Terça-feira, 15 de Março de 2016.
Bilionário sonha com imortalidade
"Nos
próximos 30 anos, farei com que todos nós possamos viver para sempre".
A
ambiciosa frase é do bilionário russo Dmitry Itskov, que promete dedicar seu
tempo e fortuna para o projeto de transferir mentes humanas para um computador.
"Estou
100% confiante de que isso vai acontecer, ou não teria iniciado tudo
isso", explica Itskov, de 35 anos, que diz ter deixado o mundo dos
negócios para se dedicar ao que ainda soa como um filme de ficção científica.
A
morte é inevitável, pelo menos até agora, porque as células que formam nosso
corpo perdem a capacidade de regeneração à medida que envelhecemos, o que nos
deixa mais vulneráveis a doenças cardiovasculares e outras condições
relacionadas ao processo de envelhecimento.
Computador
Itskov
está investindo parte de sua fortuna em um plano que concebeu para tentar
"driblar" a passagem do tempo. Ele quer usar a ciência para desvendar
os segredos do cérebro humano e fazer o upload para um computador, o que
livraria a mente de indivíduos das restrições biológicas do corpo.
"O
objetivo final é transferir a personalidade da pessoa para um corpo
completamente novo", explica o russo, fã de ficção de científica.
Mas como ele planeja tornar o
plano realidade?
O
neurocientista Randal Koene, que já trabalhou no Centro de Estudos da Memória e
do Cérebro da Universidade de Boston (EUA), é o diretor científico do projeto
de Itskov e ridiculariza sugestões de que o russo teria perdido a noção de
realidade.
"Toda
a evidência que temos até agora parece dizer que (a transferência) é possível.
É extremamente difícil, mas é possível. Sendo assim, você pode até dizer que
alguém como Itskov é um visionário, mas não louco. Porque isso implicaria
pensar que se trata de algo impossível", diz Koene.
A
possibilidade teórica a que Koene se refere está baseada em como nossos
cérebros funcionam - algo que a ciência ainda não respondeu.
Nossos
cérebros são feitos de 86 bilhões de neurônios, células que enviam informações
umas às outras por meio de descargas elétricas. Mas como o cérebro gera a mente
ainda é um dos maiores mistérios da ciência, de acordo com o neurobiólogo
Rafael Yuste, da Universidade Colúmbia (EUA). "O desafio é exatamente como
sairmos de uma conjunção de células conectadas no interior do cérebro para o
mundo mental - pensamentos, memórias e sentimentos", explica.
Para
tentar desvendar esse mecanismo, muitos cientistas tratam o cérebro como um
computador. Nessa analogia, o computador recebe dados (informações sensoriais)
e os transforma em resultados (comportamentos) por meio de cálculos. Este é o
argumento que norteia a possibilidade teórica de transferência da mente. Se o
processo cerebral pudesse ser mapeado, poderia ser possível copiar o cérebro em
um computador, juntamente com a mente criada por ele.
Isso
é o que pensa Ken Hayworth, neurocientista que durante o dia mapeia cérebros de
ratos no Centro de Pesquisas Janelia, nos EUA, e à noite lida com o problema de
como fazer o upload de suas mentes. Hayworth acredita que o mapeamento do
conectoma - a complexa rede de conexões entre neurônios - é a chave para a
solução do problema, pois é da opinião de que elas contêm as informações que
fazem de nós o que somos.
"Da
mesma maneira que meu computador é apenas uns e zeros e um disco rígido (a
linguagem binária), e eu não me importo com que acontecer desde que esses uns e
zeros passem para o próximo computador, deveria ser a mesma coisa comigo",
diz Hayworth.
BBC Brasil OUL Notícias

