Já sentiu vontade de morrer? Eu
sei como é isso. Quem nunca, em momento de profunda tristeza ou decepção, não
deixou esse pensamento penetrar no coração? Querer que o sofrimento acabe é
natural. O sofrimento é fruto do pecado na raça humana. O engano é pensar que quando
se tira a própria vida o sofrimento acaba. Nunca acaba, principalmente para os
entes queridos que ficam com a sensação de impotência e cheio de
questionamentos existenciais.
Vou
tentar ser o mais sucinto possível. É impossível tratar com detalhes sobre esse
assunto complexo num pequeno artigo. As questões éticas sempre serão difíceis
de tratar e sempre teremos vozes dissonantes. Entendo que até certo ponto,
sentir vontade de morrer é normal. Vários homens de Deus também pensaram em
desistir da vida. Na Bíblia, há pelo menos três personagens que pediram para si
a morte: Elias (1Reis 19.4). Jó(Jó 7.15) e Jonas (Jonas 4.3).
O
Suicídio que também é conhecido como “autocídio”, vem do latim: sui (a si mesmo) ecaedere (matar, cortar), ou seja, matar a si
mesmo. As causas são as mais diversas: transtorno mental ou psicológico
desembocando no ato extremo por causa de uma depressão profunda; transtorno
bipolar; esquizofrenia; abuso de drogas; dificuldades financeiras, etc.
Acredita-se que mais de 800 mil pessoas cometem suicídio por ano em todo mundo.
Alguns dados dizem que são mais de 1 milhão. O mais trágico é que a faixa
etária está entre as pessoas mais jovens (pessoas com menos de 35 anos).
Paradoxalmente quem tem mais tempo pela frente desiste da vida. Os velhos sabem
dar mais valor à vida, entendem que apesar dos problemas, como disse
Gonzaguinha: “É
a vida… E é bonita, é bonita e é bonita”.
A
princípio, biblicamente falando, alguns entendem que o suicídio é um assassinato,
pois na Bíblia diz: “Não
matarás” (Êx 20.13).
Um princípio claro é que a vida pertence a Deus e apenas ele tem o direito de
tomá-la (Dt 32.39; Jo 1.21). Com relação ao suicídio em si, há pelo menos cinco
casos registrados na Bíblia: Abimeleque (Jz 9.50-56); Saul (1Sm 31.1-6);Zinri (1Rs 16.18-19); Aitofel (2Sm 17.23), e Judas, único exemplo no
Novo Testamento (Mt 27.3-10). Alguns inferem deste último que o suicídio leva a
condenação, contudo, Judas foi condenado não porque suicidou-se, mas por trair
a Cristo e Sua mensagem.
De forma
geral os teólogos condenam o suicídio. Crisóstomo, Eusébio, Ambrósio e Jerônimo
apoiaram as mulheres que cometiam suicídio para escapar de homens que queriam
colocá-las em bordéis. Já Agostinho as condenava. Tomás de Aquino classificou o
suicídio como o pior dos pecados. A Igreja Católica condenava todos os
suicidas. As igrejas evangélicas tradicionalmente condenam o suicídio, sem,
contudo, condenar o suicida. Há uma diferença. O suicídio é errado? Claro que
é. A vida é bela apesar dos espinhos. Mas alguém que se suicida por passar por
problemas psicológicos, ou fraquezas humanas não teria o perdão de Deus? Quem é
o juiz? Quem pode determinar se alguém foi para o céu ou não? Quem sabe com
certeza se alguém antes de morrer não teve tempo para se arrepender? Alguns
casos podem ser notórios, outros não nos cabe julgar.
Nem todo
“suicídio” é um ato contra si mesmo. Sansão comete um “suicídio sacrificial”
pelos outros. E este gesto não o condenou, ele foi colocado entre os heróis da
fé, junto com Gideão e Baraque (Hb 11.32). O que não se pode dizer de Judas,
por exemplo. Basicamente, o suicídio é moralmente errado porque tal ideia leva
o homem a querer tomar o lugar de Deus, que é o único que tem o direito de dar
a vida e tirá-la.
Deixe-me
compartilhar alguns princípios que acho coerentes:
(1) Nem sempre tirar uma vida é assassinato. O mandamento bíblico significa: “Não
cometerás assassinato” (Êx 20.13). Por exemplo, tirar vidas numa guerra justa
contra um agressor mau não é assassinato (Gn 14.14-15). Existia até o homicídio
acidental (Dt 19.4-5) e que o homem não era tido por culpado. Além de haver a
pena capital instituída pelo próprio Deus (Gn 9.6; Dt 19.21). É tanto
antibíblico quanto irrealista categorizar todo ato de tirar uma vida como sendo
moralmente errado e sujeito a condenação eterna.
(2) O suicídio para si mesmo não pode ser justificado
filosoficamente. Apesar
de alguns filósofos serem a favor, como Schopenhauer, o suicídio, diz Sartre, é
errado porque é um ato de liberdade que destrói todos os atos futuros de
liberdade. Ou, o suicídio é uma ação absurda do raciocínio, porque é a “razão”
que se destrói a si mesma. Viver é dom de Deus.
(3) O
suicídio para si mesmo não pode ser justificado eticamente. O suicídio não é um ato de
interesse-próprio. Não pode ser! É uma falta de interesse apropriado em si
mesmo. A única maneira de alguém demonstrar interesse em si mesmo é preservar a
si mesmo. Quando um homem se suicida, ele o faz contra sua vontade básica para
viver. Agostinho disse que o suicídio é um fracasso da coragem.
(4) Nem todo suicídio é errado (Rm 5:7; Jz 16:30; Fp 1:23). Segundo Norman Geisler, a prova real de que
o suicídio sacrificial está moralmente certo é a morte de Cristo que veio “… dar a sua vida em resgate por muitos”
(Mc 10.45; Jo 10.18). “Ninguém
tem maior amor do que este,” disse Jesus, “de dar alguém a própria vida em
favor dos seus amigos” (Jo 15.13). Cristo disse: “dou a minha vida” (Jo 10.15),
porque “o bom pastor dá a vida pelas ovelhas”
(Jo 10.11).
Geisler
esclarece o termo suicídio aplicado a Cristo: “Talvez alguns objetem ao uso da
palavra ‘suicídio’ nesta conexão. Podem argumentar que o sacrifício da sua vida
em prol doutras pessoas não é suicídio. O soldado que cai por cima de uma
granada para salvar seus companheiros não está se suicidando, pode ser
argumentado. É verdade. Há uma diferença entre o suicídio egoísta e aquilo que
chamamos de suicídio sacrificial, e somente este último é moralmente
justificável. Se a pessoa quer usar a palavra ‘suicídio’ ou não, a respeito de
tal sacrifício, é questão da escolha de palavras. Seja qual for o nome que se
lhe dá, é um ato de iniciativa própria de salvar outras vidas por meio de
sacrificar sua própria”. Nesse sentido pode-se dizer que é um “suicídio sacrificial”.
Concluindo:
a Bíblia não diz que os suicidas não terão salvação. Cada caso é um caso.
Algumas pessoas, numa má interpretação, usam Apocalipse 21.8 para condenar
todos os suicidas: “Mas,
quanto aos tímidos, e aos abomináveis, e aos homicidas… a sua parte será no
lago de fogo e enxofre, o que é a segunda morte”. No entanto, como vimos, nem
sempre tirar a vida significa assassinato. E se este versículo não for bem
interpretado poderia significar também que os tímidos, por serem tímidos, não
poderiam ir para o céu.
É bom
lembrar que o único que tem a prerrogativa de tecer juízo de salvação é DEUS, o justo Juiz. Se
você pensa em tirar a sua própria vida lembre-se que ainda há esperança para
teus sofrimentos. Nem tudo está perdido. Não existe situação que Deus não possa
intervir. O que você tem que fazer é lançar sobre Cristo toda a sua ansiedade,
sabendo que Ele tem cuidado de você (1Pedro 5.7). Não deixe o Diabo encher sua
mente de desesperança. Ataque o problema e não a você mesmo. Livre-se da
angústia e verá que a vida “É
o sopro do criador, numa atitude repleta de amor”.
Sim, os
tímidos que não entrarão no reino dos céus são aqueles que tem vergonha do
evangelho (Lucas 9.26). Muitos irão para o inferno não porque suicidaram-se,
mas porque rejeitaram a Cristo e Sua mensagem. Encerro com as palavras de
Fernando Pessoa: “Às
vezes ouço passar o vento; e só de ouvir o vento passar, vale a pena ter
nascido”. Se preferir
tem as palavras de Gonzaguinha: “Viver, e não ter a vergonha de ser
feliz. Cantar (e cantar e cantar) a beleza de ser um eterno aprendiz. Eu sei
que a vida devia ser bem melhor e será. Mas isso não impede que eu repita. É
bonita, é bonita e é bonita”. E
então, a vida é bonita?
Portal Nordeste 1, com:
Pr. Antônio Pereira Jr.
(1ª
Igreja Congregacional em Guarabira – PB).
E-mail: oapologista@yahoo.com.br