Terça-feira, 26 de Janeiro de 2016.
A banana é a fruta
mais popular do mundo. E além dos seus predicadosgastronômicos, ela já foi
usada tanto para designar governos corruptos em países tropicais - as
Repúblicas das Bananas - quanto para sinalizar algum comportamento estranho -
no inglês "going bananas". Também tem se mostrado útil a atletas,
como repositora de nutrientes. Quem não lembra do tenista Gustavo Kuerten
comendo bananas no intervalos de jogos
Atualmente, mais de
100 milhões de bananas são consumidas anualmente no planeta.
Mas agora o mundo
enfrenta uma nova ameaça que pode provocar, segundo especialistas, a extinção
da variedade mais comum da banana, a Cavendish (no Brasil, banana d'água e/ou
nanica). E talvez da fruta em todas as suas espécies.
Tal possibilidade tem
a ver com uma propriedade rural no condado de Derbyshire, Inglaterra.
Ali, há 180 anos, foi desenvolvida a variação da fruta que se tornaria a mais
consumida no mundo.
O jardineiro da
propriedade de Chatsworth, Joseph Paxton, recebeu, em 1830, um cacho de bananas
importadas das IlhasMaurício. Paxton havia visto bananas em um papel de
paredes de um dos 175 quartos da propriedade. Na esperança de cultivar o fruto,
o jardineiro plantou o que seria a primeira bananeira daquela propriedade.
"Paxton sempre esteve
atento a novas plantas exóticas e era bem relacionado, o que lhe permitiu saber
que bananas haviam chegado à Inglaterra", comenta o atual jardineiro-chefe
da propriedade, Steve Porter.
Em novembro de 1835 a
bananeira de Paxton finalmente deu frutos. Mais de 100, o que rendeu ao
jardineiro a medalha durante a exposição da Sociedade Horticultural britânica.
A banana acabou
batizada pelos empregados da propriedade de Cavendishii, já que Cavendish era o
nome de família dos donos do local, a duquesa e o duque de Devonshire.
"Naquela época,
era muito interessante para uma família inglesa plantar bananas e servir a
fruta a seus visitantes", diz Porter. "E ainda é", comenta.
Missionários acabaram
levando as bananas Cavendish para o Pacífico e Ilhas Canárias. Com a epidemia
da Doença do Panamá, que dizimou as plantações de outros tipos de bananas a
partir de 1950, mas não afetou a Cavendish, esta variação da fruta passou a ser
a preferida de agricultores mundo afora.
A Cavendish era imune
ao fungo assassino. E acabou sendo o tipo-exportação. A fruta rendeu, em 2014,
US$ 11 bilhões em exportações da fruta, sendo o Equador o principal vendedor. O
Brasil é o sexto maior produtor, com mais de 7 milhões de toneladas produzidas,
mas consome quase toda a banana que produz.
O problema é que,
enquanto produtores aperfeiçoavam a banana Cavendish, encontrada em supermercados
do Ocidente quase sempre com o mesmo tamanho e sem manchas, o fungo da Doença
do Panamá também evoluiu. E, agora, ameaça seriamente as Cavendish.
O novo fungo é ainda
mais poderoso do que o que atacou o tipo mais popular de banana antes dos anos
50, a Gros Michel, e agora afeta plantações em diversos lugares no mundo. Mais
de 10 mil hectares de plantações foram destruídos.
Como o todas as
Cavendish produzidas atualmente são clones daquela plantada pelo jardineiro
Joseph Paxton há quase dois séculos, se uma for atingida, as demais também serão.
Perigo
O fungo foi redescoberto em 1992, no Panamá, e detectado desde então na
China, Indonésia, Malasia e Filipinas. E, de acordo com a Panama Disease.org, -
entidade formada por pesquisadores holandeses para alertar sobre o perigo da
doença- afetará logo, e em larga escala, plantações da América do Sul e África.
"O problema é
que não temos outra variação da banana que seja imune à doença e que possa
substituir a Cavendish", diz Gert Kema, especialista e produção da planta
na Wageningen University and Research Centre, na Holanda, e um dos membros do
Panama Didease.org.
Pesquisadores
trabalham com duas linhas de ação para salvar a banana. Primeiro, conter o
avanço da doença através de campanhas.
Mas é mais fácil
falar do que fazer, alerta Alistair Smith, coordenador internacional da
organização Banana Link, que reúne cooperativas de agricultores ao redor do
mundo.
"É mais ou menos
possível conter (o fungo) com medidas severas, mas isso não significa que a
doença não será transmitida", diz.
Temos tecnologias
mais avançadas agora do que tínhamos quando perdemos a Gros Michel",
complementa Kema. "Podemos detectar e rastrear o fungo muito melhor do que
antes, mas o problema persiste, pelo fato de que a Cavendish é muito vulnerável
à doença".
Outra
banana
Daí surge a segunda linha de atuação: achar uma banana não vulnerável ao
fungo.
"Continuar
plantando a mesma banana é burrice", alerta Kema. "Podemos tentar
aperfeiçoar a Cavendish geneticamente. Mas, em paralelo, precisamos aumentar a
diversidade".
A eventual extinção
da banana traria impacto severo para a economia e a dieta de vários países,
lembram os pesquisadores.
Enquanto isso, ainda
distante da crise, a plantação de bananas iniciada por Joseph Paxton em 1830
segue firme em Chatsworth, na Inglaterra, onde são colhidos de 30 a 100 cachos
por ano.
"Elas parecem
mais com plântano, mais densas e não tão doces", comenta o atual
jardineiro, Steve Porter. "Mas ficam bonitas na decoração e são usadas
também em alguns pratos da casa. Enquanto pudermos, vamos manter nossa
plantação".
180 Graus