Sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017
Pesquisadores dizem que autismo pode ser detectado em crianças no primeiro ano de vida
Exames cerebrais de ressonância
magnética podem detectar autismo antes que qualquer sintoma comece a surgir,
afirmam pesquisadores da Universidade da Carolina do Norte, nos Estados Unidos.
Atualmente, as crianças podem ser diagnosticadas a partir dos
dois anos de idade, mas, em geral, isso costuma ocorrer mais tarde. O estudo,
publicado na revista “Nature” , entretanto, mostra que as origens do autismo
estão bem antes disso –no primeiro de ano de vida. As descobertas do estudo
podem levar a um diagnóstico precoce e até mesmo a terapias imediatas.
De acordo com o levantamento, uma em cada cem pessoas tem
autismo, condição que afeta o comportamento e interação social. A pesquisa
analisou 148 crianças, incluindo aquelas com alto risco de autismo porque
tinham irmãos mais velhos com o distúrbio. Todos foram submetidos a exames de
ressonância magnética aos seis, 12 e 24 meses de vida.
“Muito cedo, no primeiro ano de vida, vemos diferenças de área
de superfície do cérebro que precedem os sintomas que as pessoas associam
tradicionalmente com autismo”, disse à BBC o médico Heather Hazlett, um dos
pesquisadores da Universidade da Carolina Norte.O estudo revelou diferenças
iniciais no córtex cerebral, a parte do cérebro responsável por funções de alto
nível –como linguagem por exemplo– em crianças que depois viriam a ser
diagnosticadas com autismo.
“Os exames indicam que essas diferenças do cérebro podem ocorrer
em crianças com alto risco de autismo”, afirma Hazlett. O estudo abre
possibilidades para avanços na forma que a doença é tratado e diagnosticada.
Escaneamentos do cérebro de bebês, particularmente em famílias
de alto risco, podem levar a um diagnóstico precoce. Acredita-se que, a longo
prazo, possam surgir exames de DNA, aplicáveis a todas as crianças, capazes de
identificar aquelas em que o risco de ter autismo é alto.
Com a doença diagnosticada cedo, é possível implantar antes
terapias comportamentais –como treinar pais a interagir com o filho autista– em
busca de resultados mais eficientes.
INTERVENÇÃO PRECOCE
Outro pesquisador do projeto, Joseph Piven, diz que agora pode
ser possível identificar crianças propensas a ter autismo. “Isso nos permite
intervir antes que apareçam os comportamentos da doença. Há amplo consenso de
que há mais impacto antes que os sintomas tenham se consolidado. O resultado
dessa pesquisa é muito promissor”, afirmou.
Com a descoberta, os pesquisadores afirmam ser possível prever
quais crianças desenvolverão autismo com 80% de precisão.
“É possível que a varredura feita através de ressonância
magnética (MRI, sigla em inglês) possa ajudar as famílias que já têm uma
criança autista para acessar o diagnóstico anterior de crianças subsequentes.
Isso significaria que essas crianças poderiam receber o apoio certo tão cedo
quanto possível”, diz Carol Povey, diretora da Sociedade Nacional de Autistas
da Grã-Bretanha.
A especialista afirma, no entanto, que o autismo pode se
manifestar de diferentes maneiras e “nenhum teste único poderia ser capaz de
identificar o potencial de autismo em todas as crianças”.
Folha de SP.