Domingo, 07 de agosto de 2016
Adonhiran Ribeiro adota conceito de 'museu casa' e
faz resgate cultural.
Local tem peças de até 200 anos usadas no semiárido paraibano.
Local tem peças de até 200 anos usadas no semiárido paraibano.
Professor transformou a própria casa em um museu regional do Nordeste
(Foto: Artur Lira / G1)
Um professor
do curso de história da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), em Campina
Grande, transformou a própria residência em um “Museu Vivo do Nordeste”.
Adotando um conceito de "museu casa", ele faz a recomposição de
moradias e ambientes típicos do semiárido nordestino. As peças expostas têm de
50 a 200 anos. O local existe há quase 10 anos, no bairro Bodocongó, na zona
oeste da cidade. Para visitar o museu é necessário fazer agendamento, mas a
entrada é gratuita.
O professor Adonhiran Ribeiro dos Santos
explica que o museu surgiu por meio de um projeto de extensão da UEPB. No local
é possível encontrar móveis, armas, medicamentos, acessórios, ferramentes,
instrumentos musicais e até um fogão a lenha que ainda é usado por ele, além de
outros objetos e utensílios. Ao todo, são cerca de 600 peças. A viagem no tempo
começa logo na entrada, onde o visitante precisa balançar um chocalho bovino
que serve como campainha.
Museu conta com peças de 50 anos até 200 anos de fabricação artesanal
(Foto: Artur Lira / G1)
“Quem entra no museu tem a sensação de estar num lugar
verdadeiro daquela época, típico do Nordeste. Uma das vantagens desse conceito
de museu é que as peças ficam expostas e o visitante pode pegar e até usar a
maior parte delas, diferente de outros museus onde as peças ficam protegidas
por vidros e alarmes”, disse o professor.
Com agendamentos para visitas, o museu conta com
apresentações de trios de forró pé-de-serra, emboladores de coco e outras
atrações artistas da cultura regional.
No museu casa, o professor Adonhiram mora com a esposa e
a filha mais nova. Neste mesmo local ele criou outros dois filhos, que
atualmente são casados e moram em outras casas. Apesar da transformação na
residência e necessidade do cuidado com as peças, a família do professor gosta
da ideia.
Prensa artesanal era usada em produção no Brejo paraibano, diz historiador
(Foto: Artur Lira / G1)
“No início, minha esposa ficou um pouco chateada. São
muitas peças pela casa, mas, todos já se acostumaram”, disse.
A maior parte das peças que o museu conta foram
adquiridas pelo próprio professor, outra parte foi doada por outros professores
e alunos da UEPB, por meio de um projeto de extensão, e uma pequena parte foram
de peças encontradas perdidas.
“Sempre que eu viajo para o interior, eu tenho o cuidado
de passar com calma pelas estradas vicinais. Vez ou outra encontro peças
jogadas em cantos de cercas, ou terrenos abandonados. Muitas vezes os antigos
donos jogam, sem saberem o valor histórico que aquela peça tem”, explicou ele.
Pilão
de 200 anos
Uma das peças mais antigas que museu tem é
um pilão com cerca de 200 anos. O professor explica que ele foi usado por
famílias da cidade de Gurjão, no Cariri, para amassar grãos.
A peça foi encontrada em 2006. “Outro pilão bastante raro que eu encontrei foi
o 'pilão deitado'. Essa peça estava jogada do lado de uma árvore sendo usada
como banco para as pessoas sentarem”, explicou Adonhiran
Espaço 'Meu Cariri" tem várias plantas do semiárido nordestino (Foto: Artur Lira
/ G1)
Plantas
Além dos objetos, ferramentas e utensílios, o museu conta com dois ambientes composto de plantas da região.
Além dos objetos, ferramentas e utensílios, o museu conta com dois ambientes composto de plantas da região.
No espaço batizado de “Meu Cariri” são encontrados
mamonas, arrudas, espadas de São Jorge, comigo-ninguém-pode, mandacarú, cacto e
a dama da noite, além de outras espécies trepadeiras e medicinais.
“São plantas que ainda hoje muitos
moradores da zona rural cultivam em suas casas. Algumas para serem usadas em
chás e medicações caseiras, como também por conta de algumas crenças, como o
exemplo de plantas que eles acreditam afastar energias negativas da casa”,
contou Adonhiran.
Cozinha do museu tem fogão a lenha funcionando e panelas de barro (Foto: Artur Lira / G1)
Cozinha do século 20
Outro ambiente que chama a atenção dos visitantes é a recomposição de uma cozinha típica do Nordeste brasileiro, no início do século 20. Nela existe um fogão a lenha com panelas de barro que ainda são usadas pelo professor.
Outro ambiente que chama a atenção dos visitantes é a recomposição de uma cozinha típica do Nordeste brasileiro, no início do século 20. Nela existe um fogão a lenha com panelas de barro que ainda são usadas pelo professor.
“Geralmente, no São João, a gente acende o fogão e faz
comida. Me reúno com familiares e amigos e aqui a gente revive os festejos
juninos da época de nossa infância”, destacou o professor.
Ainda na cozinha, são encontradas garrafas de cachaças e
outras bebidas alcoólicas antigas. Para não perder a tradição, ao passar pela
cozinha do museu, não é difícil encontrar cascas de laranjas jogadas na
estrutura que sustenta o telhado. “Antigamente as mulheres tinham a crença de
que se jogassem a casca da laranja no teto e ela ficasse presa na madeira que
sustenta o telhado, seria sinal de um bom casamento”, contou Adonhiran.
Agendamento
de visitas
Para visitar o local é necessário fazer um
agendamento por meio do telefone (83) 3333-1936. A visita pode ser feita também
por grupos de estudantes. O museu fica na Rua Manoel Joaquim Ribeiro, 239,
Bodocongó, em Campina Grande.
Artur Lira
Do G1 PB