Terça-feira, 10 de maio de 2016.
Ato do presidente interino da Câmara anulou votação
de deputados federais.
Senado lê resumo do parecer e deve votar afastamento de Dilma na quarta.
Senado lê resumo do parecer e deve votar afastamento de Dilma na quarta.
Renan Calheiros (Foto da internet)
O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL),
comunicou nesta segunda-feira (9) ao plenário da Casa que decidiu dar
continuidade à tramitação do processo de impeachment da presidente Dilma
Rousseff à revelia do ato do presidente em exercício da Câmara, Waldir Maranhão
(PP-MA), que mais cedo anulou a votação dos deputados em 17 de abril.
Substituto de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) na presidência da
Câmara, Maranhão acolheu pedido feito pelo advogado-geral da União, José
Eduardo Cardozo, para anular a votação do processo de impeachment no plenário
da Câmara (leia ao final
da reportagem a íntegra da decisão de Maranhão). Mas recuou no fim do dia e revogou a própria decisão.
Renan tomou a decisão após consultas ao regimento
interno do Senado e conversar com líderes partidários na residência oficial.
“[Quando o Senado recebeu o processo] disse que a tramitação não seria tão
célere de modo que parecesse apressado nem tão demorada de modo que parecesse
procrastinação. Aceitar essa brincadeira com a democracia seria ficar
pessoalmente comprometido com o atraso do processo”, declarou Renan no
plenário.
“Nenhuma decisão monocrática pode se sobrepor à decisão
colegiada, tanto mais quando essa decisão foi tomada pelo mais relevante
colegiado da Casa [...] Por todo o exposto, deixo de conhecer o ofício da
Câmara dos Deputados e determino sua juntada aos autos da denúncia com esta
decisão”, completou o presidente do Senado.
Após o anúncio da decisão, Renan teve de suspender
temporariamente a sessão devido ao tumulto que se formou no plenário com o
inconformismo de senadores governistas. O presidente do Senado tentava dar a
palavra ao orador que se encontrava na tribuna, o senador José Pimentel
(PT-CE), mas era impedido devido aos gritos de senadores.
"Não gritem, não gritem, não gritem", apelava
Renan. Como não conseguiu ser atendido, decidiu suspender a sessão. "Vou
suspender a sessão por dois minutos para que Vossas Excelências gritem em
paz", declarou.
O ofício do presidente interino da Câmara dos Deputados
pedindo que os autos do processo de impeachment sejam devolvidos à Casa chegou
às 11h37 desta segunda na Secretaria-Geral do Senado e cabia a Renan decidir o
que fazer.
Com a decisão de continuar a tramitação do processo de
afastamento no Senado, um resumo do parecer da comissão especial do impeachment, que
recomenda a instauração do processo pelo Senado, foi lido no plenário.
Após a leitura, o resumo seria publicado no “Diário
Oficial do Senado” e começaria a contar o prazo de 48 horas para que o relatório
possa ser votado pelos senadores. A votação do parecer está prevista para começar na quarta-feira (11).
Votação do impeachment
Como cada senador terá 15 minutos para
fazer considerações sobre o relatório, a sessão deverá invadir a madrugada de
quinta-feira (12). Se a maioria simples dos senadores presentes (metade mais
um) aprovar o relatório da comissão, a presidente será afastada da sua função
por 180 dias. Para que a sessão tenha início, é necessária a presença de ao
menos 41 senadores.
Se a maioria dos senadores decidir pela abertura do
julgamento no Senado, o vice Michel Temer (PMDB) assumirá a presidência
enquanto os parlamentares julgam a presidente. O processo não precisa terminar
em 180 dias, mas Dilma reassume o governo se o prazo acabar.
O parecer do relator, Antonio Anastasia (PSDB-MG), que
deve ser votado na quarta, foi aprovado na comissão especial de impeachment na
sexta-feira (6). O documento teve 15 votos favoráveis e 5 contrários - dos 21
integrantes da comissão, apenas o presidente, senador Raimundo Lira (PMDB-PB),
não votou. Ele afirmou que só votaria caso houvesse empate.
Parecer
do relator
O parecer de Anastasia diz que a denúncia
acolhida pela Câmara contra Dilma apresenta os requisitos formais exigidos pela
lei e pela Constituição: indícios de autoria e existência de crimes de
responsabilidade. O parecer levou em conta decretos da presidente que abriram
créditos suplementares sem autorização do Congresso e as chamadas
"pedaladas fiscais".
"Identificamos plausibilidade na denúncia, que
aponta para a irresponsabilidade do Chefe de Governo e de Estado na forma como
executou a política fiscal", diz o texto. "Não se trata, por fim, de
'criminalização da política fiscal', como registrou a denunciada em sua defesa
escrita apresentada a esta Comissão, mas da forma como a política foi
executada, mediante o uso irresponsável de instrumentos
orçamentário-financeiros", completa o relatório.
No parecer de 126 páginas (veja a íntegra), Anastasia rebate as críticas da base governista de que
o processo representa um "golpe" e disse que ele está de acordo com a
Constituição.
Ato do presidente em exercício da Câmara que anula a votação do
processo de impeachment na Câmara (Foto: Reprodução)
Ato do presidente em exercício da Câmara que anula a votação do
processo de impeachment na Câmara (Foto: Reprodução)
Gustavo Garcia
Do G1, em Brasília