Segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017
Robert Marchan, 105, quebrou o recorde mundial para sua categoria ao percorrer 22,5 km em uma hora
Aos 105 anos, o ciclista amador francês e detentor do recorde
mundial Robert Marchand está mais apto aerobicamente falando do que a maioria
das pessoas de 50 anos – e parece ficar cada vez mais em forma à medida que
envelhece, segundo um novo estudo revelador sobre sua fisiologia.
Esse
estudo, que apareceu na edição de dezembro do The
Journal of Applied Physiology, pode ajudar a reescrever
expectativas científicas sobre como nossos corpos envelhecem e o que é possível
para qualquer um de nós, sem restrições de idade, em questões atléticas.
Muitas
pessoas começaram a ouvir falar de Marchand no mês passado quando eleestabeleceu
um recorde mundial em uma hora de ciclismo, evento em que
alguém pedala a maior distância possível em uma pista coberta por 60 minutos.
Marchand percorreu mais de 22,5 quilômetros,
estabelecendo um ponto de referência global para pessoas com 105 anos ou mais.
Essa classificação precisou ser criada especificamente para acomodá-lo. Até
então, ninguém dessa idade havia tentado o feito.
Marchand, que nasceu em 1911, possuía o recorde de uma hora para
ciclistas com 100 anos ou mais, que estabeleceu em 2012.
Foi quando se preparava para a prova que chamou a atenção de
Veronique Billat, professora de Ciências do Exercício na Universidade de
Evry-Val d'Essonne, na França. Em seu laboratório, Veronique e seus colegas
estudam e treinam vários atletas profissionais e amadores.
Ela se interessou principalmente pelo programa de exercícios de
Marchand e se, alterando o programa, seria possível aumentar sua resistência e
sua velocidade.
Dá para envelhecer e melhorar sua marca?
A sabedoria convencional de ciências do exercício sugere que é
muito difícil aumentar a aptidão física aeróbica de maneira significativa
depois da meia idade. Em geral, o VO2 máximo (ou volume de oxigênio máximo),
uma medida de quão bem nossos corpos usam o oxigênio e o indicador científico
de aptidão física mais amplamente aceito, começa a declinar por volta dos 50
anos, mesmo que a pessoa se exercite com frequência.
Veronique, no entanto, tinha descoberto que se atletas mais
velhos fizessem exercícios intensos, poderiam aumentar seu VO2 máximo. Ela
nunca havia, no entanto, tentado esse método em uma pessoa centenária.
Mas
Marchand foi receptivo. Com apenas pouco mais 1,50 metro de altura e cerca de
52 quilos, ele conta que não se exercitava regularmente enquanto trabalhava
como motorista de caminhão, jardineiro, bombeiro e lenhador. Mas desde que se aposentou, começou
a andar de bicicleta na maioria dos dias, em pistas cobertas ou nas estradas
perto de sua casa em um subúrbio de Paris.
Quase todos os seus percursos eram feitos em um ritmo de lazer.
Veronique mudou essa rotina. Primeiro, ela e seus colegas
levaram Marchand para o laboratório de desempenho humano da universidade.
Eles testaram seu VO2 máximo, sua frequência cardíaca e outros
aspectos da aptidão cardiorrespiratória. Todos estavam saudáveis e bem acima da
média para uma pessoa de sua idade. Marchand também não tomava nenhum remédio.
Ele então estabeleceu o recorde mundial para pessoas de 100 anos
ou mais, percorrendo 22,5 quilômetros.
Novo treinamento
Depois, Veronique fez com que começasse um novo regime de
treinamento. Sob esse programa, cerca de 80% de seus exercícios semanais
eram feitos em uma intensidade fácil, o equivalente a 12 ou menos em uma escala
de um a 20 em que 20 é o exercício quase insuportavelmente extenuante, segundo
o julgamento de Marchand. Ele não usou um monitor de frequência cardíaca.
Os outros 20% de seus exercícios eram desempenhados em uma
intensidade difícil de 15 ou mais na mesma escala. Para esses, ele foi
instruído a aumentar a frequência de suas pedaladas para entre 70 e 90 voltas
por minuto, comparado com 60 durante as corridas fáceis (um computador de
ciclismo forneceu a informação). As corridas raramente duravam mais de uma
hora.
Marchand seguiu esse programa por dois anos. Então, tentou
melhorar seu próprio recorde mundial de uma hora.
Primeiro, porém, Veronique e seus colegas mediram novamente
todos os marcadores fisiológicos que haviam testado dois anos antes.
Eles descobriram que o VO2 máximo de Marchand
estava cerca de 13% mais alto do que antes, comparável com a capacidade aeróbica de uma
pessoa saudável de 50 anos na média. Ele também melhorou seu poder de pedalada,
aumentando essa medida em quase 40%.
Não foi surpresa, portanto, que seu desempenho no ciclismo
também tenha melhorado consideravelmente. Durante sua tentativa de estabelecer
o recorde mundial, pedalou por pouco mais de 27 quilômetros, cinco a mais do
que havia percorrido durante seu primeiro recorde.
Na época, ele estava com 103 anos.
Esses dados sugerem fortemente que
"podemos melhorar nosso VO2 máximo e nosso desempenho em qualquer
idade", afirma Veronique.
É genético?
Há algumas questões, no entanto. Marchand pode ser sui generis,
com uma constelação de genes vencedora que lhe permite viver além dos 100 anos
sem debilidades e responder muito bem ao treinamento.
Por isso, seu sucesso não pode nos dizer se essa mistura de
80/20 de exercícios fáceis e intensos é necessariamente ideal ou mesmo
aconselhável para o resto das pessoas que estão envelhecendo. (Por favor,
consulte seu médico antes de começar ou mudar sua rotina de exercícios.)
O estilo de vida também faz diferença.
Marchand é "muito otimista e sociável", explica Veronique, "e
tem muitos amigos". Vários estudos sugerem que laços sociais
fortes estão ligados a uma vida mais longa. Sua dieta também é simples,
iogurtes, sopas, queijo, frango e um copo de vinho tinto no jantar.
Mas, para aqueles que esperam envelhecer bem, seu exemplo é
inspirador e, segundo Veronique, ainda está incompleto. Desapontado com o
recorde que estabeleceu no mês passado, ele acredita que pode melhorar a
distância, conta ela, e deve tentar de novo, talvez quando estiver com 106
anos.
Gretchen Reynolds The New York
Times
Bol