Seria a depressão um problema
apenas de ordem espiritual? Algumas igrejas, principalmente as pentecostais e
neopentecostais, nem consideram que a depressão seja uma doença. Para estes,
depressão é sempre sinônimo de opressão. Em minha opinião nem toda depressão é
opressão. É preciso distinguir as coisas. Há na natureza humana três dimensões:
física, emocional e espiritual. Essas dimensões não são estanques, elas se
completam e se interinfluenciam.
Mas, o
que é depressão? A depressão foi conhecida no decorrer dos séculos sob vários
nomes: “Perda”, que seria um abatimento duradouro; Hipócrates diagnosticou no
séc. IV a. C.; chamando-a de melancolia. Foi chamada do mal do século XX. Hoje
afeta de 10 a 15% da população mundial. Estima-se que esse número vai chegar a
20%. E leva, anualmente, mais de 800 mil pessoas ao suicídio. Esta doença não
tem só um aspecto. Existem vários tipos de depressão, o que este breve artigo
não me permite elucidá-los. A OMS classificou a depressão como 4ª doença que
mais causa invalidez. Até 2020 ocupará o 2º lugar, perdendo apenas para doenças
cardíacas.
A
palavra vem do latim “deprimere”, que significa oprimir, abaixar,
pressionar para baixo, cavar fundo, levar à profundidade. No sentido
patológico, as causas podem ser diversas: desequilíbrio na química do cérebro;
fatores físicos: estresses, insônia, álcool, drogas, vários tipos de doenças,
etc; fatores psicossociais: experiências traumáticas na infância, extrema
pobreza, rejeição, orfandade, divórcios, pessoas mal-amadas, etc; fatores
espirituais ou sentimentais: sentimento de culpa (real ou imaginária), ódio,
ressentimentos, pessimismo, pensamentos negativos, etc; causas genéticas:
porém, a genética é predispositiva, não decisiva. Até mesmo “espiritualismo
fanático” em algumas igrejas que fala do mundo espiritual com exagero e sem
equilíbrio bíblico (há
casos de pessoas que enlouquecem por viverem nesses ambientes).
Já que
depressão nem sempre é opressão, talvez, agora, uma pergunta seja necessária:
um cristão pode ter depressão? Para alguns pastores se um cristão falar que
está com depressão ele logo quer levá-la para alguma “sessão de descarrego” ou
“culto de libertação”. Ou então para receber uma “oração forte” feita por algum
pastor surtado com “síndrome de messias” e detentor de “poderes especiais”.
No
entanto, na Bíblia e na história temos vários exemplos de homens de Deus que
tiveram momentos de angústias ou de extrema tristeza e abatimento levando-os
(alguns deles) até pedir para si a morte: Jó (Jó 3.11; 16.16-17); Moisés (Nm 11.15); Elías (1Rs 19.1-18); Davi e outros salmistas (Sl 32; 38; 42; 43; 46 etc); Jonas (4.3); Jeremias (20.1-18; Lm 3.19-27); Paulo (At 16.16-40; 2Co 1.3-11). Na
história, os exemplos de homens de Deus que passaram noites escuras da alma são
inúmeros: Martinho Lutero; John Bunyan; William Cowper; David Brainerd; John
Wesley; Charles Spurgeon, dentre tantos. Teria você a ousadia de dizer que
esses homens não tinham Deus?
O
próprio Jesus teve sua “noite escura da alma”. Claro que ele não teve depressão
como entendemos hoje (lembre-se que existe vários tipos de
depressão). Mas teve um momento de tristeza profunda, uma angústia
sufocante. Diz o texto sagrado: “Então,
lhes disse: A minha alma está profundamente triste até à morte; ficai aqui e
vigiai comigo” (Mt
26.38). A frase em grego significa: “estar intranquilo/triste/angustiado”;
pode ser traduzido como: “começou a tremer e a ter medo e disse-lhes” ou “tomado de angústia e pavor, ele lhes
disse”; “profundamente entristecido”; “minha alma está mortalmente
entristecida”; isto
é, os tormentos psíquicos são tão grandes que estão quase me matando. A angústia foi tão forte que
ele teve “hematidrose” que é o ato de “suar sangue” (Lucas 22.42-44). Esse
tipo de reação, apesar de ser raríssimo, só é produzido diante de condições
excepcionais: uma fraqueza física, acompanhada de um abatimento moral violento
causado por uma profunda emoção, por um grande medo.
Quando
Jesus disse isso ele estava no Getsêmani, no Monte das Oliveiras, com os
seus discípulos antes de ser entregue à crucificação. Estava no momento que
antecedia seu sofrimento na cruz. Não foram simples citações poéticas. Ele
antevia o que aconteceria: seria traído, humilhado, desprezado, sentiria dores
atrozes, etc. Como homem estava sujeito aos sentimentos que todos nós sentimos.
O
problema é que em algumas igrejas, neopentecostais principalmente, a depressão
e problemas emocionais são sempre associadas a opressão demoníaca. E o
resultado triste disso é que alguns cristãos têm que esconder seus problemas
para não ser tachado de crente fraco ou sem fé. Levando, inclusive, alguns
líderes a se tratarem às escondidas para que sua prática não seja dissonante de
sua pregação. Disfarçam seus sentimentos numa capa de suposta espiritualidade.
Totalmente contrário do que o apóstolo Paulo fez e pregou. Ele não escondia
sentimentos nem mostrava o que não era. Ele assim o fez para que “ninguém pense de si além do que
convém” (Romanos
12.3). Ele disse: “sinto
prazer nas fraquezas… nas angústias… porque quando estou fraco, então é que sou
forte” (2Coríntios
12.10). Esse tipo de sermão dificilmente será ouvido nesse tipo
de igreja de triunfalismos antibíblicos e perversos. Igreja de uma cegueira
auto imposta, fruto de narcisismo idiota e fora da razão e do bom senso. Que
não tem espaço no chão da vida. No dia-a-dia. Serve apenas para pavoneamento
nos cultos de domingo à noite.
Eu creio
que Deus pode curar qualquer doença se o quiser. Mas, nem sempre o faz (a
Bíblia é recheada de exemplos). A depressão tem causado muitos
males dentro e fora das instituições religiosas, sejam elas evangélicas ou não.
Se você sofre desse mal, não deixe que isso te leve ao extremo de um suicídio.
O Cristo da Palavra verdadeira pode te ajudar a passar pela sua “noite escura
da alma”. Todos nós, seres humanos normais, sabemos o que é isso. Deus sabe e
cuida de nós mesmo no sofrimento: “Pois
não temos um sumo sacerdote que não seja capaz de compadecer-se das nossas
fraquezas, mas temos o Sacerdote Supremo que, à nossa semelhança, foi tentado
de todas as formas, porém sem pecado algum” (Hebreus 4.15). Diga como o salmista: “Por que estás
abatida,
ó minha alma, e por que te perturbas dentro de mim? Espera em Deus, pois ainda
o louvarei, o qual é a salvação da minha face, e o meu Deus” (Salmos 42.11).
Busque a
Deus, não a religião. Religião às vezes causa depressão ao invés de libertá-lo
dela. Leia o Novo Testamento e deixe a Palavra fazer uma revolução na sua alma.
Finalmente, em alguns casos é preciso procurar ajuda de profissionais.
Especialmente de um profissional cristão. Mas, e se alguém numa depressão
insuportável vier a cometer suicídio, vai será perdoado? Bem, isso já é assunto
para o próximo artigo…
Portal Nordeste 1 com
Pr.
Antônio Pereira Jr.
(1ª
Igreja Congregacional em Guarabira – PB).
E-mail: oapologista@yahoo.com.br