
Fifa, em vendas de direitos de transmissão de torneios de seleções. Naquela
ocasião, o procurador americano Kelly Currie afirmou que o indiciamento das 14
pessoas não era o capítulo final da investigação. Em paralelo a isso, autoridades
da Suíça, onde foram presos sete dos acusados na investigação do FBI,
anunciaram a criação de seu próprio inquérito criminal a respeito das sedes das
próximas duas Copas do Mundo.
O desejo de investigar as escolhas de Rússia e Qatar como sedes das Copas
de 2018 e 2022 é antigo. Inglaterra e EUA, derrotados na votação em questão, em
dezembro de 2010, levantaram dúvidas sobre compra de votos no Comitê Executivo
da Fifa, responsável pela seleção dos países-sede de cada edição da Copa do
Mundo. Os ingleses tentavam sediar a Copa de 2018, enquanto os EUA lutavam pela
organização da edição de 2022.
Autoridades de Rússia e Qatar negaram repetidas vezes a existência de
irregularidades no processo de suas escolhas como países-sedes das próximas
Copas. Na última semana, após o FBI solicitar a prisão de 14 acusados de
participação no escândalo de corrupção da Fifa, o governo russo questionou os
reais interesses dos EUA, levantando a possibilidade de uma conspiração para
retirar da Rússia o posto de sede da Copa do Mundo de 2018.
RELEMBRE
A POLÊMICA ESCOLHA DE RÚSSIA E QATAR
Em 2 de dezembro de 2010, o presidente da Fifa Joseph Blatter, em vias
de terminar seu terceiro mandato no comando da entidade, anunciou o resultado
da votação para as sedes das Copas do Mundo de 2018 e 2022. A Rússia desbancou
Inglaterra e as candidaturas conjuntas de Portugal-Espanha e Bélgica-Holanda
para organizar a Copa de 2018, enquanto o Qatar levou a melhor sobre EUA,
Japão, Austrália e Coreia do Sul pela edição de 2022.
A decisão gerou revolta de ingleses e americanos, que passaram a
levantar a possibilidade de compra de votos pelos países vencedores. Reportagem
do jornalista britânico Andrew Jennings, em 2011, acusou Jack Warner, então
presidente da Concacaf, e Nicolas Leoz, mandatário da Conmebol à época, de
terem solicitado dinheiro e um título de nobreza, respectivamente, em troca de
apoio à Inglaterra na votação.
Após longa investigação, o Comitê de Ética da Fifa publicou seu
relatório final, de 42 páginas, em que dizia não ter identificado
"qualquer violação ou quebra de regras e regulamentos" nas escolhas
de Rússia de Qatar. Michael García, investigador-chefe do caso na Fifa, e responsável
por produzir um documento de 350 páginas que serviu de base ao relatório final,
entrou com recurso pedindo que fossem revistas as conclusões do Comitê de
Ética. Garcia alegou que o documento final não era coerente com sua
investigação, e pediu que a Fifa divulgasse na íntegra seu relatório original.
INTERPOL VAI ATRÁS DE JACK WARNER E NICOLAS LEOZ
Nesta segunda-feira, a organização policial internacional Interpol
incluiu em sua lista de procurados dois ex-membros do Comitê Executivo da Fifa,
ambos investigados pelo FBI. Jack Warner, ex-presidente da Concacaf, e Nicolas
Leoz, antigo mandatário da Conmebol, tiveram suas prisão solicitadas pela
Interpol. Os dois já tiveram prisão e extradição solicitadas pelo FBI na última
semana. Warner se apresentou à polícia em Port of Spain, capital de Trinidad e
Tobago, e passou a noite na cadeia antes de conseguir acertar pagamento de
fiança. Leoz, que estava hospitalizado no Paraguai, cumprirá prisão domiciliar
ao menos por 60 dias, prazo dado à Procuradoria de Justiça dos EUA para
apresentar formalmente suas provas à Justiça do Paraguai.
A Interpol também emitiu alertas, que não equivalem a mandados de
prisão, para os empresários de marketing esportivo Alejandro Burzaco (Torneos y
Competencias, ou TyC Sports), Jose Margulies (Traffic, empresa do brasileiro J.
Hawilla), Hugo e Mariano Jinkins, ligados ao grupo Full Play.
POR O GLOBO, COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS