Quarta-feira, 30 de novembro de 2016
Diante dos
protestos contra Temer e seus assessores, Padilha entra na alça de mira dos
movimentos populares. Assim, poderá ser o próximo a desembarcar do governo
Padilha foi citado por Calero como um dos integrantes do grupo de pressão formado por Geddel Vieira Lima e Michel Temer
A renúncia de Geddel Vieira Lima, ex-chefe de
Governo do presidente de
facto, Michel Temer, está longe de
encerrar o escândalo. Homem forte de Temer, no Congresso, o peemedebista baiano
desembarcou da equipe, articulada após a eclosão do golpe de Estado, após ser
acusado de prática de advocacia administrativa e tráfico de influência. O caso,
agora, envolve mais as personagens. Além de Michel Temer, o chefe da Casa
Civil, Eliseu Padilha, foi acusado de integrar o grupo de pressão.
Vieira Lima seria
dono de um imóvel de R$ 2,5 milhões no edifício La Vue, em área histórica da
capital baiana. Falta, no entanto, a licença de uma instância do Ministério da
Cultura para a conclusão do empreendimento. O ex-ocupante da pasta, Marcelo
Calero, denunciou tanto o colega quanto o chefe do governo em curso pela
pressão sofrida para que concedesse a permissão. Calero falou, em rede
nacional, na noite passada, à jornalista Renata Lo Prete.
Solução jurídica
Diante dos protestos contra Temer e seus assessores, Padilha entra na alça de mira dos movimentos populares. Assim, poderá ser o próximo a desembarcar do governo. Calero deixou claro que a Polícia Federal e a procuradoria-geral da República já têm em seu poder gravações que comprometem Padilha e Temer. Embora não o tenha citado, nominalmente, fica claro na gravação que tanto Padilha quanto Geddel mantiveram ligações telefônicas com Calero. Na conversa com a jornalista, ele mandou um recado para Temer, que o chamou de “indigno” por ter feito as gravações:
Diante dos protestos contra Temer e seus assessores, Padilha entra na alça de mira dos movimentos populares. Assim, poderá ser o próximo a desembarcar do governo. Calero deixou claro que a Polícia Federal e a procuradoria-geral da República já têm em seu poder gravações que comprometem Padilha e Temer. Embora não o tenha citado, nominalmente, fica claro na gravação que tanto Padilha quanto Geddel mantiveram ligações telefônicas com Calero. Na conversa com a jornalista, ele mandou um recado para Temer, que o chamou de “indigno” por ter feito as gravações:
— O servidor
público tem que ser leal, mas não pode ser cúmplice.
Calero reafirmou
que Temer participou das pressões de Geddel, ao dizer que “a política tem
dessas coisas”. Temer disse a ele para que se procurasse a Advocacia-Geral da
União. Ali, obteria “uma solução jurídica” para atender aos interesses de
Vieira Lima.
Sem opçõesCom a renúncia de
Geddel Vieira Lima e as acusações do deputado cassado, e preso, Eduardo Cunha
(PMDB-RJ) ao secretário do Programa de Parceria de Investimentos (PPI),
Wellington Moreira Franco, complica-se a situação do governo em
curso. Padilha, agora envolvido no escândalo do edifício La Vue, perde a condição de
principal sustentáculo político de Temer
— De todos,
Padilha é o mais organizado — disse a jornalistas um peemedebista influente.
Para segmentos do
mercado financeiro, Padilha era o último nome capaz de sustentar o avanço
das reformas econômicas.
— Ele tem sido o
personagem responsável por conversar com o sindicato, os políticos e os
empresários sobre a reforma da Previdência. Também tem sido enfático na defesa
do teto de gastos prometidos pelo governo — disse um operador financeiro.
Delatores
Exposto na
entrevista de Calero, Padilha também foi acusado pelo ex-ministro da
Advocacia-Geral da União Fábio Medina de trabalhar para o encerramento das
investigações relativas à Operação Lava-Jato. Em fase final de negociações com
o coordenador da Lava Jato, juiz Sérgio Moro, a empreiteira Odebrecht teria repassado
R$ 10 milhões ao PMDB. Do total, R$ 4 milhões tiveram como destinatário final o
próprio Eliseu Padilha, segundo os delatores.
Os R$ 6 milhões
restantes foram endereçados a Paulo Skaf, presidente da Federação das
Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e ex-candidato ao governo de São
Paulo em 2014, de acordo com os executivos da Odebrecht.
Padilha também
tem se posicionado contrariamente à concessão de reajustes salariais para o
funcionalismo. O fato pesa contra sua permanência no governo, sob a pressão de
categorias do serviço público. Em um encontro recente com uma categoria que
reivindicava acréscimos nos vencimentos, Padilha foi contundente:
— Vocês sabem
que, perante a opinião pública, representam uma casta de privilegiados. Não há
hipótese de darmos o que estão pedido neste momento.
Denúncias de CaleroMarcelo Calero
confirmou, em entrevista a um programa dominical, na TV, que gravou as conversas
com o presidente Michel Temer e ministros. Mas disse que o conteúdo do diálogo
gravado com Temer, no qual pediu demissão do cargo ministerial, foi apenas
protocolar.
Calero é o pivô
de uma crise que levou à demissão do ex- ministro da Secretaria de Governo
Geddel Vieira Lima na semana passada. O ex-ministro da Cultura acusou Geddel de
ter feito pressão sobre ele devido a uma obra de um prédio em Salvador do
interesse de Geddel, e depois disse à Polícia Federal que também sofreu pressão
de Temer com relação ao caso.
— Eu fiz algumas
gravações telefônicas, ou seja, de pessoas que me ligaram. Entre essas
gravações, existe uma gravação do presidente da República, mas uma gravação
absolutamente burocrática. Inclusive, eu fiz questão de que essa conversa fosse
muito protocolar, que é a conversa da minha demissão. Eu tive a preocupação
inclusive de não induzir o presidente a entrar em qualquer tema para não criar
prova contra si — disse Calero, na entrevista.
ConflitosCalero não disse
quais ministros gravou, segundo ele, para não prejudicar as investigações.
Geddel pediu demissão do cargo na sexta-feira, após conversa com Temer. Em
entrevista coletiva no domingo, o Temer admitiu que a demora no pedido de
demissão de Geddel foi prejudicial ao governo e aumentou a temperatura da
crise.
Na entrevista,
Temer ainda insistiu que suas conversas com Calero se resumiram a tentar
arbitrar um conflito. E classificou de “indigno” o fato de Calero ter gravado
conversa com ele.
— Se ele gravou
mesmo eu espero que logo venha à luz. Os senhores vão verificar que eu estava
arbitrando conflitos. A coisa que mais fiz na vida foi arbitrar conflitos. É
uma tarefa indispensável para um presidente (de facto) da República —
concluiu.
Correio do Brasil