Quarta-feira, 06 de julho de 2016
Uma
notícia bomba para os paraibanos, principalmente, para a comunidade
católica. A Arquidiocese da Paraíba amanheceu com um novo
administrador nesta quarta-feira (6), segundo informou a Pastoral da
Comunicação diocesana. Dom Aldo di Cillo Pagotto apresentou carta renúncia, que
foi aceita pela Congregação para os Bispos, e o Papa Francisco nomeou Dom Genival
Saraiva de França como Administrador Apostólico da Arquidiocese. O Decreto tem
a data desta quarta-feira e foi assinado pelo Prefeito da Congregação, Marcus,
Cardeal Ouellet, e pelo Secretário da mesma Congregação, Ilson de Jesus
Montanari em Roma, no Palácio da Congregação para os Bispos.
Em sua carta de renúncia, Dom Aldo, que esteve à frente da
Igreja Católica na região de João Pessoa por 12 anos, cita os motivos que o
levaram a tomar a decisão de se afastar da Arquidiocese, mas também, resgata
sua história no cargo. "Tentei doar o melhor de mim mesmo, não obstante as
sérias limitações de saúde, ademais das repercussões no equilíbrio emocional,
causadas pela constante necessidade de superar conflitos inevitáveis, advindos
de reações ao meu modo de ser e de agir", diz. Com a renúncia, Dom Aldo
passa a ser considerado Bispo Emérito da Paraíba. Em sua primeira carta
destinada aos fiéis da Arquidiocese, Dom Genival diz que deseja que "viver
este tempo de vacância da Arquidiocese da Paraíba com um coração misericordioso,
no espírito do Jubileu da Misericórdia".
Na carta, Dom Aldo diz que tomou "decisões enérgicas e
inadiáveis em relação à reorganização da administração, finanças e recuperação
do patrimônio da Arquidiocese". "Embora tenha sido exitoso, desinstalei
e desagradei muita gente, por razões facilmente presumíveis. Acolhi padres e
seminaristas, no intuito de lhes oferecer novas chances na vida. Entre outros,
alguns egressos, posteriormente suspeitos de cometer graves defecções,
contrárias à idoneidade exigida no sagrado ministério. Cometi erros por confiar
demais, numa ingênua misericórdia. Tomei posições assertivas diante de
políticas públicas estruturais em vista do desenvolvimento integral de nossa
gente e de nossa terra. Evitei 'ficar em cima de muro'. Foi inevitável acolher
reações e interpretações diferentes, independente de minha reta intenção de não
me imiscuir na esfera político-partidária, e jamais almejar algum poder de
ordem temporal", relata.
Dom Aldo segue contando que "não tardaram retaliações
internas e externas, ademais da instauração de um clima de desestabilização
urdida por grupos de pressão, incluindo os que se denominaram 'padres
anônimos', escudados no sigilo da fonte de informações, obtendo ampla cobertura
num jornal. Matérias sobre a vida da Igreja da Paraíba, descritas em forma
unilateral, distorcida, provocatória, foram periodicamente veiculadas, seguidas
de comentários arbitrários por várias redes sociais", destaca o documento.
Dom Aldo cita como exemplo desta situação um blog que divulgou o que ele chama
de "carta difamatória, envolvendo o arcebispo e vários sacerdotes,
arbitrariamente expostos ao escárnio público. As redes sociais encarregaram-se
de espalhar comentários peregrinos e duvidosos".
O agora Bispo Emérito também diz em sua c arta que "por
tanto tumulto, embora eu esteja sofrendo muito, permito-me afirmar que conservo
a minha consciência em paz". "Sempre estarei disposto a corrigir
rumos, a reorientar passos, a confirmar êxitos alcançados, contando com a graça
de Deus e também com a efetiva presença de bons padres, religiosos presbíteros
e de bons leigos e leigas, qualificados como forças vivas de nossa amada Igreja
Particular da Paraíba", garante.
O pedido foi acolhido e a Congregação para os Bispos
comunicou que, para atender ao governo da Igreja Metropolitana da Paraíba,
vacante pela renúncia do último arcebispo, o Sumo Pontífice, pela Divina
Providência, Papa Francisco, através de Decreto da Congregação para os Bispos,
a partir de hoje e até que o arcebispo, que deve ser eleito, tome posse
canônica, nomeou e constituiu administrador apostólico da Arquidiocese da
Paraíba o Exmo.
Dom Genival Saraiva de França bispo emérito de Palmares
(PE), e lhe atribuiu as faculdades e as funções que competem aos
administradores diocesanos, à norma do direito. Antes de ser nomeado bispo pelo
então papa João Paulo II, dom Genival atuou como pároco durante anos na
paróquia do Rosário em Campina Grande.
Veja a íntegra
da carta de Dom Aldo Pagotto.
Carta aberta aos Irmãos Bispos do Regional NE 2 da CNBB, ao
Clero e ao Povo de Deus da Igreja Particular da Paraíba.
Invocando o santo nome de Deus Uno e Trino, coloco-me sob a
proteção da Imaculada Virgem Maria e, em espírito de oração, discernimento e
obediência, apresentei ao Santo Padre, o Papa Francisco, o meu pedido de
renúncia ao governo pastoral da Arquidiocese da Paraíba. Cito sumariamente
alguns fatores que me obrigam a tal atitude.
1. Ao longo de 12 anos, preposto ao governo pastoral desta
Arquidiocese, tentei desenvolver a missão evangelizadora e pastoral que o
Senhor me confiou junto ao Clero, aos cristãos fieis, às autoridades
constitucionais e às lideranças institucionais, seguindo o lema: “Há um só
Corpo e um só Espírito” (Ef 4, 4).
- Minha intenção sempre se voltou à promoção da comunhão na
caridade, tentando participar de forma proativa na edificação da Igreja
fraterna e solidária, e da construção da sociedade com inclusão e justiça
social.
- Tentei doar o melhor de mim mesmo, não obstante as sérias limitações de saúde, ademais das repercussões no equilíbrio emocional, causadas pela constante necessidade de superar conflitos inevitáveis, advindos de reações ao meu modo de ser e de agir.
- Tentei doar o melhor de mim mesmo, não obstante as sérias limitações de saúde, ademais das repercussões no equilíbrio emocional, causadas pela constante necessidade de superar conflitos inevitáveis, advindos de reações ao meu modo de ser e de agir.
2. Tomei decisões enérgicas e inadiáveis em relação à
reorganização da administração, finanças e recuperação do patrimônio da
Arquidiocese, sempre em sintonia com o nosso ecônomo. Embora tenha sido
exitoso, desinstalei e desagradei muita gente, por razões facilmente
presumíveis.
- Acolhi padres e seminaristas, no intuito de lhes oferecer
novas chances na vida. Entre outros, alguns egressos, posteriormente suspeitos
de cometer graves defecções, contrárias à idoneidade exigida no sagrado
ministério. Cometi erros por confiar demais, numa ingênua misericórdia.
- Tomei posições assertivas diante de políticas públicas
estruturais em vista do desenvolvimento integral de nossa gente e de nossa
terra. Evitei “ficar em cima de muro”. Foi inevitável acolher reações e
interpretações diferentes, independente de minha reta intenção de não me
imiscuir na esfera político-partidária, e jamais almejar algum poder de ordem
temporal.
3. Não tardaram retaliações internas e externas, ademais da
instauração de um clima de desestabilização urdida por grupos de pressão,
incluindo os que se denominaram “padres anônimos”, escudados no sigilo da fonte
de informações, obtendo ampla cobertura num jornal. Matérias sobre a vida da
Igreja da Paraíba, descritas em forma unilateral, distorcida, provocatória,
foram periodicamente veiculadas, seguidas de comentários arbitrários por várias
redes sociais.
- A exemplo, um blog divulgou carta difamatória, envolvendo o
arcebispo e vários sacerdotes, arbitrariamente expostos ao escárnio público. As
redes sociais encarregaram-se de espalhar comentários peregrinos e duvidosos. A
presumida autora da carta responde em foro criminal.
4. A ideia obsessiva espalhada intenciona afirmar à fina
força que o clero esteja dividido, que o governo da Arquidiocese esteja
desestabilizado, e que, nesse contexto, o arcebispo perdeu a capacidade de coordenação
e, por fim, não vale à pena ordenar padres numa igreja dividida.
5. Esse sucinto relato sobre fatos amplia-se em relatórios
que eu enviei à Nunciatura Apostólica no Brasil e às demais instâncias da Santa
Sé, como pedido de compreensão e ajuda, porquanto eu não tenha nada a esconder.
Sabe-se que outro dossiê foi enviado às mesmas instâncias, por parte de membros
do Clero e de leigos.
6. Por tanto tumulto, embora eu esteja sofrendo muito,
permito-me afirmar que conservo a minha consciência em paz. Sempre estarei
disposto a corrigir rumos, a reorientar passos, a confirmar êxitos alcançados,
contando com a graça de Deus e também com a efetiva presença de bons padres,
religiosos presbíteros e de bons leigos e leigas, qualificados como forças
vivas de nossa amada Igreja Particular da Paraíba.
7. Auto-elogio e passividade não fazem parte do meu feitio.
Deus sabe o que faz e o tempo é juiz da história. Minha nonna (avó) dizia:
“quando alguém te caluniar e tentar destruir tua vida, tua resposta seja o silêncio
e mais trabalho, não se rebaixando ao nível mesquinho do espírito da treva”.
8. Passo por duras provações, sentindo a frustração de alguns
sonhos que, entanto, entrego nas mãos de Deus. Que a minha vida seja para a
maior glória de Deus, não para a busca de mim mesmo e de outros interesses que
não provenham do Senhor. Comigo sofrem muitas pessoas e comunidades. Todos
esperam em Deus que tem saídas inesperadas para os impasses criados. Não há mal
do qual Deus não tire um bem maior!
- Penso que eu não tenha o direito de provocar ou de
prolongar sofrimentos ainda maiores, especialmente aos jovens que esperam
servir a Deus na vida sacerdotal nesta Igreja da Paraíba que tanto nós todos
amamos.
9. Creio que o melhor, pelo momento, para a Igreja Universal e
para a Igreja Particular da Paraíba, seja a minha renúncia. Ante o desgaste
enfrentado, sinto-me no dever de evitar comprometer a Unidade na Caridade, a
expressão característica e essencial da Igreja de Jesus Cristo.
- Sinto-me fortalecido na fé, cultivando a espiritualidade
eucarística e marial. O Senhor é meu Pastor. Ele não me faltará (Sl 23). Ele me
dará forças, sustentar-me-á ao longo das provações, impulsionando-me a fazer o
dom de mim mesmo para a continuidade da missão que Ele ainda me confia. Há
muitos espaços e oportunidades. Estou disposto a buscá-los, pedindo a Deus que
me mostre o lugar onde eu possa ser útil, a começar pela minha Congregação do
Santíssimo Sacramento, que eu tanto amo.
10. Deixo registrado o meu pedido sincero de perdão às pessoas
a quem eu tenha feito sofrer, voluntária ou involuntariamente. Cometi erros,
acertei passos, estou disposto a caminhar com quem queira caminhar, construindo
dias melhores para todos, superando o apego a cargos, títulos, privilégios.
- Peço perdão a Deus e perdôo os que me fizeram sofrer muito.
Não há nada de oculto que um dia não venha a ser revelado e proclamado pelos
tetos. Nem devemos temer quem mata o corpo, mas não o espírito (Lc 12, 1-4).
11. Passo, em obediência, o comando da Arquidiocese para um
Irmão mais jovem, com forças, coragem e capacidade para tomar rumos acertados,
mostrados pelo Pai de amor e misericórdia, o Senhor da vida!
- Sigo o exemplo de SS. o Papa Bento XVI, dando o espaço
àquele que Deus enviar para o bem de sua Igreja.
12. Sirvo-me, pois, da 2ª Carta de Paulo aos Coríntios (2
Cor. 4, 1 ss) para expressar meus sentimentos e auspícios: “Detentores desse
ministério, nós não perdemos a coragem. Dissemos não aos procedimentos secretos
e vergonhosos. Conduzimo-nos sem duplicidade e não falsificamos a Palavra de
Deus” (...) “Não é a nós mesmos, mas a Jesus Cristo Senhor que nós proclamamos.
Mas este tesouro nós o guardamos em vasos de argila, para que o poder
incomparável seja de Deus e não nosso. Pressionados de todos os lados, não
somos esmagados; em impasses, nós conseguimos passar; perseguidos, mas não
alcançados; prostrados por terra, mas não liquidados. Sem cessar trazemos em
nosso corpo a agonia de Jesus, a fim de que a vida de Jesus seja manifestada em
nosso corpo”.
13. Oro e desejo de todo o meu coração que a Igreja
Particular da Paraíba prospere na ação evangelizadora e pastoral, seja fecunda
na promoção da unidade interna e das obras de apostolado externo, abençoado por
Nosso Senhor e por Nossa Senhora das Neves, nossa padroeira.
- Que cresça sempre mais em qualidade e em número de cristãos
fiéis, que dêem testemunho do Evangelho de Jesus, pela palavra e pelos exemplos
de vida, vivida na unidade e no amor. Em tudo, amar e servir, unidos a Nosso
Senhor, qual ramos à videira, para que se produzam muitos frutos (cf. Jo 15,
1s).
- Deixo o território material da Paraíba. Espiritualmente,
porém, a pequenina gigante, a Paraíba, nunca sairá do meu coração, agradecido
pelo muito que aprendi com o espírito guerreiro, hospitaleiro e amoroso de
nossa gente.
- Deixo a todos e todas, além de minha constante prece, um
forte abraço, um beijo no coração e as saudades jamais saciadas, na esperança
de quando em vez voltar para visitar as mil amizades sinceras e fraternas, a
quem agradeço e a quem eu quero bem de verdade.
João Pessoa (PB), 6 de julho de 2016
+ Aldo di Cillo Pagotto, sss
Arcebispo Emérito da Paraíba
Por Lucas Isídio
PBAgora